Teremos paz ao deixar os nossos filhos na escola?
Autor: Relly Amaral (*)Deixar o filho na escola não é mais a mesma coisa. Não agora, após os acontecimentos dos ataques de março e abril de 2023. O Brasil, antes país conhecido por ser amigável, pacífico e solidário, recentemente estampa manchetes sujas de sangue inocente em veículos de mídia nacional e internacional, com os atentados nas escolas espalhadas por nosso território.
Tal fato, antes tão frequente em países como os Estados Unidos, passou a também fazer parte da realidade brasileira, nos últimos anos. Foram ao menos 16 casos de 2002 até hoje, sendo que dez deles ocorreram nos últimos 12 meses. O mais impressionante é que dois casos recentes, além de extremamente violentos (com uso de facas e outros objetos cortantes, que exigem uma ação corporal intensa e mais sádica do que o uso de arma de fogo), tiveram apenas nove dias de diferença entre um ato e outro. O primeiro ocorreu em São Paulo, onde um aluno de 13 anos atacou dois alunos e quatro professoras, matando uma delas. O outro, em Blumenau (SC), onde um homem de 25 anos pulou o muro da creche para atacar e matar crianças pequenas com o uso de uma faca e uma machadinha. Somente de 2011 para cá são 39 mortes, até o momento.
Em reportagens sobre as possíveis razões que estão levando a estes ataques, especialistas apontam cinco fatores culturais e sociais que podem estar relacionados ao aumento de tais fenômenos de violência gratuita: o avanço da intolerância e valorização da cultura da violência; o crescimento e radicalização de grupos de ódio na internet e o acesso a tais conteúdos por indivíduos cada vez mais jovens; o distanciamento nas relações e enfraquecimento do afeto; a piora da saúde mental da sociedade, principalmente após a pandemia; o efeito contágio, que é o crescimento de atos violentos motivados por outros crimes semelhantes, após intensa divulgação midiática.
É imprescindível a tomada de providências enquanto sociedade: da imprensa, dos órgãos gestores públicos nas áreas de educação e segurança pública, assim como das instituições de ensino privadas. Tais medidas devem abarcar ações que vão além da simples presença ostensiva de guardas ou policiais: é preciso pensar e implementar planos de contingência em caso de atentados, como medidas emergenciais com alarmes ou botões de pânico, além de mudanças e adaptações arquitetônicas de saída e entrada (portas e portões mais seguros, pontos de fuga rápida ou saídas de emergência). Também pontuo aqui a necessidade de treinamento, com cursos e palestras de orientação ao corpo docente, discente, pais e responsáveis, na identificação de atitudes suspeitas e estratégias de enfretamento à violência.
Para além do enfrentamento das possíveis razões que motivam tal barbárie, não podemos agir enquanto comunidade escolar e gestores como era há 20 ou 30 anos. Não vivemos mais naquela sociedade e o tempo urge. Vidas tem se perdido e crianças, adolescentes, professoras morreram. Será que essas mortes já não serviram como um alerta suficiente?
Sugiro que cada um, enquanto eleitor e cidadão, cobre dos candidatos nos quais votou, principalmente do poder executivo, atitudes e providências imediatas que tragam maior segurança às instituições de ensino e comunidade escolar. Precisamos ter paz ao deixar nossos filhos na escola.
* Relly Amaral Ribeiro é assistente social, mestre em Serviço Social e Política Social pela Universidade Estadual de Londrina, professora e tutora dos cursos de pós-graduação em Serviço Social da Uninter.
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