Você fala inglês britânico ou americano? Nenhum dos dois
Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de JornalismoPara muitos estudantes de uma língua estrangeira, aprender a falar costuma ser a parte mais difícil. O desenvolvimento da oralidade passa necessariamente pela prática da pronúncia. Quando se trata da língua inglesa, uma dúvida clássica é: você fala inglês britânico ou americano?
Os estudantes da Escola Superior de Línguas da Uninter tiveram, no dia 3 de março de 2022, uma aula magna que abordou o ensino de pronúncia para estudantes brasileiros na perspectiva do inglês como língua franca. O diretor da escola, professor Jeferson Ferro, recebeu como convidada a doutora em linguística Maria Lúcia de Castro Gomes, conhecida por todos como professora Malu, que dedicou grande parte de sua carreira como pesquisadora ao estudo da questão da pronúncia no processo de ensino da língua inglesa.
Jeferson começou lembrando de como era muito comum, no passado, que os professores de inglês buscassem se identificar com uma certa nacionalidade. “Antigamente tinha essa coisa de você precisar ter uma identidade estrangeira para ser professor de língua”, explica. O que leva ao primeiro questionamento sobre o tema: se entendemos o inglês como língua franca, qual padrão de pronúncia devemos seguir?
A professora Malu, então, apresentou um breve histórico das metodologias de ensino de idiomas, já que, segundo ela, “para chegar no inglês como língua franca é preciso ter um breve histórico de como foi o ensino de pronúncia ao longo do tempo”.
O primeiro método que surgiu foi o grammar translation, baseado no ensino da gramática e na tradução. Nessa metodologia a pronúncia não era trabalhada. Depois veio o método direto, em que os estudantes eram convidados a “imitar” um falante nativo. Em seguida surgiu o método audiolingual, baseado na repetição e no condicionamento. Até que nos anos 1970 surge a abordagem comunicativa, em que se procura ensinar a língua de forma contextualizada, integrando as habilidades orais e escritas.
Ao se contextualizar o ensino, passou-se a entender o papel do inglês como língua franca, não mais dependente dos padrões de uso de falantes nativos. No entanto, Malu observa, ainda demorou um tempo para que o ensino de pronúncia mudasse de forma consistente: “Embora esses professores colocassem o ensino de inglês como uma língua franca, eles não incluíram isso no processo de ensino. Hoje, nós estamos vivendo isso, a cada dia os professores estão aceitando que é necessário entender que o inglês é a língua de comunicação internacional e que não se pode pensar mais nessa dicotomia de inglês americano ou britânico”, explica.
O inglês é do mundo
O linguista indiano Braj Bihari Kachru explica que é possível classificar os falantes do inglês em três conjuntos: nativos, falantes de segunda língua, falantes de língua estrangeira. Segundo Malu, “podemos observar que os falantes não nativos superam em muitas vezes os falantes nativos. Isso quer dizer que esse falante nativo não tem mais o poder de definir norma, ele não é dono da sua língua”.
Assim, pode ser pouco produtivo para um estudante se especializar em um determinado sotaque da língua, pois “ele não vai ganhar poder de comunicação, pelo contrário, se ele souber falar só com americanos, ele perde a oportunidade de uma série de comunicações com o resto do mundo”.
O ensino da língua inglesa como uma língua franca está ligado ao desenvolvimento do Lingua Franca Core (LFC), uma pesquisa da linguista britânica Jennifer Jenkins, feita no início deste século, que identificou quais eram as características da pronúncia da língua determinantes para sua inteligibilidade. Segundo a proposta mais recente do LFC, publicada em 2015, não são mais os estudantes estrangeiros que precisam se adaptar a um padrão nativo de pronúncia, mas “o falante nativo deve aprender a se adequar à língua franca”, explica Malu. “O foco é que o aluno seja compreendido, ele vai aprender a falar e ser compreendido”, diz.
Com esse objetivo em mente, é possível explorar os aspectos que são determinantes para a compreensão da língua: “Acentuação, ritmo das frases, entonação. Todos são pontos que também devem ser observados ao trabalhar a pronúncia”, afirma Malu.
Usando exemplos práticos, a palestrante demonstrou por que se deve prestar atenção nestes elementos. “Não é uma regra geral, mas não pronunciar ou incluir uma vogal ou uma consoante faz muita diferença em determinados contextos. Até mesmo mudar a entonação, tudo isso pode gerar um problema de comunicação”, explica.
O status do inglês como língua franca nos força a mudar de atitude com relação ao ensino. “Exigir que o aluno aprenda a falar como um americano ou britânico, com uma noção rígida de pronúncia certa ou errada, é algo que já não cabe mais”, diz a palestrante. “Não tem nada de errado você escolher o padrão de uma nacionalidade para ensinar sonoridade e produção, mas o estudante precisa compreender a variedade e ouvir exemplos de nativos e não nativos, evitando qualquer tipo de preconceito. Se você vai para a Suécia ou faz reuniões com falantes do mundo inteiro, você precisa compreender e ser compreendido por todos”, conclui.
A live completa está disponível no canal o YouTube da Escola Superior de Línguas, que você pode acessar por aqui.
Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Reprodução/https://www.youtube.com/watch?v=71HZyrjx_jI