A questão imigratória e a vitória do Brexit
Miriã Calistro – Estagiária Jornalismo
No dia 24 de junho, o mundo presenciou o acontecimento histórico com potencial para modificar o rumo da geopolítica mundial pelas próximas décadas, a vitória do “Brexit”, termo que se refere a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
Essa decisão se deu por meio de um plebiscito, e por 1,2 milhão de votos de diferença, os britânicos optaram por deixar a UE. Resultados oficiais mostraram que 51,9% dos eleitores votaram pela saída do país da União Europeia e, portanto, 48,1% votaram por sua permanência.
Segundo Ludmila Culpi, professora dos cursos de Relações Internacionais e Ciência Política da UNINTER, a questão imigratória foi o fator preponderante para a vitória do Brexit. “Podemos identificar que os eleitores que votaram pela saída possuem um perfil mais conservador, uma faixa etária mais elevada e seguem ideologias mais voltadas a extrema direita, ou seja, eles querem um controle sobre quem entra no país’’, disse a professora Ludmila.
Apesar de o Reino Unido não fazer parte da área Schengen, que é a área de livre circulação entre os países europeus, a professora explica que o país ainda possui um acordo com a UE, permitindo a entrada de imigrantes. “Com sua saída da União Europeia, o Reino Unido poderia quebrar esse acordo e criar novas políticas em relação ao controle imigratório’’, comenta.
O aumento da violência, dos ataques terroristas e também do crescimento imigratório, segundo a professora Ludmila, acabaram por reforçar o pensamento nacionalista na Europa, pois os refugiados são associados diretamente a esses acontecimentos. Dados da Agência da Nações Unidas para refugiados (Acnur) indicam que aproximadamente mais de 300 mil imigrantes cruzaram o mediterrâneo e chegaram ao continente europeu no ano de 2015.
“Podemos verificar que os países mais ricos da Europa, após o aumento da imigração, estão tendo um crescimento também na criminalidade. Desse modo a população acaba tendo um sentimento de medo e por isso estão indo contra os imigrantes. O problema é que tudo isso está gerando preconceito e xenofobia’’, comenta.
Em relação aos brasileiros que vivem no Reino Unido, a professora explica que alguns podem ter dificuldades para continuar no país. “Não existe nenhum acordo do Reino Unido com o Brasil em termos migratórios, então para o brasileiro morar lá ele precisa passar por um trâmite burocrático bem complexo, então isso não afeta em nada, agora quem pode sofrer é o brasileiro que possui um passaporte de qualquer outro país europeu e mora na Inglaterra’’, comenta.
O processo, que pode levar até dois anos, ainda pode passar por diversos desdobramentos. “Com a saída do Reino Unido, todos os países da União Europeia teriam que renegociar novamente cada acordo separadamente, e esse é um processo demorado. Caso ocorra outro plebiscito, existem chances de o Reino Unido permanecer na UE, por isso digo que estamos em um cenário total de incerteza’’, finaliza a professora.
Edição: Marjorie Gomes