Profissionais da enfermagem trabalham no limite durante a pandemia
Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de JornalismoA Escola de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter promoveu no último dia 30.abr.2021 a 2ª Maratona de Saúde. Foram 12 horas de palestras com muito conteúdo e conhecimento sobre temas atuais. Na live “O que os profissionais de enfermagem e saúde aprenderam com a pandemia?”, os professores Cristiano Caveião e Maria Carol Waldrigues discutiram sobre os desafios e o desgaste emocional dos enfermeiros em meio ao contexto pandêmico de Covid-19.
A enfermagem é ciência das necessidades humanas básicas. Na pandemia, percebemos o quanto essa profissão é importante no zelo pela vida. E, infelizmente, também vimos como essa área é pouco valorizada. Os professores apontam que num cenário de crise de saúde pública, muita demanda e pouca estrutura é parte da rotina desses profissionais.
Caveião é formado em enfermagem e ressalta que hoje os profissionais de saúde vivem uma realidade muito diferente se comparada aos últimos anos. “Eu, por exemplo, me formei em 2008. O que pude vivenciar foi a questão da H1N1, e foi muito diferente, não foi tão abrangente. A Covid-19 é muito mais complexa e requer mais conhecimento dos profissionais”, salienta. Ele destaca que os profissionais da enfermagem são o maior grupo profissional na assistência dos pacientes com Covid-19 e que muitos não receberam treinamento adequado para trabalhar na terapia intensiva, para casos de pacientes em estado grave.
A professora Waldrigues tem 20 anos de experiência na área da enfermagem e destaca a complexidade do processo de luto dos profissionais. “Acho que a gente nunca vivenciou os colegas e os amigos falando ‘hoje foram 10 internações, hoje foram tantas mortes’. A gente vive o processo de morte e morrer. Nós estamos numa linha da vida entre o nascer e o morrer. É muito lindo ver o processo de nascimento, mas temos que ter preparo para o processo de morte”, ressalta.
Diante desse cenário, os professores apresentam números alarmantes. Caveião cita a notícia de que o Brasil responde por um terço das mortes globais entre profissionais da enfermagem por Covid-19. Outros dados preocupantes foram divulgados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição especializada em pesquisas científicas na área da saúde. O levantamento O impacto da pandemia entre os profissionais da saúde mostrou que 43% não se sentem protegidos no trabalho, 50% dos profissionais relataram excesso de trabalho, com jornadas com mais de 40h semanais, e 45% necessitam de mais de um emprego para sobreviver.
Sobre o último dado, Waldrigues comenta: “É uma característica muito forte no perfil profissional da enfermagem. Os profissionais precisam de dois empregos por causa do piso salarial. Existem pisos de concursos públicos de R$ 1.800, por exemplo. É muito pouco. Estamos em uma luta para aprovar o PL de reajuste salarial”, enfatiza.
O profissional da enfermagem precisa ter segurança para trabalhar. A pesquisa da Fiocruz revela que a escassez e inadequação dos EPIs (equipamento de proteção individual) levam os profissionais a improvisar em suas atividades diárias. Waldrigues diz que o medo de contaminação no ambiente de trabalho faz com que os profissionais deixem de fazer suas atividades básicas, como tomar água e ir ao banheiro. “Eles tomam essas medidas para não retirar os equipamentos de proteção individual e se contaminar ao vesti-los novamente”, explica.
Em meio a tantos problemas, Waldrigues aponta que é possível pedir auxílio em conselhos de enfermagem locais. “Quando se sentirem cansados e exaustos, peçam ajuda”. Os professores salientam que é preciso promover diálogos com políticas públicas. “Temos que levantar bandeiras, soluções e diálogos. Nós temos que tirar aprendizado deste cenário e dessa situação. Não existe mais volta ao normal. Os profissionais estão marcados. Vamos contar a história do que estamos vivendo”, conclui a professora.
A conversa completa dos professores você confere na página oficial da maratona no Facebook.
Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Freepik e reprodução Facebook