Tecnologias digitais impõem novos desafios aos professores

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

A pandemia da Covid-19 fez a área da educação repensar muitas necessidades que já existiam. País de extensão continental e grande desnível social, o Brasil ainda é excludente, mesmo com políticas públicas que deveriam garantir o ensino para todos. Isso porque crianças e jovens vivem realidades distintas e não possuem as mesmas condições de acesso.

A diretora da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, Dinamara Machado, falou sobre Educação no período da Covid-19 no evento Os desafios da educação com o avanço da tecnologia digital, realizado pelo polo de apoio presencial (PAP) de Pelotas (RS), no dia 10.mar.2021. Além dela, participaram do debate a orientadora educacional, Letícia Borges, a coordenadora pedagógica, Mirian Von Ahn, e o graduado em Gestão Pública e estudante do curso de Filosofia Roger dos Anjos.

Dinamara acredita que a educação não deve ser pensada apenas para este momento pandêmico, mas para qualquer situação. Ela cita o programa educacional da Finlândia como um exemplo a ser seguido. Ela conta que na década de 1970, lá já era obrigatório o mestrado para lecionar. Outro ponto alto de países com os índices avançados seria o ensino efetivo do empreendedorismo nas escolas, assim como a língua universal, o inglês, e a premissa da “educação para ser um ser humano melhor”.

Uma reflexão colocada pela diretora, e que acha fundamental em relação ao uso da tecnologia digital para o ensino, é pensar se os profissionais mudaram as metodologias ou se estão apenas reproduzindo a sala de aula. “Nós precisamos sair de uma realidade de um professor que fala, nós precisamos de um professor que coloca os alunos do lado e diz ‘eu vou construir a aula junto com você, nós vamos construir a aula juntos’. Não é mais um aluno passivo, em uma cadeira ou atrás de uma tela de computador”, complementa.

De acordo com a professora, além de conhecer outras realidades e lutar para que as gerações do presente e do futuro tenham políticas públicas melhores, os professores precisam se aproximar, aprender sobre softwares de interação, desenvolver a empatia para saber lidar e equilibrar a “balança da emoção e o estabelecimento das sinapses cognitivas”. A escola, então, precisa ser inovadora. E os estudantes precisam se manter em constante aprendizado.

“Que esse aluno que sai do ensino superior, do ensino médio, saiba constantemente que o que ele aprendeu desaparece em pouco tempo. Hoje, a transformação do conhecimento é muito rápida. E não é só fazendo uma pós-graduação ou um mestrado, um doutorado. É constantemente estar lendo, estar conectado com as ideias que estão acontecendo no mundo”, afirma.

Atualmente, as crianças aprendem a usar aparelhos eletrônicos de forma muito rápida, as pessoas estão o tempo todo conectadas de alguma forma, seja por computadores, tablets ou smartphones. O que ainda não têm domínio é sobre como utilizá-los para a aprendizagem. A sociedade da liquidez, do filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, explica este momento. As crianças e jovens querem consumir tudo muito rápido e, caso não agrade, trocam em velocidade ainda maior. Se torna difícil segurar ou absorver as informações com a aceleração da produção e disseminação. Elas também perdem a validade muito rapidamente.

“Nós não podemos continuar vendendo esse preceito da educação com liquidez. Esse menino ou essa menina vai ter frustração na vida. Por mais que eles queiram ser muito rápidos, eles têm que aprender a parar também. ‘Ah, mas ele não quer’. Se ele não quer hoje, ele é o cara que depois vai para a psicóloga, não para em nenhum emprego, tem ‘trezentos’ problemas, porque ele quer tudo do jeito dele”, salienta Dinamara.

Segundo a professora, a educação 5.0 que está sendo construída vem para unir aplicabilidade da tecnologia e ao mesmo tempo o bem-estar do indivíduo. E, para isso, “tem que ser a mescla do digital, do analógico e do coração”. O ensino deve ser pensado para todos, independente da realidade em que esteja. Ela lembra que a tecnologia é apenas um meio, assim como o livro e o giz também já foram avanços tecnológicos. Portanto, “nós precisamos pensar em uma escola que não é só de tecnologia”.

Dinamara aconselha que os profissionais da área encontrem o próprio caminho, um projeto, e estude, pesquise e lute por ele. Ela ressalta a importância de um currículo bem planejado, com estratégias de aproximação e inclusão, já que os estudantes sentem falta da convivência e precisam se manter presentes para um aprendizado efetivo. Para isso, precisam ter resiliência e estar preparados para constantes mudanças.

“Por exemplo, eu sei que no curso de Pedagogia presencial em Curitiba, menos de 50% dos alunos têm internet banda larga. Eu sei que eu tenho três alunas que não têm internet, e essas três não têm computadores em casa. Eu tenho que trabalhar com essas alunas mesmo em tempo de pandemia, com outras tecnologias”, explica.

A coordenadora Mirian ressalta a importância dos orientadores pedagógicos neste período do ensino remoto. “A professora da minha filha teve uma tática que eu achei muito interessante. Ela fazia, com os alunos que não conseguiam assistir a aula naquele horário ao vivo, uma chamada de vídeo para não perder o vínculo. E a gente faz esse trabalho com os nossos alunos. Essa questão do vínculo, o quanto é importante a gente estar junto, a gente estar em contato. E acho que todo esse processo, tanto na infância quanto nas séries iniciais, na universidade ou no ensino médio, teve que ir se reinventando e se remodelando. E o profissional também tendo que se readaptar”, conclui.

Roger lembra que a pandemia também evidenciou a importância e valor dos professores, mas que ainda há um longo caminho até que se chegue ao ideal. “Nós temos que nos sentir valorizados e buscar ser diferente, buscar melhorias. A gente sabe que nas políticas públicas não somos prioridade, infelizmente. Falta muito ainda para melhorar, muitos investimentos na formação, em tecnologia, pessoas qualificadas que dê o suporte técnico”, finaliza.

Em 2020, Dinamara organizou o livro Educação em tempos de COVID19: reflexões e narrativas de pais e professores, composto por 22 artigos de profissionais da área. A obra debate a realidade vivida por pais e professores em meio a pandemia, e pode ser acessada gratuitamente neste link.

O evento contou com mais dois dias de transmissões. O primeiro, em 9.mar.2021, com a participação de José Irigon, doutorando na área de redes tolerantes a rompimentos na Universidade Técnica de Dresden (Alemanha). E para encerrar, no dia 11.mar.2021, o debate com Rafael Amaral, pesquisador e investigador do Centro de Investigação do Século XX da Universidade de Coimbra (Portugal).

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Vanessa Garcia/Pexels e reprodução


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