Super-heróis de bandeiras

Autor: Carlos Alberto Holdefer*

Todos nós sabemos que todo atleta de nível olímpico é tratado como super-herói. O que esses humanos em vestes de heróis realmente sentem para enfrentar as “batalhas” das competições olímpicas é um grande desafio para os terapeutas, técnicos, familiares e torcedores. São privações, treinos exaustivos, lesões, decepções com resultados, expectativas, entre outros.

A pandemia escancarou essa fragilidade emocional quando afastou todos os atletas dos centros de treinamento, em ano olímpico. Foram muitas “partidas” de improvisos, incertezas, incredulidades e solidão. Muitos atletas pensaram em desistir, outros foram prejudicados e não alcançaram índices para a tão esperada participação no maior evento esportivo do planeta.

Os lagos viraram piscina, a varanda foi transformada em tatame, a sala de casa em academia. A escassez de recursos financeiros, nutricionais, precariedade de condições para treinamento e mentes despreparadas, geram riscos elevados de lesões, pois o corpo preparado sem os estímulos físicos e mentais necessários perde a capacidade de performance.

Tóquio 2020 despertou uma onda de estranheza mental. Esse tema veio à tona com a mais famosa das ginastas da atualidade, que não suportou a pressão por resultados e desistiu de participar das finais em vários aparelhos. A cobrança de imprensa, comissão técnica, gatilhos emocionais familiares e eventos pessoais traumáticos, deram um “nó” na cabeça de Simone Biles, a grande menina de 1,42m, 24 anos de idade e sensação da ginástica artística mundial.

O impacto emocional gerado pela pandemia do Covid-19 foi tanto que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) criou uma cartilha com dicas para controle de estresse e ansiedade em momentos de competições importantes. Essa cartilha é direcionada aos atletas e comissão técnica e reflete a importância do diálogo, ligação e interação entre as equipes, mesmo que de forma virtual. Se está com problemas, fale. Essa é a essência da cartilha.

Claro que o mundo se encantou com uma fada que desliza numa prancha de madeira em quatro rodas, e que no alto de seus longos 13 anos, tirou onda e prateou o seu peito logo na estreia da modalidade de skate street em olimpíadas. Mas porque citar Rayssa Leal? Ela é a prova de que a pressão, se existiu, não foi prejudicial ou foi imperceptível pela característica de leveza com que encarou seus “rolês” nas pistas.

Como o meio esportivo vai superar as decepções, curar as “feridas” das derrotas e manter atletas de alto nível emocionalmente capazes de competir, é a grande incógnita do momento. Nossos heróis esportivos tiveram suas capas deterioradas por um inimigo invisível, que levou muito mais do que sonhos… levou centenas de milhares de vidas e é improvável que um desses atletas não tenha vivido o luto por algum dos seus.

Exemplos de superação não faltam, mas as memórias desses tempos difíceis de pandemia permanecerão marcadas no inconsciente desses heróis do Olimpo, ainda que novas dores apareçam.

* Carlos Alberto Holdefer é especialista em Gestão de Projetos em Eventos e professor da área de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física da Uninter.

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Autor: Carlos Alberto Holdefer*
Créditos do Fotógrafo: Miriam Jeske/COB


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