HOMENAGEM

Vanessa superou a cultura machista e provou ser capaz de conquistas próprias

Rafael Kotovicz sempre foi um pai muito protetor, e por vezes isso se convertia em um machismo inveterado. Aos olhos da filha, Vanessa, soava natural naqueles idos da década de 1970. Como a maioria dos homens à época – e muitos ainda hoje –, Rafael acreditava que os estudos para as mulheres era perda de tempo. Cabia ao homem o papel de provedor da família; à mulher restavam os afazeres da casa. Pois não é que foram justamente os estudos que fizeram de Vanessa uma mulher de sucesso? De machista, o pai passou a orgulhoso.

Nascida em Curitiba, no seio de uma família humilde, Vanessa tinha 8 anos quando foi embora com a família para viver em Guaíra (PR) em 1968, devido a uma oportunidade de o pai trabalhar em uma madeireira. Aos poucos ele foi conquistando espaço dentro da empresa, logo virou sócio e em seguida comprou a outra parte. Nos negócios o pai seguia prosperando, mas ainda faltava algo no que evoluir.

As amigas de Vanessa cuja família tinha melhor poder aquisitivo estudavam em Curitiba. Ela sempre teve muita vontade de fazer o mesmo, mas o único contato que tinha com a cidade grande era nas férias, quando viajava para passar uma semana na casa dos tios. Passar as férias em Curitiba só fazia com que a vontade aumentasse. Observava como as pessoas eram diferentes. Um dos primos começou a estudar para o vestibular, pretendia cursar Medicina. Isso animou Vanessa, mas o pai insistia em dizer que estudo não era necessário para mulheres.

Com pouca instrução escolar, Rafael tinha uma visão limitada sobre educação, considerando até perda de tempo Vanessa estudar, já que era mulher e quando ele deixasse de sustentá-la o futuro marido passaria a fazer isso. Embora reconhecesse nisso uma atitude machista, Vanessa identificava também uma proteção paterna. Era a cultura da época, mas dava para lutar contra o determinismo cultural.

Vanessa insistia no que queria. Pegou a apostila do primo, levou para a casa no interior e passou a ler. No início não entendia muita coisa, é bem verdade. Mas com esforço e apoio dos tios, conseguiu convencer o pai e fez o vestibular para o curso de Administração na Universidade Federal do Paraná (UFPR). De repente, a visão daquele homem machista começou a mudar. Peito estufado, orgulho nos olhos, saiu espalhando pela cidade que a filha tinha sido aprovada na Federal. Ela, que só tinha estudado em escolas públicas do interior, enquanto as amigas que estudaram na capital não tinham passado.

A garota cujo pai fazia planos para um dia se casar e ter um homem para sustentá-la dava a sua primeira prova de que era capaz de conquistar as coisas sozinha. Mas, meio do curso ela se casou se mudou para São Paulo. Trancou o curso na UFPR e passou na capital paulista passou no vestibular da Fundação Armando Alves Penteado (FAAP). Teve uma filha, tudo estava ótimo, menos os negócios, que não estavam indo muito bem. A alternativa foi voltar para Curitiba. Uma vez mais o seu conhecimento foi posto à prova, e uma vez mais ela foi motivo de orgulho para o pai. Passou pela segunda vez no vestibular da Federal. Administração outra vez.

Depois de concluir a graduação, ela e a família voltaram para São Paulo para abrir um novo negócio. Desta vez deu certo. Em São Paulo ela levava exatamente a vida que o pai vaticinava. Cuidava dos filhos e da casa enquanto o marido trabalhava. Foi assim durante alguns anos. A família cresceu, os filhos foram ficando grandinhos, então ela resolveu voltar à ativa e procurar um novo emprego.

Com o currículo parado há alguns anos, enfrentou mais um desafio: se inserir no mercado de trabalho. Fluente em inglês, foi dar aula na escola de idiomas FISK. Depois recebeu um convite para dar aula de inglês em uma faculdade para o curso de Administração. Durante esse período, especializou-se em Metodologia Didática do Ensino. Retornou para Curitiba em 2002 e decidiu seguir a vida acadêmica. Procurou algumas universidades e se deparou com a Facinter, que mais tarde se tornaria o Centro Universitário Internacional Uninter. Foi contratada em 2003.

Muito engajada na profissão e em busca de reconhecimento, deu aula em várias disciplinas. Aos poucos foi aumentando a carga horária e a participar voluntariamente de projetos de extensão. Em 2004, a coordenadora do curso de Administração a encarregou de criar um setor de estágios. Aos poucos, o setor foi ampliado para outros cursos.

O crescimento da instituição era visível. O curso de Administração seguia no mesmo ritmo. Em 2007, o curso já estava com 100 alunos calouros no turno da manhã e 300 no turno da noite. Então Vanessa voltou para ajudar a coordenadora na organização do curso. Foi convidada a assumir a coordenação dos cursos tecnólogos: Gestão Comercial, Marketing, Processos Gerenciais, Gestão Financeira e Comércio Exterior. Era muita coisa para uma pessoa só, então ela dividiu os cursos com o Elton Schneider, atual diretor da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter.

Como as inovações na Uninter não param, os dois pesquisaram juntos e lançaram a modalidade semipresencial para alguns cursos. No final de 2014, os primeiros alunos se formaram e muitos deles abriram as próprias empresas. Investidores iam assistir à apresentação das bancas, interessados nos projetos que eles haviam criado em sala de aula. Enquanto isso, uma equipe pensava em mudanças para a graduação de Administração para atender às novas determinações do Ministério da Educação. A Uninter buscava um profissional flexível e com perfil inovador para assumir o curso e fazer a diferença. Vanessa foi convidada a assumir a coordenação.

Hoje, a professora-doutora Vanessa Estela Kotovicz Rolon é mãe de três filhos, prioriza a educação, integra a comissão de avaliação do Enade e sente o maior orgulho do trabalho de sua equipe. Um orgulho que lembra muito do orgulho do pai, porque ela sabe que cada um ali teve de superar as suas próprias barreiras para chegar aonde chegou.

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Autor: Caroline Paulino – Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Caroline Paulino - Estagiária de Jornalismo

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