Quaresma, semente de paz ou guerra
Autor: Dinamara Machado e Cristiane Lieuthier*“Viver a quaresma é para além de fazer jejum de ‘chocolate’, e na Páscoa regozijar-se com o delicado sabor de marcas poderosas”
A quaresma, que acontecerá entre 2 de março até 14 de abril do ano vigente do Nosso Senhor, teve ecoado a partir da voz Santo Padre, Papa Francisco, um clamor de paz. Na mensagem, a Quaresma exortou: “Não nos cansemos de fazer o bem”. A partir desta e de outras provocações, os fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana devem ser conduzidos na reflexão de sua vida em sociedade.
A quaresma representa o período de quarenta dias subsequentes dedicados a penitência e a preparação para a Páscoa. Lembrando que pela história cristã, nesse período, Cristo é crucificado, morto e renasce no domingo em que comemoramos a Páscoa. Jesus Cristo neste período sofreu as maiores provações de sua vida terrena, como também jejuou quando esteve no deserto.
A quaresma inicia na Quarta-Feira de Cinzas, designado como o Dia das Cinzas, em que renunciamos aos prazeres efêmeros da vida e partimos para conversão. A Sexta-Feira Santa, marca o fim da quaresma e entramos no calvário e ressureição de Jesus Cristo. O que podemos compreender nestes três dias finais, entre continuar numa vida passageira e repleta de fragilidades, ou aceitar que podemos evoluir e viver a partir do respeito, da paz, da humildade e do bem querer.
Ainda a partir da Quarta-Feira de Cinzas, a Igreja Católica por meio da CNBB anuncia anualmente a Campanha da Fraternidade. O tema deste ano traz à tona a relação de igualdade para todos: “Fraternidade e Educação “e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor”.
Além do hino oficial da campanha, executado nas celebrações eucarísticas de todo país, será refletida a educação justa e igualitária. Convida-se a imitar a misericórdia do Pai, repartindo o pão com aqueles que têm fome: pão em forma de alimento, de dignidade de afetividade e amor!
Esta será a terceira vez que a Igreja do Brasil fará a inserção no mundo da educação em uma Campanha da Fraternidade. O objetivo é promover diálogos a partir da realidade educativa no Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.
Espera-se que ao acompanhar o itinerário da Campanha, todos sigam a Cristo: caminho, verdade vida. (Cf. Jó 14,6) e assim seja renovada a consciência da responsabilidade que temos pela evangelização, promovendo uma sociedade justa e solidária.
Iniciamos a quaresma com guerra declarada e exposta para o mundo entre Rússia e Ucrânia. Ousamos dizer declarada, pois não podemos esquecer os inúmeros conflitos existentes no Sudão, na Nigéria, no Haiti, em Guiné Bissau, ou ainda, não podemos esquecer as guerras que o capitalismo impôs com seu modelo social e econômico, em que conduz a todos nós, convivermos e vivermos a partir de lógicas de produção mundial. Será que não estaremos todos em guerra contra a China, pois possuem uma forma de produção e leis trabalhistas que interferem diretamente no espaço de trabalho de qualquer brasileiro ou cidadão mundial?
Que ordem mundial está exposta por um grupo de países, que querem manter seu status, conduzir e apropriar-se da riqueza de outros países e, por consequência, seus povos? A quaresma é um tempo individual e que pode ser coletiva, quando de fato pararmos de seguir o fluxo da massa. De compreender que não precisamos daquele carro do ano, de estar sempre com boas expressões nas mídias sociais, de fazer aquilo que nos programam. Viver a quaresma é para além de fazer jejum de chocolate, e na Páscoa regozijar-se com o delicado sabor de marcas poderosas. A paz tão sonhada inicia dentro do âmbito do individual, e por incrível que pareça o ditador e tirano, podem acreditar que estão vivendo sua paz a partir da guerra.
* Dinamara Machado é diretora da Escola Superior de Educação da Uninter. Cristiane Lieuthier é professora do curso bacharelado em Teologia: Doutrina Católica, catequista e musicista na Paróquia Imaculada Conceição – Guabirotuba (Curitiba).