Taxa de juros, inflação e gastos do governo: quais as relações e incoerências?

Autor: Pollyanna Rodrigues Gondin*

Na última semana, o Comitê de Política Monetária (COPOM), decidiu manter a taxa de juros SELIC em 2% ao ano. Essa decisão, interrompeu os cortes dos juros que vem ocorrendo desde julho de 2019. Mas o que isso significa e quais seus impactos na economia? A SELIC é a taxa básica de juros na nossa economia, e assim, serve de parâmetro para as outras taxas praticadas no mercado. Para além disso, é utilizada no mercado interbancário para financiamento de operações diárias, lastreadas em títulos públicos federais.

Essa taxa de juros funciona como um instrumento de política monetária. No que diz respeito à taxa de juros, se o objetivo for aquecer a economia, diminui-se essa taxa de modo a estimular o consumo. Por outro lado, se houver um descontrole inflacionário, ou seja, um aumento generalizado dos preços, o governo poderá aumentar a SELIC para desestimular o consumo e assim, controlar a elevação dos preços.

E o que vivemos neste momento? Qual o atual cenário da conjuntura brasileira?

Vivemos um momento de retração econômica, com projeções de queda acentuada no Produto Interno Bruto (PIB) e uma inflação de 2,44%, ou seja, abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central, de 4%. Entretanto, nos últimos meses, estamos acompanhando a alta no preço de produtos, como por exemplo, arroz, óleo de soja, feijão, leite longa vida. Esse aumento, não pode, a priori, ser considerado como inflação, mas já liga o alerta para a perda do poder de compra do trabalhador.

Então, seria a hora de o governo aumentar a taxa de juros para frear o consumo, já que existe uma preocupação com esse aumento dos preços? Podemos afirmar que não. Primeiramente, como afirmado anteriormente, vivemos um período de retração econômica, e assim, é necessário estimular a economia. Segundo, o aumento do preço dos produtos, está, também, relacionada com a desvalorização da nossa moeda, que estimula o produtor a exportar o que está se produzindo e, para além disso, encarece nossas importações.

Dito isso, é necessário refletir sobre o real papel do governo e o que pode ser feito, para que de fato, uma baixa taxa de juros gere os efeitos positivos que se esperam. Manter a taxa de juros básica da nossa economia em patamares muito baixos, mas ao mesmo tempo não se utilizar de outros instrumentos para realizar uma política expansionista de nada adianta. Assim, ao invés de cortar gastos, para manter-se dentro do teto dos gastos estabelecidos, propiciar auxílio para a sociedade seria uma das formas de estimular a economia brasileira. Entretanto, o que acompanhamos são passos no sentido contrário, com argumentos e retóricas que não convencem devido ao atual cenário de retração econômica em que a saúde e vida da população deveriam ser colocados como prioridade.

* Pollyanna Rodrigues Gondin é economista e professora da Uninter.

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Autor: Pollyanna Rodrigues Gondin*


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