Quer entender a política? Pergunte a um politólogo
Autor: Julia Siqueira - Estagiária de JornalismoNão é segredo que os brasileiros nunca tiveram uma boa relação com a política. Basta ler alguns capítulos de um livro de história e a fragilidade da democracia brasileira fica clara. Afinal, o que esperar de um país onde o lema “política não se discute” foi levado a sério por tantos anos?
É por isso que a área da ciência política existe. Ela faz parte das ciências sociais, em conjunto com a sociologia e a antropologia, e dedica-se ao estudo do fazer político. E engana-se quem pensa que os únicos envolvidos com a área são pessoas de mais idade. Larissa Roberta Borges, por exemplo, concluiu sua graduação em Ciência Política pela Uninter no final de 2019, aos 20 anos de idade.
A politóloga, nome dado ao profissional que se forma na área, iniciou a faculdade logo depois de terminar o ensino médio. Seu gosto por sociologia e pelas aulas de geopolítica, durante a época do colégio, foram as suas principais influências para considerar a graduação em ciência política.
“Eu tive um professor muito bom no ensino médio, que deu geopolítica. E eu percebi que na aula dele eu conseguia me identificar e tinha umas notas maravilhosas (risos). Eu também gostava muito de sociologia! Então, nesse mesmo âmbito, eu pensei: ciências sociais, ciência política… o que eu posso escolher?”, relembra.
Larissa Borges também conta que, no início, não tinha muita perspectiva de conseguir emprego na área. Entretanto, ao longo de sua graduação, foi entendendo melhor como o mercado funcionava e, no final, terminou o curso com experiências profissionais nos dois campos de atuação existentes dentro da ciência política. Isso porque Larissa teve uma grande participação na produção de pesquisas dentro do ramo e, desde julho do ano passado, trabalha no setor de relações institucionais do Grupo Boticário.
O mercado para o cientista político
É difícil não associar carreiras práticas a certos cursos de graduação. Ao falarmos na carreira profissional de um estudante de medicina, por exemplo, facilmente pensamos em consultórios médicos ou salas de cirurgia. O mesmo acontece com estudantes de direito e tribunais ou até mesmo estudantes de jornalismo e telejornais. Mas o que faz um cientista político, na prática?
Segundo o professor e coordenador do curso de Ciência Política da Uninter, Lucas Massimo, a área pode ser dividida em dois campos de atuação: o mercado acadêmico, muito mais consolidado, e o mercado de trabalho, que ainda está se desenvolvendo.
Quando nos referimos ao mercado acadêmico, estamos falando de um campo completamente voltado para a pesquisa, em específico dentro da pós-graduação stricto sensu, popularmente conhecida como mestrado e doutorado. Em outras palavras, os profissionais que optam por este segmento continuam estudando e trabalham para construir novas perspectivas em relação à política.
“Quando a gente fala de um mercado acadêmico, a gente fala de produzir conhecimento novo! Seja ele do ponto de vista de seus resultados, que é o que se espera em um doutorado, ou seja do ponto de vista do processo, do modo de produção, que é o que se espera de uma dissertação de mestrado”, explica o professor.
Este é o campo mais forte e estável dentro da ciência política brasileira, especialmente quando a juventude do sistema democrático atual é levada em conta. É importante que existam pesquisas e estudos que expliquem porque isso acontece. A própria graduação, em certos níveis, acaba direcionando mais os estudantes ao campo da pesquisa. O que não significa que eles não sejam preparados para o mercado de trabalho.
Este, por sua vez, refere-se a atuações mais práticas, em dois campos principais: as eleições e as relações governamentais. Para o professor Lucas, entender o papel do cientista político dentro das eleições é mais fácil quando se compreende que a política só acontece quando existe uma democracia bem estruturada. E as eleições, querendo ou não, são uma consequência dessa estrutura.
“A ciência política é a profissão da democracia. Isso significa que os politólogos e as politólogas vão atuar dentro das campanhas eleitorais. Mas fazendo o que, exatamente? Eles vão poder fazer análises de cenários políticos para entender qual é o potencial de captação de votos de determinados candidatos, por exemplo. Este é um aspecto importantíssimo para qual um cientista político é necessário”, exemplifica o professor.
Lucas Massimo reforça ainda que a atuação nas eleições não é limitada apenas às campanhas eleitorais, como citado. O politólogo pode (e deve) estar presente durante todo o fenômeno eleitoral, ou seja, antes, durante e após as eleições.
