Relações entre Brasil e China são fortalecidas com viagem presidencial

Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

03.02.2023 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentação de cartas credenciais do Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao. Sala de Audiências, Palácio do Planalto, Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em um momento de mudanças na política internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou em direção à China na última semana. A viagem ao país com a economia que mais cresce no mundo representa uma retomada de parcerias e acordos que foram dificultados nos últimos quatro anos.

Um dos assuntos tratados pelos presidentes dos dois países foi a possível transação direta entre as moedas real e yuan, buscando romper com a liderança do dólar no mercado financeiro global e desenvolver mais autonomia para ambos. Em 13 de abril, Lula defendeu a criação de uma moeda única para transações entre países dos BRICS, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O encontro reforça o papel dos países no cenário internacional. Ao todo, foram assinados 15 acordos entre Brasil e China durante a viagem. Após o discurso do presidente brasileiro, a tensão estadunidense devido a essa proposta foi evidente. As falas de Lula causaram mal-estar no também parceiro econômico que disputa com a China o posto de maior economia mundial. Em meio a críticas e apaziguamentos, veículos de comunicação norte-americanos comentaram o acontecimento.

O The Washington Post destacou que a viagem de Lula a Pequim acontece em um momento em que a relação dos Estados Unidos com a China está cada vez mais tensa e que o presidente brasileiro Lula prioriza o “pragmatismo” e o “diálogo”, e não busca contrariar Washington ou o Ocidente. Segundo o portal CNN, a viagem marca uma nova relação entre os países.

Além dos acordos comerciais, os países discutem a criação de uma comissão sobre meio ambiente e mudanças climáticas para frear a ocorrência de desastres e o aquecimento global. Em documento divulgado no último sábado, “Brasil e China decidiram fortalecer sua cooperação na área de proteção ambiental, combate à mudança do clima e à perda da biodiversidade, promoção do desenvolvimento sustentável e maneiras de agilizar a transição rumo a uma economia de baixo carbono”.

A ideia de parceria estratégica entre Brasil e China não é uma novidade. Ela começa a ser cunhada durante os governos Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Em 2009, a China passa a ser o principal parceiro comercial do Brasil, muito em decorrência da crise financeira no Ocidente.

Atualmente, a nação asiática domina o comércio internacional, tendo acordos formados com países da África, América do Sul e Oceania. Segundo o doutor em Sociologia Política, mestre em Relações Internacionais e professor da Uninter Rafael Reis, a capacidade de projeção dessa nova economia é bastante significativa se observarmos os recentes avanços do país no cenário internacional. “A China vem se sobressaindo como principal área da pauta de exportação no Brasil, em especial na iniciativa privada”, destaca.

O mestre em Ciência Política e professor da Uninter André frota comenta sobre a similaridade entre os dois países. Por serem países em desenvolvimento e com grande potencial para serem referencias mundiais, Brasil e China conseguem se alinhar com maior facilidade quando o assunto é economia. André ainda destaca a importância da China para os Estados Unidos. “A Ásia tem muita importância para a importação estadunidense. A China, por exemplo, é um dos países ao qual os Estados Unidos mais importam”, diz.

O que é o socialismo de mercado chinês?

Classificado como uma nova formação econômica-social, o socialismo de mercado integra o modelo econômico criado pela China ao longo das últimas décadas. Nessa forma de organização, parte dos meios de produção são de propriedade pública ou cooperativa, sendo operados socialmente, como economia de mercado. No entanto, o modelo é diferente do capitalismo de estado, estrutura com algumas similaridades.

São 96 grandes conglomerados empresariais estatais atuantes na China hoje. Eles são responsáveis por 40% de toda a geração de riqueza do país. Os outros 60%, segundo Rafael Reis, advêm de empresas privadas que são controladas por integrantes do partido comunista chinês. A participação de membros do partido no controle estatal apresentou mudanças ao longo do tempo. Em 1978, o partido controlava 70% de toda a riqueza produzida no país. Atualmente, esse número é de 30%.

Apesar da queda, as células do partido têm forte presença na iniciativa privada. Em 2002, 27% das empresas privadas tinham células do partido. O número saltou para 48% em 2018. O Partido Comunista Chinês é composto por 96,7 milhões de membros que compactuam com o regime político chines. Criado em 1921, ele lidera outros oito partidos menores legalmente autorizados na Frente Unida.

Na visão de Rafael Reis, o modelo desenvolvido pelo país gera um ganho de produtividade e permite que organizações partidárias de base forneçam um canal para que as firmas alcancem os formuladores de políticas. Além disto, a estruturação permite que os proprietários tenham acesso a melhores informações sobre as políticas monetárias, cambiais e de desenvolvimento, assim evitando tomadas de decisão equivocadas.

“É muito mais fácil para um cidadão chines conseguir exportar. Existe toda uma rede governamental que dá apoio para pequenas, médias e grandes empresas”, explica Rafael.

Em meio as muitas polemicas alimentadas pela mídia estadunidense na última semana, André Frota ressalta a importância de analisarmos os acordos entre Brasil e China como questões não ideológicas. O que existe de concreto e estrutural, segundo ele, é o peso das relações comerciais, dos investimentos e a posição que esses países ocupam no cenário internacional.

“Devemos pensar essas relações com cautela, com os pés no chão, porque essas relações são extremamente importantes para o desenvolvimento nacional e têm um peso estratégico muito grande para o Brasil”, reitera.

André Frota e Rafael Reis estiveram presentes na live “Relações Brasil-China”, transmitida pela Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança da Uninter (ESGPPJS) em 17 de abril de 2023. Os professores dos cursos de Relações Internacionais e Ciência Política da Uninter debateram sobre as relações comerciais entre Brasil e China.

Assista à íntegra pelo canal de YouTube da ESGPPJS neste link.

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Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Ricardo Stuckert/PR e reprodução YouTube


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