Sede da Uninter compõe roteiro histórico de construções em Curitiba
Autor: Nayara Rosolen – JornalistaO Castelo Hauer, na Rua do Rosário, centro de Curitiba (PR), hoje é ocupado pela Reitoria da Uninter em parte da sede Divina Providência. Mas a construção do espaço foi realizada ainda no século 19. O pioneiro da família de língua alemã a migrar para o Brasil, José Hauer, se estabeleceu na cidade em outubro de 1863. Uma das características marcantes da construção é o mirante de 15 metros de altura, que, segundo conta a tradição, serviria para observar a Serra do Mar, por onde o imigrante chegou à capital paranaense.
Entre novembro e dezembro de 2023, mais de um século depois, a área se tornou ponto de partida para um tour histórico realizado por diversas construções que pertenceram à família Hauer, na região central da cidade. O projeto integra as ações de lançamento do Catálogo Seletivo de Documentos para a História Urbana de Curitiba: Família Hauer, editado e publicado pela Factum Pesquisas Históricas.
O roteiro turístico foi elaborado pela historiadora e sócia-gerente da Factum, Tatiana Marchette. Além da antiga residência, o passeio histórico conta com outras quatro paradas. O edifício que abrigou o Teatro Hauer, na rua 13 de maio; o prédio onde funcionou a Ferragens Hauer, no Largo da Ordem; o local do antigo Louvre Curitibano, na rua XV de Novembro; e o Palacete Hauer, na Praça Tiradentes.
Na propriedade hoje ocupada pelo centro universitário, a estudante de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e guia do tour, Hellen Martins, foi recebida com cerca de dez visitantes no dia 25 de novembro de 2023. O professor de História da Uninter André Luiz Cavazzani e a estudante de Myllena Silva foram os responsáveis por encaminhar a visita e contar um pouco da memória do local.
“Curitiba tem um complexo de prédios históricos e, muitas vezes, um patrimônio histórico que acaba sofrendo ação do tempo, com o descaso. Aqueles prédios da virada do século 19 para o século 20, que ainda estão sendo ocupados, prestam um serviço que é muito importante. E a Uninter entra nessa situação. […] É um impacto social e também em termos de preservação do patrimônio arquitetônico, artístico, material, muito importante”, afirma Cavazzani.
O professor lembra da frase do ativista jamaicano Marcus Garvey. “Um povo sem o conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”. Por isso, Cavazzani acredita que olhar para as edificações e poder entender o contexto em que foram produzidas é “uma maneira de nos conectarmos com a história, com o passado e, ao mesmo tempo, compreender melhor do presente que nos cerca”.
Myllena diz que diariamente a população passa pelos edifícios e não percebe que há uma história, uma cultura e até mesmo uma arte por trás das construções. Por isso, o projeto contribui com a sociedade. Além de ser uma oportunidade que os estudantes da educação a distância (EAD) da Uninter têm de conhecer a estrutura da instituição pessoalmente. “Falamos que história é sempre conhecimento, então acho muito importante”, conclui a estudante.
As visitas acontecem todos os sábados, até 9 de dezembro, das 9h às 12h. Com o limite de 12 participantes por visita, as vagas já foram preenchidas. No entanto, para aqueles que têm curiosidade de ver as construções, a Factum planeja fazer uma exposição virtual no site da empresa a partir das fotografias registradas pelos visitantes durante os passeios.
Sobre José e o Castelo Hauer
José Hauer, com sua família, vivia no território da atual Polônia. Foi o primeiro a migrar, chegando ao Brasil antes da unificação da Alemanha (1871), em um momento histórico quando a Prússia – estado central dos reinos alemães – havia baixado um regulamento que proibia a propaganda e o aliciamento de novos colonos para o Brasil. A medida surgiu em decorrência de conflitos entre os que aqui já estavam instalados e vendiam sua mão de obra e os abusivos interesses econômicos dos grandes proprietários de terra.
No começo dos anos 1860, quando José Hauer colocou os pés em Curitiba, o contexto europeu estava alterado pelas guerras da unificação, bem como pelas profundas transformações nas relações de trabalho com a decadência da servidão. O mundo não se encontrava em paz; no Brasil Imperial, os colonos oriundos do Velho Continente não estavam totalmente satisfeitos. Não foi uma fase marcada pela chegada de grandes levas de imigrantes, mas, por outro lado, José Hauer encontrou uma Curitiba que já abrigava habitantes de língua alemã vindos em outros momentos de maior intensidade do movimento migratório.
José Hauer não cortou os laços com a família que permaneceu do lado de lá do Atlântico e enviava as cartas para a terra natal, então mergulhada em profundas agitações, para dar notícias do Novo Mundo e chamar outros Hauer para junto de si. Acompanhar essa trajetória familiar é revelar as contradições da imigração a partir dos sentimentos pessoais, mas que se baseavam nas condições históricas do momento.
Em 1894, há uma notícia nos jornais locais para que os proprietários providenciassem o calçamento em frente às casas e aos terrenos. Entre eles, a propriedade de José Hauer na Rua do Rosário. Um dos exemplares mais marcantes do estilo eclético, o castelo é dotado de porão e dois pavimentos visíveis, com uso de madeira maciça, molduras em bronze e pinturas no teto; marcante também é a antiga sala de música do castelo, localizada do outro lado do terreno, à Rua Dr. Muricy.
No começo do século 20, o Castelo Hauer também serviria como escritório pelo qual José Hauer gerenciava a Empresa de Eletricidade (nome comercial José Hauer & Filhos). Isso, contudo, não durou muito tempo, pois ele resolveu retornar definitivamente para a Alemanha, vendendo a propriedade para as irmãs da Congregação Divina Providência, em 1905.
O ecletismo imperou na Curitiba da virada do século 19 para o 20 e trouxe elementos inovadores na arquitetura. Estilo arquitetônico aplicável a diversos tipos de imóveis, desde simples elementos decorativos em pequenas casas e sobrados até os mais sofisticados em residências das classes sociais mais abastadas, como castelos e palacetes.
Autor: Nayara Rosolen – JornalistaEdição: Arthur Salles – Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Natália Schultz Jucoski – Assistente de Comunicação Acadêmica