Qual o papel do geógrafo na sociedade?

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

A geografia é vista mais comumente como uma disciplina escolar, transmitida no ensino básico para os estudantes. Pouco se reflete sobre o que é essa ciência e como pensá-la a partir do seu objeto de estudo, o espaço terrestre com todos os fenômenos existentes nele e as relações que se dão em torno desse ambiente.

Segundo o professor André Frota, que atua na área de Geociências da Uninter, a geografia tem sua trajetória traçada por dois caminhos distintos. O primeiro vem com estudos realizados por cientistas naturalistas na transição para o século XIX. Eles coletavam espécies e desenhavam paisagens, em busca de entender aquele espaço e como as espécies se comportavam com o ambiente natural.

A segunda origem surge com a necessidade política estratégica dos militares. Generais queriam entender a estrutura do território para saber como posicionar as tropas, visando a segurança nacional. Assim, esses dois movimentos se desenvolveram até se cruzarem e formarem a ciência geográfica como é conhecida hoje.

Mas que papel desempenha um geógrafo? De acordo com Frota, essa é a pergunta que acompanha um profissional da área por toda a sua carreira. O leque de possibilidades de atuação é vasto e a escolha começa já na modalidade de graduação.

Atuação na licenciatura versus bacharelado

O professor conta que quando se pensa em licenciatura, a possibilidade mais popular e conhecida é o trabalho com escolas do ensino básico. Mas ele diz que é importante que o aluno entenda que também pode atuar no ensino superior, desde que dê continuidade aos estudos com uma pós-graduação e se desenvolva profissionalmente.

Para os profissionais do bacharelado, Frota aponta uma vantagem comparado a outros cursos. A profissão do geógrafo é regulamentada há mais de 40 anos, com a Lei nº 6.664, de 26 de junho de 1979. “Do ponto de vista formal, tem um conjunto de competências que já estão descritas e que dá uma série de liberdades”, completa ele.

Frota diz que existem ainda diversas oportunidades, tanto no setor público quanto no privado. No público, ele menciona secretarias que possuem o papel de planejamento, como a do meio ambiente e a de turismo. Há também institutos de pesquisa, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é consolidado e realiza concursos regularmente.

Uma área mais rara, mas que ainda existe como possibilidade, é a carreira diplomática. Segundo o profissional, a geografia tem um papel bastante importante nesse âmbito. “A gente tem o Instituto Rio Branco, que é a escola de formação dos diplomatas no Brasil, e a prova Itamaraty do Ministérios das Relações Exteriores. A geografia é uma disciplina muito importante nesse concurso”, afirma.

Ainda existe a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que a partir do período de redemocratização abriu as portas para concursos públicos e a incorporação de civis, um outro exemplo de prova que exige e valoriza muito a geografia. “Na medida que, para você passar nesses concursos, você só precisa ter um curso superior, o fato de você já ter uma bagagem na disciplina te qualifica, faz você estar um passo na frente”, incentiva Frota.

Já no setor privado, o professor afirma que os profissionais podem oferecer uma série de serviços de mapeamento, georreferenciamento e geoprocessamento. Entre eles, consultoria na área de planejamento, auditorias e perícias ambientais.

“Eu mesmo trabalhei durante seis anos em uma consultoria florestal e ambiental, produzindo todo tipo de estudo. Eu trabalhava muito com fazendas que fazem florestamento, elas precisam saber o quanto tem de pastagem, de área de preservação, reflorestamento, estrada. Todo tipo de uso que aquela propriedade tem, o proprietário precisa saber para ele mapear, saber o que vai fazer com o seu território”, explica.

De acordo com Frota, não há uma regra geral que diz que um tipo de pessoa serve para determinado tipo de atuação. Os interesses dos estudantes podem mudar ao decorrer do curso, eles se descobrem conforme têm contato com as disciplinas. Para que tenham um desempenho profissional mais completo, ele recomenda que os profissionais tenham formação nas duas áreas, já que conseguem reaproveitar muito de uma modalidade na outra e só precisam completar a carga horária.

“Uma coisa enriquece a outra, te dá liberdades que você só com uma delas não teria”, garante.

O mercado de trabalho pós-pandemia

A pandemia trouxe uma série de mudanças na rotina de grande parte das profissões. Frota acredita que a população como um todo irá habitar em um novo planeta em muitos aspectos, quando esse momento passar. Para a área de licenciatura, ele diz que há um mercado consolidado dentro do ensino básico e é uma possibilidade que estará sempre disponível, mas com algumas adaptações.

“Uma recomendação que eu daria para esse profissional é que também estude muito a língua inglesa, porque há uma tendência muito grande de escolas que estão se adaptando para uma perspectiva bilíngue e as disciplinas estão sendo ensinadas em língua inglesa. Aí você também encontra condições de trabalho que são mais interessantes, oportunidades melhores. E ao mesmo tempo, se adaptar às metodologias do ensino à distância, porque é isso que nós vamos ter que desenvolver, com certeza absoluta.”

Para a área de bacharel, o profissional observa que hoje o mercado “está muito atrelado e está incorporando muito a inteligência artificial”. As áreas tradicionais de geografia têm incorporado ferramentas de programação avançadas. Sendo assim, ele aconselha a estudar os programas tradicionais, mas também um pouco de programação para que se consiga combinar competências e acompanhar as mudanças.

Frota abordou o tema durante edição do programa EJA Pop, em 07.out.2020, com o tema Formação do geógrafo em nossa sociedade. A transmissão foi apresentada e mediada pelas professoras Marjorie Wilt, da Escola Superior de Educação da Uninter, e Maria Tereza Cordeiro, coordenadora da área de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Uninter. O bate-papo completo segue disponível para acesso, através da página do Facebook EJA Uninter.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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