Um mundo novamente assombrado pelos demônios?

Autor: Viviane Oliveira de Melo*

Há alguns anos, li o célebre livro de Carl Sagan, “O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela acesa no escuro”. Sagan, que foi notório cientista, físico, biólogo, astrônomo, astrofísico, preocupado com as questões pseudocientíficas busca trazer esclarecimentos para fenômenos sobrenaturais, fantásticos. E conclui que os demônios de nossa sociedade residem em grande parte no senso comum, por elaborações cognitivas simplistas, errôneas, que são incentivadas por determinados grupos.

Em meio às questões surgidas pela pandemia da Covid-19 e suas variantes, vemos um número crescente de pessoas, instruídas, graduadas e pós-graduadas, defendendo ideias não científicas. Como bem nos lembrou Einstein, “Toda nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil. É, no entanto, a coisa mais preciosa que temos”. A ciência não é a detentora absoluta de toda verdade, mas nos direciona para os caminhos que nos aproximam o máximo possível de como se dá o funcionamento do mundo, da multiplicação celular ao surgimento dos buracos negros.

Não faz muito tempo, acreditávamos que as doenças psíquicas tinham como agente causador obsessões e possessões diabólicas, de forma que o tratamento para os doentes era serem queimados em praça pública. Até 1860 era aceita como verdadeira a “teoria da geração espontânea”, sendo definitivamente derrubada naquele ano por Louis Pasteur.

Antes da comprovação de que microrganismos eram causadores de doenças, mulheres e recém-nascidos morriam em decorrência de infecções, por falta da antissepsia das mãos dos médicos. Somente com isolamento e uso da penicilina em 1940 pessoas pararam de morrer em decorrência de infecções simples.

O Brasil sempre foi modelo para o mundo com seu programa de vacinação. Conseguiu inclusive erradicar doenças graves, incluindo a poliomielite, que  hoje pode infelizmente ser reintroduzida em nosso território graças aos movimentos antivacina.

Voltando à questão da Covid-19, um estudo desenvolveu modelo dinâmico compartimental da transmissão do vírus na cidade de Nova Iork, mostrando que o uso da máscara evitou 99.517 infecções e 7.978 mortes (Revista Journal of Urban Health). Estudo do CDC (Centro de Controle de Doenças) dos Estados Unidos, divulgado em 10 de fevereiro de 2021, demonstrou que o uso de máscara projete em 95% dos casos contra a infecção, especialmente quando bem ajustada à face.

Tendo-se amplas evidências de que as máscaras funcionam, seu não uso resulta da falta de civismo, contribuindo para que a infecção continue se alastrando e para que novas variantes surjam. Há quem diga que estamos vendo estudos terem seus dados invalidados. Isto não chega a ser um problema, pois em ciência o método científico deve ser seguido, o que implica na constante revisão e discussão dos dados encontrados. Estudos envolvendo medicações devem verificar a prevalência, serem “duplo cego” e com número alto de participantes, para que se possa ter comprovação estatística com uma determinada população.

É preciso sempre manter uma análise cuidadosa dos dados de um estudo dessa natureza. Mas quando existem evidências concretas, verificáveis, e os dados foram amplamente checados, seus resultados devem ser considerados como uma ocorrência real, a melhor alternativa para decidir o que fazer.

A vacina Coronavac tem indicado ser eficaz para abrandar a infecção da variante brasileira P1 (Butantan, 08 de março de 2021).  Ao se retirar os demônios das fake news, a ciência poderá cumprir o seu papel, indicando que sim, a vacinação é um caminho viável e o mais seguro e que as máscaras são barreiras físicas que impedem a contaminação, uma vez que o vírus se espalha especialmente via respiração, e de um hospedeiro para outro possível.

* Viviane Oliveira de Melo é tutora do curso de Neurociências da Uninter.

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Autor: Viviane Oliveira de Melo*
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Sabine Zierer/Pixabay e arquivo pessoal


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