Um guia brasileiro para comer bem e viver melhor

Autor: Maurício Geronasso - Estagiário de Jornalismo

“Congrats, Brazil: Nation’s revolutionary dietary guidelines based on foods, food patterns, and meals, not nutrients” (Parabéns, Brasil: o revolucionário guia alimentar da nação está baseado em alimentos, padrões alimentares e refeições, e não em nutrientes).

Foi com esta frase que Michael Pollan, renomado jornalista norte-americano, comemorou no Twitter o lançamento do Guia Alimentar Brasileiro, em 2014. Michael é referência internacional em alimentação, com diversos livros publicados tratando do tema comida saudável, que ele chama de comida “de verdade”.

A postagem buscava chamar a atenção para o fato de o guia ter classificado pela primeira vez os alimentos ultraprocessados como vilões da nossa saúde, e alertava as organizações norte-americanas de que elas poderiam ter aprendido com o guia brasileiro. O nosso guia alimentar acabou servindo como referência a outros países como Israel, Canadá e Uruguai.

A primeira versão do guia foi lançada em 2006. Com os novos cenários econômicos e mudanças em nossos estilos de vida, as atualizações do documento têm sido constantes, buscando orientar a busca por uma qualidade de vida melhor, baseada em uma alimentação saudável, rica em nutrientes obtidos através da comida.

“Os guias alimentares trazem as diretrizes nacionais para uma alimentação saudável, trazendo informação direta e indiretamente à população, bem como aos profissionais da saúde em suas condutas sobre alimentação”, explica a professora Carolina Belomo de Souza, nutricionista especialista em saúde pública.

Explicar para a população a diferença entre comida “de verdade” e alimentos ultraprocessados fez com que o guia brasileiro fosse visto como referência, tendo seu primeiro impacto na merenda escolar, orientada pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, que promove uma alimentação mais saudável nas escolas. Entretanto, parte da população ainda resiste em excluir os alimentos ultraprocessados do seu cardápio, visto serem produtos acessíveis e muitas vezes “extremamente saborosos”. Mas isso pode ser um erro grave, já que por trás de muitos desse ditos “alimentos” existem ligações diretas e indiretas com várias doenças, incluindo o câncer.

Para comprovar os malefícios dos alimentos ultraprocessados, o médico inglês Chris Van Tulleken testou em si mesmo o resultado do seu consumo. Durante 30 dias ele manteve uma dieta com 80% dos alimentos consumidos provenientes deste grupo. E o resultado foi que em 4 semanas seu cérebro acabou sendo “reprogramado” para que ele buscasse apenas esse tipo de comida, comprovando que as substâncias contidas nesses alimentos podem ser consideradas viciantes, assim como drogas (leia a matéria completa em inglês aqui).

Ainda existe um forte lobby da indústria alimentícia, que consegue isenção de impostos e outros benefícios, mesmo havendo inúmeros dados comprovando que devemos evitar os alimentos ultraprocessados. As políticas públicas devem estimular a população a buscar por melhores alimentos, mais saudáveis, beneficiando quem realmente produz comida de verdade, como os pequenos agricultores.

“Alimentação é mais que a ingestão de nutrientes, existe toda uma questão social envolvida, passando também por questões culturais. A alimentação é um ato de socialização e tem que estar em sintonia com o seu tempo”, destaca o professor Allison David Silva. Ele lembra existe um mito de que a comida boa é cara. “O próprio guia explica que devemos buscar comprar os produtos diretamente dos produtores, tendo um produto de qualidade, fresco e mais barato”, afirma.

Allison e Carolina destacam que o Brasil é uma potência mundial no agronegócio, com produção de toneladas de alimentos in natura, como frutas, legumes, verduras, e nosso tão consumido feijão com arroz. Segundo nutricionistas, precisamos consumir em uma refeição algo em torno de 20 aminoácidos, sendo que 19 deles podemos encontrar apenas no feijão, e o que falta pode ser encontrado no arroz.

Este exemplo mostra que alimentar-se de forma saudável não é caro. Ao escolhermos comida de verdade, ajudamos a todos os brasileiros. As feiras livres em nosso país são o ponto de venda de pequenos produtores, a quem devemos prestigiar, dando assim continuidade à demanda e consequentemente à queda dos preços, o que é benéfico a todos.

Outro aspecto a se observar é que hoje está ocorrendo um processo de retorno às cozinhas por parte dos brasileiros, muito por causa da pandemia de coronavírus, que manteve as pessoas dentro de casa. O ato de cozinhar no dia a dia, antes exercido majoritariamente pela mulheres, começa a ser realizado também pelos homens com maior frequência. Refeições caseiras são uma atividade familiar que beneficia a rotina de convivência dos lares e promove a comida saudável, destacam os especialistas.

Alisson David Silva e Carolina Belomo de Souza falaram sobre o tema durante o programa Sua Saúde, transmitido no dia 15.jun.2021 pela Rádio Uninter, com a mediação de Barbara Carvalho. Para acompanhar a gravação completa, basta clicar aqui.

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Autor: Maurício Geronasso - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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