“Só o lugar onde estou não me basta. Eu tenho curiosidade de olhar o mundo”

Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de jornalismo

Jogar-se no mundo e conhecer vários países parece um sonho de adolescente. Mas, esse desejo se tornou realidade para Rafaela Brito, aluna dos cursos de Teologia Doutrina Católica e da Ciência Política da Uninter. Aos 39 anos, ela já passou por vários países carregando aprendizados culturais, pessoais e acadêmicos.

Em uma de suas buscas de experiências, ela se inscreveu para o primeiro grupo de Embaixadores Globais Uninter em 2021, uma iniciativa do Uninter Global Hub. A oportunidade é exclusiva para alunos da Uninter e oferece 12 meses de conversação em inglês, além de mentoria personalizada com um executivo dos Estados Unidos.

Em um primeiro momento, a proposta não chamou muito sua atenção. “Acho que foi mais a persistência dos e-mails e a menção de uma mentoria me deixou curiosa”, comenta Rafaela. O currículo do mentor e o fato de ser a primeira vez que algo assim estava sendo feito na instituição, também contribuíram para sua decisão.

“Eu sempre gostei do processo de construção, não gosto de pegar nada pronto. Então quando vi que seria o primeiro grupo a passar por essa experiência e que outras pessoas de lugares diferentes estariam ali todas juntas, tive vontade de tentar”, comenta Rafaela.

A aluna descreve essa vivência como “muito boa e gratificante”, devido a ter sido um dos 20 selecionados entre mais de 3.000 inscritos. Além da alegria de ser a única representando seu curso, para Rafaela “o mais legal foi que todos nós estávamos representando regiões diferentes do Brasil”.

“Olhando para trás, a mentoria atrelada à pandemia, me ajudou a tomar rumo dos meus talentos e colocar eles de uma forma mais ordenada para o caminho que quero seguir”, conta. Sempre acostumada a ser a mais nova dos projetos que participava, dessa vez ela teve a experiência de ser a mais velha entre os colegas. Assim, pode também vê-los passando por situações que ela própria já tinha vivenciado. “Me ajudou a me tornar uma pessoa mais empática. Todo esse processo contribuiu para eu perceber que as diferenças são importantes e que, graças a ela, nós temos momentos de troca. Podemos construir uma sociedade melhor”, avalia.

Desejo de conhecer o mundo

Nascida em Belém do Pará, Rafaela conta que, ainda criança, conheceu alguns lugares por conta das viagens com seu pai, Paulo Brito, que é capitão de longo curso da Marinha Mercante e comandava embarcações em viagens de grandes distâncias. Nos passeios, sua mãe e seu irmão, Goretti e Tiago Brito, também faziam companhia, mas foi na pequena Rafa que o desejo desabrochou. “Sempre gostei de estudar idiomas e acho que isso juntou com o fato de eu gostar de estar em lugares onde as pessoas são diferentes de mim, pensam e agem diferente. Ficar parada no mesmo lugar não faz parte da minha cultura”, complementa.

Rafaela fez sua primeira graduação em Direito. E já no seu último ano do curso, enquanto os colegas pensavam na formatura, em exercer a profissão e nas provas a realizar, ela cultivava outros anseios. “Eu pensava, quero viajar e foi o que eu fiz”. Em 2004, embarcou para a Alemanha depois de receber uma bolsa para estudar Literatura, cultura e língua alemã.

As experiências não pararam por aí. Rafaela esticou sua aventura para a Itália, onde teve a vivência de Fraternidade Universal em uma cidadezinha na região da Toscana. “Foi uma experiência cristã, morei com pessoas do mundo todo lá e pude conhecer outras religiões, isso alargou meu coração e meu conhecimento”, conta.

E a quase dois mil quilômetros dali, Rafa colocou mais um país em seu álbum de recordações, a Irlanda. Hospedada na casa de uma família local, seu tempo no país foi dedicado a um curso intensivo avançado de inglês. No entanto, como já diz o ditado o bom filho, à casa torna, e Rafaela não demorou em voltar ao Brasil para se graduar e começar a alavancar profissionalmente.

Brasília era o destino da vez, onde se preparou para o concurso de admissão à carreira diplomática, “como foi a primeira vez que fiz um concurso e não passei, eu coloquei para mim que não iria apenas estudar. Então comecei a advogar em direito ambiental e internacional, que já eram áreas em que tinha interesse desde a minha formação e especialização”, conta a estudante. Não demorou até que chamasse a atenção de um escritório internacionalista para trabalhar como coordenadora jurídica em Fortaleza.

Somando suas experiências pessoais com o que aprendeu nesse período como coordenadora jurídica, Rafaela foi em busca de abrir seu próprio escritório. “Eu me juntei com mais dois sócios e, com isso, vieram mais oportunidades pra mim, como a de trabalhar no setor legislativo”. Isso tudo sempre mantendo os estudos em dia. Em 2019, concluiu seu mestrado em Buenos Aires na Argentina na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (UCES) em Estudos Ambientais.

“Durante a pandemia, eu iniciei meu segundo mestrado em poder legislativo na Câmara dos Deputados e, paralelamente, fiz todas as disciplinas do doutorado em Buenos Aires. Eu ia até lá nas minhas férias de janeiro e julho para assistir as aulas e colocar em dia minhas pendências. Agora só estou no aguardo o resultado do mestrado para poder começar, de fato, o doutorado”, contou Rafaela.

