Todo o segredo está no controle da mente
Nosso cérebro é tão complexo que existe uma área de estudo dedicada a entender seu funcionamento e de todo o sistema nervoso, a Neurociência. É possível aplicar os estudos sobre o cérebro em vários contextos. Na área comercial e de gestão de pessoas, um campo pouco conhecido ainda, mas que vem ganhando destaque, é a Neurogestão Organizacional.
O coordenador de Pós Graduação da Uninter, professor Fábio Eduardo da Silva, apresentou uma palestra sobre o assunto no mês de outubro durante o ciclo de palestras da Associação das Empresas da Cidade Industrial de Curitiba (AECIC), em parceria com o programa Uninterativa. A programação ocorre entre os meses de setembro e novembro e busca compartilhar conhecimentos sobre gestão com os parceiros da instituição.
Esta é uma área nova e pode ser abordada de várias formas. A abordagem usada pelo professor para a palestra apresenta algumas práticas e conceitos, como a inteligência emocional e o mindfulness. Ele explica o quanto a neurociência pode contribuir para que as pessoas se voltem para si mesmas, e assim possam interagir com as emoções dos outros.
“A neurociência é um tipo de olhar a partir do qual a pessoa é capaz de observar e entender o seu próprio funcionamento. Um gestor, um líder, precisa antes de tudo ter autoconhecimento para então aplicar suas teorias à prática. Para lidar com o outro é preciso conhecer suas próprias emoções. O instrumento de interação com as pessoas não é o conhecimento que eu tenho, mas a forma como eu o organizo, como eu utilizo para interagir com os outros”, esclarece Fábio.
Inteligência Emocional, Cognição e Mindfulness
Todo discurso está carregado de emoções e entonações, agudos e graves, linguagem corporal e expressões que vão ditar o tom da conversa. Fábio diz que este é o colorido de uma interlocução. Assim como nossas intenções determinam de que forma será feito o discurso, esse conteúdo será recebido de formas diferentes por cada pessoa. “A emoção é a cola que permite nos relacionarmos uns com os outros”.
“Inteligência Emocional é perceber que eu sou emoção, muito mais do que cognição. Essa emoção não é totalmente consciente ou perceptível. O cérebro pode ser treinado a perceber as nuances de comportamento do outro, através da resposta, tom de voz. Isso é capaz de permitir uma leitura emocional. A emoção pode ainda afetar quem está recebendo a mensagem”, relata.
A emoção é a base do julgamento. Achar algo legal, bom, ruim, triste. Uma série de adjetivos que estamos acostumados a utilizar para definir pessoas, lugares, situações. Mais uma vez, é a emoção que toma a frente e não a racionalidade. “Estamos julgando a cada instante, cada segundo. Cada estímulo sensorial que nos chega está sendo julgado emocionalmente, sem perceber”, elucida.
Isso muda tudo. A percepção do todo à nossa volta, da realidade. A forma como memorizamos momentos e até mesmo o aprendizado que adquirimos. A emoção determina aquilo que fazemos ou que não nos sentimos motivados a fazer.
Por outro lado, temos um mecanismo ligado à nossa cognição, o intérprete cerebral. Este nada mais é do que o nosso pensamento. Estudos indicam que podemos ter mais de 70 mil pensamentos por dia. Dá para imaginar porque cerca de 75% da população mundial adulta sofre com dores de cabeça.
Você não precisa fazer nenhum esforço para que seu cérebro organize as informações que recebe. Toda essa enxurrada de pensamentos é interpretada, separada e decodificada automaticamente. “Para o nosso cérebro, é muito importante que as coisas tenham sentido. Para isso, é preciso ter essa fábrica de sentido, que é o pensamento”, conta o professor.
“Isso é bom, saudável e necessário, mas também é permeado por muita ilusão. A gente pode pensar mais do que precisaria, e principalmente fazer ‘viagens’ que não têm nada a ver com o que está acontecendo. São construções muito mais nossas do que da realidade em si”, alerta. Ele ainda fala sobre a nossa tendência ao pessimismo e à leitura mais negativa da realidade.
O pensamento é algo tão autônomo que somos incapazes de parar de pensar. Mas existe uma prática milenar chamada mindfulness, que funciona como um botão para o cérebro, capaz de reduzir o fluxo de pensamentos. Fábio assegura a utilidade da técnica para o contexto profissional. “A ideia é que, quanto mais pensamentos, menos qualidade. Menos pensamentos, mais foco, clareza e autocontrole. ”
Uma tendência criativa
Na área da educação isto também vem se mostrando útil. Para exemplificar durante as palestras que ministra, ele também aproveita para indicar os cursos da Uninter que possuem uma grade com disciplinas voltadas para essas temáticas, como o Neurogestão Organizacional: Neurociência e Gestão de Empresa.
“Durante a palestra eu abordo esses temas e falo sobre as empresas que estão utilizando essas técnicas. Um exemplo é a Google, a marca mais valiosa do mundo, que tem um programa baseado em neurociência, inteligência emocional e mindfulness para atender seus funcionários. Ao fazer isso ela tem ganhos surpreendentes, reduz o estresse dos colaboradores e aumenta a concentração, a capacidade criativa e até melhora a saúde”, ele garante.
Essa tendência vem chegando aos poucos, mas em meio a uma vida quase que totalmente conectada em nossa era da informação, as pessoas querem estar mais voltadas para si mesmas e encontrar maneiras de se desligar um pouco das tecnologias que tomam tanto do nosso tempo. O professor esclarece que a hiperconectividade nos transforma em pessoas ansiosas, dispersas e automáticas, o que aumenta nossos conflitos internos.
A qualidade de vida de quem opta por se desconectar e utilizar técnicas de controle dos pensamentos e emoções é incrivelmente maior. “Isso não é um modismo, é uma tendência inevitável. Em particular, por estar muito bem embasado em neurociência. As pesquisas que são feitas na área da inteligência emocional e do mindfulness comprovam que o cérebro se modifica através das práticas, tendo então uma leitura e formas de viver diferentes”, completa.
Autor: Jaqueline Deina - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König / Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal