Um olhar científico sobre o epistemicídio da cultura hebraica

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

A história humana é marcada por conflitos violentos. O embate entre impérios e nações pela supremacia política e militar faz parte da nossa realidade desde o princípio da civilização, ganhando novos contornos após as revoluções industriais e as novas formas de governo implementadas ao longo da história.

Já no século 20, vivemos os horrores dos regimes totalitários, como o fascismo e o nazismo. Cerca de 6 milhões de judeus foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial, além de civis e prisioneiros soviéticos, poloneses, sérvios e ciganos. No caso do Oriente Médio, os diversos embates em territórios como a Palestina e Israel são o principal foco de violência em uma disputa política e religiosa que perdura há mais de 2.000 anos.

O sociólogo português Boaventura de Souza Santos analisa tais momentos da história para compreender aquilo que chamou de “epistemicídio”. O autor apresenta a ideia de que o conhecimento predominante foi construído com base em um único modelo epistemológico, promovendo a destruição ou inferiorização de outras formas de saber. Em uma espécie de genocídio intelectual e cultural, diversos povos sofreram as consequências de avanços imperialistas ao longo do último milênio, caracterizando uma predominância da cultura ocidental por todo o globo.

Eduardo Camenietzki, aluno do curso de Relações Internacionais da Uninter, buscou explorar o tema de maneira particular durante o último Encontro de Iniciação Cientifica e Fórum Científico (ENFOC), realizado em novembro de 2021. O foco de sua pesquisa (leia aqui) foi o epistemicídio da cultura hebraica, abordando o esquecimento das raízes hebraicas na formação do nosso tempo contemporâneo.

Os hebreus são considerados os primeiros a cultuar um único deus, criando o modelo monoteísta. Além disso, desenvolveram a escrita e literatura bastante cedo. Aos poucos, por causa das guerras e do imperialismo praticado pelos países europeus, tanto a cultura hebraica como outras no Oriente e na África foram sendo prejudicadas, ou até mesmo destruídas, dando lugar ao pensamento ocidental.

“O antissemitismo é uma das formas mais antigas de racismo que se conhece, o estigma milenar sobre os judeus. Ainda que não relacionasse exatamente o conceito de raça, como ficou posteriormente conhecido, misturava religião e cultura de uma forma por vezes tão odiosa que ultrapassava até as formas racistas surgidas do escravismo africano nos séculos 16 e 17 na Europa”, afirma Camenietzki em seu artigo.

A abordagem proposta por Eduardo ajuda a levantar uma questão importante: é possível separar as formas de conhecimento das diversas sociedades humanas em superior e inferior? De forma curta e direta, a resposta é “não”. Caroline Freitas, doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), ressalta a ideia de que, independentemente de qualquer característica particular, todos os seres humanos são racionais e lógicos. De acordo com ela, se nós assumimos que todos os seres humanos são racionais e capazes de produzir pensamento lógico, não temos mais como pensar em hierarquização do conhecimento.

Álvaro Martins Fernandes Junior, doutor em educação e coordenador da mesa de debate em que foi apresentado o trabalho de Camenietzki, afirma que a experiência de participar do evento foi bastante positiva para quem apresentou trabalho. “Ela (a mesa) permite à pessoa apresentar o resultado de seus estudos de maneira materializada, e agora com o acesso à internet, ficam também eternizados na rede mundial de computadores”.

Ele explica ainda que a participação no evento auxilia os alunos no desenvolvimento de seus currículos acadêmicos, indicando uma propensão à pesquisa científica, essencial em processos seletivos do stricto sensu (mestrado e doutorado).

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: FotoRieth/Pixabay


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