Já a atuação no campo das relações governamentais, também conhecido como relações institucionais ou simplesmente RelGov, está relacionada à representação de interesses. Isso significa que o politólogo trabalha como uma espécie de ponte entre os interesses de determinado grupo/empresa e o Congresso Nacional.
Larissa Borges, como já mencionado, vem trabalhando com esta área desde o ano passado, como estagiária do Grupo Boticário. Ela conta que ter essa experiência é muito enriquecedor e explica um pouco melhor como a área funciona na prática.
“Como somos uma empresa muito grande [Grupo Boticário], nós precisamos tomar sempre muito cuidado com pautas que vêm do governo, que chegam para a empresa e a gente precisa mudar alguma política dentro da empresa. Por exemplo: está sendo discutido agora, no Congresso Nacional, junto com deputados, senadores e o Presidente da República, sobre a proibição total do uso de plástico. É uma possibilidade, até 2022, que o uso de plástico no cotidiano, como copinhos de plásticos, seja banido”, pontua.
“Em outros países isso já é feito para as empresas banirem. O que nós temos que adiantar? Se isso realmente for colocado, nós precisamos garantir que nossos colaboradores e visitantes não vão sofrer com isso. Então, por exemplo, a gente já não dá sacolas plásticas para as pessoas. Nós damos sacolas de papel, justamente por causa disso. Avaliamos esse perigo, de fato, de acontecer alguma coisa lá [no Congresso] e impactar a gente diretamente”, exemplifica.
Diferentemente do mercado acadêmico, o mercado de trabalho é muito mais instável e não tem uma estrutura tão sólida. Para o professor Lucas Massimo, este fato também está relacionado ao histórico da democracia brasileira.
“Retomando aquela frase que eu havia falado no início: a ciência política é a profissão da democracia. Só que a democracia no nosso país ainda é muito incipiente. Para caracterizar isso, basta entender que, desde que foi aprovada a Constituição Federal de 1988, nós brasileiros elegemos apenas 5 pessoas para o cargo de Presidente da República. Nós elegemos dois Fernandos, um Luís, uma Dilma e um Jair! Isso dá uma ideia de como, em termos históricos, a nossa democracia ainda é muito jovem. E essa juventude se expressa na falta de um mercado de trabalho estruturado”, afirma.
Apesar das dificuldades estruturais que o próprio setor enfrenta, Larissa diz que a graduação da Uninter a preparou bem para as experiências profissionais que teve ao longo do curso. Antes de trabalhar com o Grupo Boticário, a politóloga estagiou na Câmara Municipal de Curitiba, apresentou suas pesquisas em Congressos e até conquistou um prêmio no ENFOC, o grande evento de iniciação científica promovido pela Uninter.
“Quando olhei a grade de matérias da Federal [Universidade Federal do Paraná, a primeira opção da politóloga], vi que algumas coisas não iriam me impactar tanto quanto outras. Aqui [na Uninter] a gente tem, na grade, uma parte qualitativa e quantitativa muito forte. Sempre gostei muito disso, de fazer pesquisa quantitativa, pegar dados do governo… enfim”, salienta.
“Agora, por exemplo, eu tenho uma pesquisa sobre políticas públicas para negros em Curitiba. Que tipo de política pública, hoje, é feita para a população negra? Quem é a população negra de Curitiba? Tenho pesquisas nesse nicho, tenho pesquisas no nicho Brasil também, e isso só foi possível pelo tipo de matéria que a gente tem aqui na faculdade e pela capilaridade que isso tem com várias outras partes do Brasil. Então eu não tenho dificuldade nenhuma em dizer que sim, o curso prepara para o mercado de trabalho”, conclui Larissa Borges.
Autor: Julia Siqueira - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Julia Siqueira - Estagiária de Jornalismo
O explicação da Larissa Borges foi de grande relevância pra mim, também acredito que será importante também para aquelas pessoas que tem o desejo de estudar ciência política no Uninter. Eu comecei a estudar ciência política no Uninter em 2017, ou seja, já estou no final do curso, hoje eu consigo argumentar, trocar idéias, conversar sobre política, opinar sobre qualquer assunto relacionado a política sem nenhum medo, MAS todo esse conhecimento que tenho hoje foi graças ao Centro Universitário Internacional Uninter.
Muito obrigado Uninter.