Quem diz a verdade no jornalismo?

Autor: Barbara Carvalho - Jornalista

De acordo com pesquisa divulgada pela Universidade de São Paulo (USP), o Brasil é um dos países mais afetado pelas fake news referentes à pandemia. O estudo Antologia viral: negação da Covid-19 em meio à pandemia no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos mostrou que situações anteriormente atípicas quanto às disseminações de informação aumentaram devido ao grande número de mídias e rapidez das notícias. Então, em tempos de polarização e desinformação, como distinguir qual informação é verdadeira?

Em comemoração ao Dia do Jornalista, 7 de abril, a Uninter promoveu lives que abordaram diversos assuntos referentes ao jornalismo na atualidade. O evento contou com três dias de duração e, no dia 8, trouxe ao debate o tema Jornalismo e desinformação, quem diz a verdade? A abertura da transmissão contou com a palavra do chanceler da Uninter, Wilson Picler, do coordenador do curso de Jornalismo, Guilherme Carvalho, da jornalista e professora da UFRJ Ana Paula Goulart de Andrade e do jornalista Guilherme Fiuza, comentarista da Jovem Pan, Rede TV e revista Oeste. A mediação foi professora Mônica Fort.

“Nosso evento tem abordado os desafios de se fazer jornalismo nos tempos atuais, falamos de polarização política, mercado jornalístico, objetividade e isenção, pluralidade entre outros tantos temas importantes para o jornalismo. E outra questão cada vez mais urgente no nosso cotidiano, as possibilidades abertas com a internet e as tecnologias da informação e comunicação, popularizando o acesso a informação e a publicação de conteúdo. O que parecia demonstrar um salto democrático para alguns, tem se mostrado como uma condição nova que colocaria em questão a relevância do jornalismo já que qualquer pessoa estaria em condições de publicar os seus conteúdos para um grande contingente. O resultado é que atualmente vivemos um fenômeno que afeta não apenas o jornalismo, mas a sociedade de modo geral”, pontua Carvalho.

Os convidados começaram a conversa debatendo sobre o grande volume de informações que o consumidor recebe atualmente por meio de diversos meios, principalmente os de imprensa e das redes sociais. Relatam que, com isso, a desinformação consegue criar uma falsa imagem da realidade e distorcer notícias, relembrando a importância de se atentar a quem diz a verdade dentro do jornalismo.

“Não existe verdade com V maiúsculo, o que existe é uma busca pela verdade, um tratamento de um acontecimento que ganha status público, ou de notícia, em busca de uma verdade. Não existe uma verdade única e talvez isso é que dê essa vazão de verdades e essa disputa de narrativas que temos atualmente. Quando você escolhe falar de um assunto e não de um outro, já não está tendo parcialidade, e são nessas possibilidades de valores-notícia que encontramos a comunhão do que é o jornalismo. Essa informação de qualidade é desenvolvida com checagem, com apuração dos fatos e uma busca pela verdade, e não necessariamente com uma verdade absoluta” relata Ana Paula.

“A minha impressão é de que a grande intoxicação nesse momento vem justamente da presunção, e eu não estou dizendo que seja uma presunção deliberada ou de má fé, mas que acontece por acaso. A evolução dos meios e a forma como a comunicação foi se diversificando pode estar sendo utilizada a favor do bem, mas essa questão do julgamento, se ele for bem recebido pelo meio, automaticamente ele está se valorizando, então o jornalismo também entrou em um ambiente muito delicado de julgamento e de patrulha”, opina Guilherme Fiuza.

Mas então, podemos considerar que o jornalista transmite apenas uma meia verdade ou uma verdade relativa? A pergunta realizada por um dos espectadores da transmissão provocou uma discussão sobre como a notícia é produzida e a explicação de porquê não é possível repassar totalmente o fato. O jornalista trabalha com a busca pela verdade e o tempo é maior inimigo. De acordo com Ana Paula, a espiral de produção de uma notícia funciona de acordo com o deadline (prazo do jornalista para entregar matérias), e devido a isso muitas notícias podem acabar sendo divulgadas sem estar completamente apuradas.

Outro ponto debatido foi a questão da crítica generalizada quanto ao jornalismo atual. Não é novidade que quando acontece um erro, essa falha acaba taxando toda uma categoria, e atualmente no jornalismo não é diferente. Alvo de diversos ataques, a imprensa brasileira sofre inúmeras críticas principalmente quanto à cobertura da pandemia. Assim, toda a categoria é questionada, criticada e muitas vezes agredida, devido ao trabalho de determinados veículos ou posturas editoriais equivocadas, segundo os críticos.

“A liberação da internet e do polo emissor acata a uma sensação de que a produção da notícia pode ser realizada por qualquer pessoa, o que impacta diretamente no trabalho do jornalista na produção da notícia. É muito mais difícil ser jornalista hoje, é mais difícil identificar o que é notícia hoje, a sociedade conhece muito pouco do que é o interior das redações, o que acaba causando essa confusão no jornalismo contemporâneo, existe toda uma lógica jornalística que precisa ser ensinada à população”, diz Ana Paula.

Mas, como a população pode identificar o que é ou não verdade? Ana Paula ressalta a importância de conseguir guiar o consumidor da maneira mais confiável. “Necessitamos de uma educação midiática, como compreender e educar o olhar do cidadão comum para que ele consiga decifrar esse mosaico de informações”. Guilherme Fiuza completa a fim de ressaltar a importância do jornalismo humanitário: “É muito importante e o valor humano não pode ser confundido com etiquetas, com crachás e com a afetação daquelas virtudes que você está querendo alcançar”.

Para conferir o debate na íntegra, basta acessar este link.

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Autor: Barbara Carvalho - Jornalista
Edição: Mauri König


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