ENSINO E TECNOLOGIA

Tá liberado o celular em sala de aula

Os avanços tecnológicos se impõem sobre nossas vidas de tal forma que não nos é possível ignorá-los. Não há como voltar no tempo e viver sem um celular, não é mesmo? O acesso às tecnologias digitais e ao conteúdo online fez com que os estudantes se tornassem mais avessos aos processos tradicionais de ensino. Analisando este cenário, um professor de filosofia da rede estadual do Paraná, Ody Marcos Churkin, procurou uma maneira de chamar a atenção dos adolescentes para suas aulas e acabou desenvolvendo um aplicativo.

O produto foi elaborado no Mestrado Profissional em Educação e Novas Tecnologias da Uninter, e a dissertação de Ody teve como título “Byod da Unesco: Mobile Learning no Ensino e na Aprendizagem de Filosofia”, com orientação do professor João Augusto Mattar Neto, defendida em 5 de abril, no campus Divina Providência, em Curitiba.

O aplicativo é baseado no conceito de BYOD: Bring Your Own Device, que em português quer dizer “traga seu próprio dispositivo”. Esse conceito já vem sendo usado por muitas empresas multinacionais, onde os funcionários usam seus próprios dispositivos para ter acesso à rede de trabalho.

Ody é professor da rede estadual há 15 anos e sabe quais são os desafios de ministrar uma aula de filosofia no ensino público. A escola onde leciona fica na região metropolitana de Curitiba, em uma área afastada do centro da cidade, com um contexto de renda familiar baixa. Porém, ele observou que todos seus alunos tinham celulares, e foi aí que nasceu a ideia do projeto.

Segundo Ody, “A tecnologia não veio para substituir o ser humano, há algo que a tecnologia não faz, intuir. O bom professor intui, isso nenhuma máquina vai fazer isso. Os alunos são a fonte, tem que saber como extrair”.

Seu programa funciona ligado a um outro aplicativo, o Socrative, que é um aplicativo de quizzes relacionados à filosofia, de fácil acesso a todos. O professor leva os alunos ao laboratório da escola e realiza aulas com diferentes abordagens, como uma história de mitologia grega ou filmes. Ao final, divide a turma em grupos, aplica testes a partir dos celulares dos próprios estudantes e inclusive faz os alunos criarem novos questionários, a partir do tema da aula, no aplicativo.

Ody defende que o casamento entre educação e tecnologia é imprescindível na sociedade atual. Em 2014 a Unesco divulgou o documento “O futuro da aprendizagem móvel: implicações para planejadores e gestores de políticas”, incentivando o uso de ferramentas digitais pelos professores em sala de aula. Isso traz inovação nos processos de ensino aprendizagem e, também, torna o aluno protagonista da produção de conhecimento.

Uma das professoras que fez parte da banca de mestrado de Ody, Patrícia Margarida Farias Coelho, da Universidade Metodista de São Paulo, entende que cada vez mais o uso de tecnologias deve ser difundido na formação dos professores na academia.

“As pessoas são contra o uso da tecnologia na educação porque elas ainda não entenderam como trabalhar. A gente não pode ser contra, se estamos trazendo a proposta pedagógica. Usar o celular pelo celular, eu também acho que não seria viável. Mas trazê-lo com uma proposta pedagógica, isso transforma a aula”, diz a professora.

O “Byod by Ody” foi o resultado de um projeto que tem como objetivo ir além de simplesmente usar a tecnologia no ensino, mas também colocar o ser humano como ponto principal do processo. O professor diz que usa 4 “en-em”: ensinar, encantar, encenar e empreender. A sala de aula se torna um ambiente híbrido com as tecnologias digitais. Pode-se levar a sala de aula para o campo, o shopping, o hotel – isto é mobilidade.

Segundo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), de 2017, dos 20 países com maior número de usuários de internet o Brasil fica em 4º lugar,  com aproximadamente 120 milhões de pessoas conectadas. Por isso justifica-se o uso da tecnologia em diversas áreas, inclusive na educação. Ody está divulgando seu trabalho através de projetos de educação e tecnologia. Ele foi aprovado para fazer parte do programa Ler e Pensar, da Gazeta do Povo, na edição de 2019.

Ainda neste ano, Ody irá participar do TDC Inspire, evento promovido por diversas empresas de tecnologia que promove o incentivo de jovens estudantes do 3º ano do ensino médio de escolas públicas através de workshops para a área de tecnologia, despertando a aproximação com o cenário nacional e a resolução de problemas reais, usando a revolução digital.

Após as apresentações, os alunos são divididos em grupos e o desafio deles é identificar um problema real na comunidade ou no país onde vivem – a edição deste ano será em Belo Horizonte (MG). Depois disso, os alunos irão gerar uma solução por meio de ferramentas digitais e as empresas presentes escolherão os melhores projetos para patrocinar. Com iniciativas inovadoras na educação, jovens brasileiros estão aprendendo a mudar o mundo.

 

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Autor: Juliane Lima - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König / Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Juliane Lima - Estagiária de Jornalismo

2 thoughts on “Tá liberado o celular em sala de aula

  1. Olá, grato pela maravilhosa cobertura jornalística. O texto fez saltar-me os olhos, holístico, complexo e sistêmico, uma produção do século do hiperlink (hipertexto). PARABÉNS pela edição aos cuidados de Mauri König e pela revisão textual de Jeferson Ferro.
    Pode-se dizer que a Repórter Juliane Lime possui um talento nato, o jornalismo está em sua essência. Vislumbrei a profissional fazendo inúmeras conexões de forma extremamente discreta e eficiente a abrir inúmeras fontes e contatos. Não perdeu oportunidades.
    Esta matéria proporcionou a minha pesquisa e ao meu trabalho visibilidade e empoderamento, assim como para com o programa de mestrado da UNINTER e todos os seus cursos de graduação e pós graduação. Compreendeu-se que a exigência de se apresentar um produto como uma das demandas do programa de mestrado profissional demonstra que a instituição UNINTER, está alinhada com as propostas do século XXI e o modelo que se engendra, assim como o corpo docente, demonstrou uma sólida formação, holística e complexa compromissada com os novos temas e com a inovação, alertam para que na produção de um novo produto, para que algo que se diz novo ou inovador não confunda-se em por novos rótulos em conhecimentos antigos e superados. A Instituição conduziu e priorizou uma pesquisa que seja oportuna a demonstrar compreensão da nova era e disponibilizou metodologia para trabalhar com o cenário vigente, a motivar seus orientandos ir além do conceito, da sala de aula e da própria criação de um produto.Dentro deste contexto o programa de mestrado da UNINTER demonstrou que os estudantes do século XXI não aceitam mais a ideia de serem meros expectadores, entende-se que fazem parte da produção do conhecimento, são ativos e protagonistas, não apenas receptores, gravadores e repetidores de conteúdos. Enfatizou-se que na produção de um produto, o novo modelo ou paradigma favorece o cooperativismo, iniciativa, participação, construção coletiva, a totalidade em comunhão com cidadania e diversidade.

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