Quem vive na rua é ameaça ou precisa de ajuda?

 

Talita Santos – Estagiária de Jornalismo

Quem mora em cidades grandes provavelmente tem uma opinião sobre as pessoas que vivem em situação de rua. De um extremo ao outro, com pouca variação no meio, elas são vistas como uma ameaça ou como alguém que precisa de ajuda. Membro do Instituto Nacional de Direitos Humanos da População em Situação de Rua (InRua), o antropólogo Tomás Melo observa que o perfil de morador de rua mudou e, com isso, modificou-se também a maneira como eles são vistos pela sociedade, muitas vezes estereotipados pela imprensa.

“Nessa construção [da mídia], toda pessoa que é moradora de rua se torna usuária de crack e, por sua vez, perde o caráter humano. Não são encarados como aqueles que precisam de ajuda, mas como uma ameaça. Seriam aqueles que  ‘deveriam desaparecer'”, diz. A conclusão de Tomás, embora triste, é uma verdade inconveniente tão em alta quanto o número de moradores de rua nas grandes cidades do país, reflexo das diversas crises pelas quais passa o país (econômica, política, humanitária).

No caso de Curitiba, por exemplo, segundo dados recentes da Fundação de Ação Social (FAS) 1.715 pessoas vivem em situação de rua na capital do Paraná. Porém, organizações não-governamentais de direitos humanos questionam os números. Muitos dos que responderam à pesquisa da FAS acessam serviços públicos (como unidades de acolhimento, por exemplo), mas os dados não abrangem aqueles que não utilizam esses locais. Portanto, estima-se que passem de 2 mil pessoas em situação de rua em Curitiba.

O problema é urgente e precisa ser discutido. Por isso, o Conselho Regional de Serviço Social – 11ª Região (CRESS), em parceria com a Uninter, realizou no último dia 18 o Encontro População de Rua e Serviço Social: Atuação profissional e agenda política. O evento, realizado no campus Garcez da instituição, em Curitiba, foi voltado aos assistentes sociais e estudantes de cursos de Serviço Social. Houve também uma transmissão via Facebook, que pode ser acessado aqui.

O principal objetivo do evento foi incentivar a participação dos assistentes sociais e aprofundar o debate técnico, ético e político do tema. “O serviço social tem enfrentado, junto com outros setores de defesa de direitos humanos e sociais, uma fragilidade, um retrocesso de políticas públicas que a conjuntura nacional tem vivido. Então independente de resoluções que digam que desta ou de outra forma a população de rua tem que ser atendida, tenho que atender valorando o direito daquela pessoa de ser reconhecida sua cidadania”, diz Elaine Batista, integrante da comissão permanente do CRESS.

Alguns dos assuntos debatidos durante o encontro foram os direitos da população em situação de rua e o exercício profissional do assistente social. “A ideia de criar este evento e de falar sobre estes assuntos surgiu das requisições profissionais recebidas da categoria, das necessidades constatadas dos moradores de rua, sobretudo da constatação de ações higienistas em nossa sociedade contra os direitos destes usuários”, diz Joziane Ferreira de Cirilo, presidente do CRESS.

“É importante colocar os assistentes sociais para estar repensando o tempo todo a sua prática profissional e assumindo cotidianamente o compromisso que assumiu lá na sua formação acadêmica, de estar do lado da classe que precisa de acesso a cidadania”, completa Elaine.

Edição: Mauri König

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