Repatriação de pesquisadores: solução ou marketing?

Autor: Marco Aurelio da Silva Carvalho Filho e Daniel Guimarães Tedesco (*)

Um edital prevê um investimento de R$ 500 milhões para a repatriação de pesquisadores e profissionais técnicos especializados brasileiros, atualmente radicados no exterior, com o objetivo de inseri-los em empresas nacionais. Recentemente, a Finep realizou um webinar para apresentar a chamada MCTI/Finep/FNDCT – Subvenção Econômica à Inovação – Conhecimento Brasil. O montante destinado é significativo e o objetivo anunciado parece promissor, mas diante de um cenário em que o país já conta com uma grande quantidade de doutores e mestres subaproveitados ou desempregados, a alocação de recursos públicos em repatriação é, no mínimo, questionável.  

Apesar de termos crescimento percentual médio anual do número de mestres titulados (7,40% de mestres e 8,54% de doutores), muitos destes enfrentam grandes dificuldades para encontrar trabalho em suas áreas de especialização. Esse paradoxo se agrava quando observamos o contingente de doutores empregados em funções que pouco ou nada têm a ver com sua área de formação. Muitos acabam ocupando funções aquém de sua qualificação, sem explorar todo o seu potencial científico e acadêmico.   

Entre 2009 e 2021, a taxa de emprego formal de doutores no Brasil caiu de 74,77% para 67,66%, enquanto a de mestres recuou de 66,7% para 59,2%, de acordo com dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Essa redução significativa nas oportunidades de trabalho formal para profissionais altamente qualificados contrasta com o crescimento contínuo da formação de mestres e doutores no país. Esses números revelam o paradoxo: enquanto a produção de conhecimento acadêmico avança, o mercado brasileiro falha em absorver esses profissionais de forma adequada. Pense que muito dinheiro público foi investido para formar mão de obra qualificada, mas não conseguiu gerar empregos. A escolha do profissional desempregado é simplificada pela frase de Médici: Brasil, ame-o ou deixe-o!  

Diante dessa realidade, a proposta de investir em um programa de repatriação ignora as necessidades urgentes dos doutores dentro do país. Esses recursos poderiam ser direcionados de maneira mais eficaz para programas que promovam a reinserção dos doutores já presentes em território nacional. Criar incentivos para que empresas e instituições brasileiras absorvam esses talentos seria uma solução mais estratégica e eficiente, em vez de gastar milhões para atrair profissionais que, em muitos casos, já estão inseridos em projetos de pesquisa no exterior e podem não ter interesse em retornar.  

A proposta de repatriar pesquisadores que atuam em ambientes competitivos e bem financiados no exterior levanta questionamentos. O retorno ao Brasil, para muitos desses profissionais, só se concretiza quando as oportunidades fora do país se esgotam ou quando questões pessoais influenciam essa decisão. Portanto, não está claro se esse programa de repatriação conseguirá atrair os melhores talentos de volta ou se será capaz de integrá-los efetivamente ao sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, que apresenta falhas estruturais. Sem resolver os problemas internos de financiamento, infraestrutura e incentivos à inovação, a reinserção desses pesquisadores repatriados corre o risco de ser apenas temporária, resultando em uma “fuga de cérebros” reversa no longo prazo.   

No fundo, o problema não é a falta de talentos qualificados, mas a ausência de planejamento para integrar e utilizar esses profissionais de maneira produtiva no país. Fomentar a pesquisa e inovação em território nacional, criando ambientes propícios para o desenvolvimento científico, parece ser uma solução mais eficiente e duradoura do que apostar em ações pontuais e de grande apelo visual, como a repatriação. E mais, não se deve desconsiderar os gastos públicos para essa formação.  

Enquanto o governo, representado pelo MCTI continua olhando para fora, os doutores que estão aqui, muitos subaproveitados, continuam à margem do progresso. A verdadeira inovação talvez esteja em reconhecer e investir no que já temos, em vez dede buscar soluções fora. A ciência brasileira não precisa de atalhos ou soluções superficiais, mas de um planejamento estratégico que permita o aproveitamento pleno dos recursos humanos que já estão aqui, prontos para contribuir com o progresso nacional.   

(*) Marco Aurelio da Silva Carvalho Filho é doutor em Química pela UNESP com experiência na reutilização de resíduos sólidos, desenvolvimento de biofilmes, nanocelulose, e materiais poliméricos. É professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas no Centro Universitário Internacional UNINTER  

(*) Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ, Professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias no Centro Universitário Internacional UNINTER. 

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Autor: Marco Aurelio da Silva Carvalho Filho e Daniel Guimarães Tedesco (*)


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