MÚSICA E HISTÓRIA

Um “fantasma da guerra” na sala de aula

Todo mundo tem o músico da família, até mesmo os músicos. Com o professor de História Otacílio Vaz não foi diferente.  Além de ter pai e avó músicos, Tatá, como é conhecido, foi muito influenciado pelo tio Sivirino Araújo, que foi maestro da maior big band que o Brasil já teve, a Orchestra Tabajara. Era nas festas da família que o grupo tocava, e em meio à sonoridade e à sincronia de tantos instrumentos estava o pequeno Otacílio.

Criado em João Pessoa, a música entrou na sua vida naturalmente. A princípio, tocava bateria no carnaval, em seguida começou com seus amigos a banda “Fantasmas da Guerra”, como baixista. O grupo estava entre os pioneiros no gênero pop rock da cidade. O nome foi escolhido devido ao momento que se vivia de guerra fria. As letras carregavam muita crítica social e uma boa dose de ironia. “Quando escuto as músicas, percebo que as letras ainda se encaixam hoje em dia e que pouca coisa mudou na questão política e social”, diz o músico.

Em 1987, Tatá migrou para o Rio de Janeiro junto com os amigos para tentar viver de música. Foi na cidade maravilhosa que teve seus melhores momentos com o pop rock, chegando a se apresentar no Circo Voador. Na época, viveu o sexo e o rock and roll. Sobre as drogas sempre foi muito consciente, devido aos problemas do pais com o alcoolismo. “Alguma coisa dentro de mim me falava que eu não podia cruzar aquela linha” afirma o roqueiro.

A banda “Fantasmas da Guerra” sempre teve letras que refletiam a sociedade, mas Tatá conta que isso não o fazia carregar bandeira partidária. Nunca se identificou com nenhuma ideologia, seja ela de esquerda ou de direita.

História musicada

Com muita dificuldade na área de exatas, era o aluno destaque na matéria de História. Escolher a graduação não foi uma decisão difícil. Historiador e mestre em comunicação, Otacílio comenta que a música foi importante para que suas aulas hoje sejam mais completas. Em 15 anos vivendo entre música e trabalhos paralelos, foi adquirindo experiência em produção de áudio, criação de jingles, spot, trilhas e materiais para campanha política, o que o auxiliou no desenvolvimento de suas aulas.

O fato de ter de se apresentar para grandes públicos e lidar com situações imprevistas que acontecem nos shows, o fez encarar o meio universitário de forma tranquila. “A sala de aula é como se fosse um palco em que o professor tem que atuar”, diz o mestre. Tatá aplica seus conhecimentos musicais nas aulas de História que leciona nos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Uninter.

O professor acredita na música como recurso didático, embora essa prática ainda precise ser consolidada no Brasil. Diversos artigos defendem essa ideia. “Defendemos uma proposta metodológica de utilização das músicas nas aulas de história que considere a cultura musical dos alunos, bem como as capacidades cognitivas de professores e alunos para produzir conhecimento histórico a partir da análise de músicas elaboradas e difundidas em diferentes tempos e espaços”, defende em artigo o doutor em Educação Olavo Pereira Soares.

Pai rockeiro, filho… talvez

Max Gael tem 3 meses, e já escuta muito rock and roll. O pai de primeira viagem faz questão de tocar para o filho. “Eu estou indo devagar, colocando as músicas mais leves para não assustar o menino. Mas quando chegar a hora, vou catequizar ele. Se meu filho falar que quer viver de música, vou dizer ‘boa sorte’”, conclui Tatá.

 

 

 

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Autor: Arthur Neves – Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal

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