Transformação digital: a experiência estadunidense em pauta

Autor: Fillipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo

O evento Impacto Digital, organizado pela Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter reuniu profissionais de várias áreas do mercado em quatro encontros que ocorreram dos dias 03.nov.2020 a 06.nov.2020. O último encontro, realizado no dia 06.nov.2020, teve como temática principal a transformação digital em empresas dos Estados Unidos (você pode conferir a live, em inglês, na íntegra aqui.)

O mediador da conversa foi o parceiro da Uninter em programas de educação global de empreendedorismo e inovação no International Entrepreneurship Center, Enio Pinto. Ele recebeu Rob Feldman, CEO e fundador da College Interactive, Scott Sargis, diretor administrativo da IEC Partners, e Felipe Morais, executivo de desenvolvimento de negócios no hospital Mass General Brigham.

Engana-se quem pensa que a transformação digital se dá apenas em atitudes complexas. Os convidados explicaram que ela é algo que ocorre até nas pequenas ações. “Nós sempre pensamos inovação como cientistas malucos no laboratório capturando o zeitgeist (espírito do tempo), e não é assim. Eu entendo inovação como um processo claro, de pequenas etapas que se concretizam”, diz Felipe Morais.

Para Scott Sargis, inovação não está apenas nas ideias disruptivas. “A parte difícil é adaptar a mentalidade da organização e incluir as pessoas nesse processo de transformação. [É preciso] uma visão clara, treinamento, comunicação, muitas reuniões. Estamos vendo muitas áreas diferentes no mundo prosperando por causa da transformação digital. A inovação acontece quando você muda, melhora, faz algo mais eficiente, e isso pode ser de formas pequenas. Pequenos passos no longo prazo trazem grandes melhorias”, diz Scott Sargis.

Enio reforça a importância das pessoas nos processos de transformação digital, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. “Quando se pensa em transformação digital, o que vem à cabeça é a tecnologia. Mas existe um papel humano que é fundamental. Se as pessoas não se adaptarem a ela, existirão problemas para implementar a tecnologia nas empresas”.

Um setor que está em expansão graças à transformação digital é a Educação a Distância. Rob Feldman explicou que aproximadamente 30% dos estudantes estadunidenses estudam a distância. Em 3 anos, a estimativa dele é que mais da metade dos estudantes utilize esse método. E os desafios para o crescimento do setor nos EUA são semelhantes ao Brasil. “Nos EUA, algumas instituições menores estão unindo forças e, em outra frente, as grandes instituições como Harvard, Dartmouth, Princeton, Yale estão adquirindo as menores e incorporando seus programas. Não penso que o antigo ambiente de ensino vá desaparecer, mas o online vai continuar crescendo. Uma das questões é o acesso à internet. Aqui nos EUA, banda larga não é algo completamente acessível, 60% das casas não possuem uma internet de qualidade”, pontua Rob.

Uma saída para superar os problemas de conexão é a otimização de plataformas de ensino focadas no uso exclusivamente por smartphones, esse tipo de ensino é chamado de ‘mobile learning’ (ML) e tende a ser adotado cada vez mais pelas instituições de ensino, por demandar menos qualidade de conexão. “É um mercado que está surgindo e crescendo. Em regiões rurais da África, você tem cursos de graduação oferecidos em um ambiente mobile”, expõe Rob.

O setor hospitalar e de saúde também passa pelos impactos da transformação digital. Felipe Morais enxerga essa realidade de perto. “Ir a uma consulta, cirurgias eletivas, tudo mudou, muitas delas foram canceladas. Os planos de saúde não tinham uma comunicação direta com os pacientes e médicos, isso teve que mudar. Na nossa organização, vimos muitas consultas realizadas remotamente, não é a mesma coisa que a consulta presencial, mas trouxe uma proximidade que antes não existia, entramos na casa das pessoas e vemos seus filhos. É uma conexão diferente”, comenta.

Conexão, essa é uma palavra que sempre foi importante. Rob entende que é possível haver trocas entre profissionais e futuros profissionais mesmo de forma remota. “Com as ferramentas certas é possível fazer networking online. As faculdades estão desenvolvendo ambientes de aprendizagem online cada vez melhores, que permitem reuniões e colaborações diversas. O impacto global dessa transformação será visto com a colaboração simultânea de estudantes do Brasil, França, Itália e Estados Unidos”, exemplifica o convidado.

Scott recomenda duas atitudes para quem quer entrar em qualquer área: a coragem e a curiosidade. “A curiosidade é uma das melhores características que você deve ter para entrar na sociedade da inovação. É sempre se perguntar: por que não? como é? e se? Essas perguntas dão acesso a respostas e perguntas que você nem imaginaria anteriormente. E sobre ser corajoso, não tenha medo de se mostrar, procure pessoas que você acredita que não te atenderiam. Entre nas conversas com a mente aberta. Se você é jovem e inexperiente, não pense que você tem pouco a oferecer, isso não é verdade. O que você tem que oferecer é sua habilidade de aprender”.

Mesmo de áreas distintas, há um consenso entre os palestrantes: a pandemia trouxe uma colaboração maior entre as pessoas. Para eles, o senso de coletividade está em alta. “Esse nível de colaboração é inacreditável e criou um novo padrão de comportamento que vamos observar agora. Pela perspectiva humanística, tenho mais esperança agora que antes da pandemia. Sobre o ponto de vista empreendedor, sempre houve desafios, antes, durante e depois da pandemia haverá desafios. É hora de abraçar esse espírito humano colaborativo”, diz Scott.

Para Rob, o mundo está menor. “Removemos muitas barreiras e começamos a pensar de forma mais coletiva. O que é incrível quando pensamos em termos de educação. Eu trabalho em uma organização que conecta professores e alunos de diferentes países. O que criamos é uma mentalidade mais aberta, juntos aprendemos, educamos, conduzimos a economia”.

O protagonismo dos trabalhadores da linha de frente é o que chamou a atenção de Felipe em sua perspectiva para o futuro. “A pessoa mais importante das empresas não são os CEOs, mas sim os entregadores, os trabalhadores da linha de frente que chegam até as pessoas. É incrível como a perspectiva das pessoas mudou completamente. Nós aprendemos muito com essa experiência e acredito que continuaremos aprendendo no futuro”, finaliza o convidado.

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Autor: Fillipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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