A aluna conta que já está em seu último ano de Teologia, mas que em Ciência Política está apenas começando seu caminho. “Eu iniciei o curso em 2021, mas um fato engraçado é que eu tive contato com essa área através de trabalhos, após um convite feito pelo mentor do Embaixadores Globais, Jason Dyett, junto com alguns professores de Relações Internacionais, para mediar o evento de um vereador norte-americano com dois profissionais do Direito, um vindo de Portugal e outro de Brasília”.

Nos bastidores, quem é Rafaela?

Uma das motivações no caminho trilhado pela estudante era a de reduzir a principal fronteira que a separa de outras pessoas, a língua. “Eu queria conversar com as pessoas na língua delas, por dois motivos: primeiro, não queria ninguém se metendo nas minhas conversas para traduzir e segundo, a língua é um elemento que une o povo, então eu queria me aproximar ao máximo, onde quer que eu estivesse”.

Com o desejo de aprender, ela chegou a se dedicar a estudar árabe. “Tive que fazer o sacrifício de parar por conta da rotina corrida e eu acho que precisamos nos dedicar totalmente a alguma coisa. Com tantos afazeres, esse estudo estava deixando de ser prazeroso e se tornando uma obrigação. E eu sempre pensei que se estou obrigada naquilo, então não é para mim”.

Ela diz que pretende retomar assim que puder, já que seu sonho é morar na Terra Santa. A área atualmente dividida entre Israel, Jordânia e Cisjordânia, localizada entre o mar mediterrâneo e o rio Jordão, possui esse nome devido ao seu valor histórico para as três grandes religiões monoteístas do mundo: cristianismo, islamismo e judaísmo.

Mas, enquanto esse sonho não se realiza, Rafaela pretende seguir com seus trabalhos. Um deles é como vice-presidente do Instituto Brasileiro de Educação em Direitos e Fraternidade, uma instituição sem fins lucrativos que trabalha com educação de qualidade para jovens de escolas públicas. Inicialmente, atuavam apenas em Brasília, mas com o início da pandemia, surgiu também a necessidade e oportunidade de expandir para todo o país.

A estudante conta que, em 2021, realizaram uma parceria com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul para expandir o projeto e alcançar, também, os jovens que estão cumprindo medidas educativas.

“Gosto muito da docência, desde o que faço no trabalho até as palestras. (Também) sou palestrante internacional, já estive na Alemanha e Itália dando palestras do segmento ambiental. A última que me lembro foi no Panamá, onde estive palestrando sobre imigração ambiental na região”, conta Rafaela.

Para o futuro, ela diz que não possui grandes ambições, “conheço mais de trinta países e pretendo continuar viajando, mas não tem nada que de fato eu queria planejar”.  Rafaela complementa que, se tivesse que programar algo, “seria encaixar a docência na minha carga horária no ano que vem, seja voluntário ou recebendo. Também quero continuar com as produções de artigos, me ajuda a ficar um pouco quieta”.

E assim ela segue se dedicando àquilo que gosta e que se sente bem fazendo. “Na vida, nós vamos colocando os talentos pra funcionar e vamos promovendo a construção de uma sociedade melhor”, conclui.

A experiência internacional de a Rafaela foi tema do programa Memórias de Intercambista em março de 2022, que também relatou sua experiência no Embaixadores Globais Uninter. O programa foi transmitido pela Rádio Uninter e você pode assistir clicando aqui.

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Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo:


7 thoughts on ““Só o lugar onde estou não me basta. Eu tenho curiosidade de olhar o mundo”

  1. Que entrevista boa! As perguntas e as respostas saíram tão leves; que eu, queria mais.
    Parabéns pela entrevista e obrigada por nos apresentar uma jovem com sonhos; mas cheia de propósitos e ações.

  2. Parabéns Rafaela uma entrevista interessante vc se identifica nas nações em conhecer povos sem intermediários estar junto e compartilhar na sua caminhada com aqueles que não tem a oportunidade… Deus te abençoe… continue

  3. Parabéns Rafaela. Sua determinação é contagiante. Experiências acumuladas têm seu valor quando traduzidas em sensibilidade para apoiar e ajudar pessoas. Deus seja contigo. Bjs

  4. Agradeço e parabenizo Daniela Mascarenhos, Larissa Drabeski e Rafaela Brito pela entrevista maravilhosa! É inspiradora!!! Um incentivo a não desistirmos dos nossos sonhos e, como fala Rafaela, promover e construir uma sociedade melhor.

  5. Parabéns pela matéria, Daniela Mascarenhos! Esse assunto (muito) me interessa… vc foi muito feliz na escolha do tema e na construção do texto.

  6. A menina dos talentos!
    Parabéns por essa importante entrevista. Que a sua história, o seu entusiasmo e coragem possa alcançar a muitos, que como você, também sonham e buscam conhecer para construir um mundo mais justo e mais fraterno.
    “Na vida, nós vamos colocando os talentos pra funcionar e vamos promovendo a construção de uma sociedade melhor” Gostei muito!

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