Professor cria “mão artificial” e realiza sonho de João de jogar pingue-pongue
Existem histórias escondidas em todos os cantos do Brasil, mas não precisamos ir tão longe para conhecer algumas que merecem nossa atenção. Com mais de 220 mil alunos, não é difícil encontrar na Uninter pessoas com relatos incríveis e histórias inspiradoras.
Luiz Eduardo Conchineli nasceu no interior de São Paulo, onde vive com a esposa Gilmara e os filhos Bruno e Ilora. Os avós paternos, Antônio e Dolores, saíram de Minas Gerais em busca de emprego e acabaram chegando em Bauru, onde trabalharam em uma importante fazenda de café. Foi na cidade que os pais se conheceram. Luiz Lourenço, pedreiro, e Dulce Aparecida, doméstica.
Seu Lourenço, sempre muito esforçado e inteligente, dizia que estudar era para “pessoas ricas”, e por pouco não teve a felicidade de desfrutar do “luxo”. Na época, apenas um membro da família poderia estudar, e seu irmão mais velho foi o escolhido. Só mais tarde ele finalmente conseguiu ir para a escola, o que também não durou muito tempo, pois todos os filhos precisavam contribuir com a renda da família.
Quando Luiz ainda era garoto, junto com o pai e os tios, ajudou a reconstruir em alvenaria a velha casa de madeira do avô. Seu Antônio viu que o menino levava jeito para pedreiro, mas disse que já havia gente demais da família na sofrida profissão. Queria um futuro diferente para o neto e insistiu que ele deveria estudar para “ter um local de trabalho protegido do sol, chuva e frio”.
Apesar da simplicidade, a família de Luiz vivia em um enorme terreno onde plantavam de tudo um pouco. Lá não faltavam verduras, legumes e frutas, e também muito trabalho. Ele estudava na parte da manhã e à tarde saía pela vizinhança vender os alimentos. O pequeno aproveitava esses momentos para ver quais vizinhos tinham assinaturas de jornais e pedia que guardassem para ele.
Quem dera fossem usados para sua função de origem, a leitura, já que serviam de embrulho para as carnes vendidas nos açougues. Assim, Luiz conseguia trocar maços de jornais por carne moída.
Quando estava na quinta série, muitos de seus colegas eram mais velhos e trabalhavam entregando jornais, ou como office boys. Para que Luiz pudesse trabalhar também, ele precisava de uma bicicleta. Mesmo em meio às dificuldades, seu Lourenço conseguiu comprar uma, e logo ele começou a fazer sua rota. De tanto rodar pelas ruas de Bauru, no primeiro mês os pneus da bicicleta já estavam completamente gastos.
Sem dinheiro para pneus novos, logo encontrou outra alternativa. O jovem recebeu a proposta para um novo emprego: iria atender telefonemas, redigir, tirar xerox e fazer envios para os correios e, de quebra, ainda poderia estudar. Fez um curso de datilografia e terminou o ensino fundamental.
Orientado pelo irmão de um colega, começou os estudos no Colégio Técnico Industrial, na área de computação. “Foi o local onde eu aprendi a estudar e a desenvolver habilidades voltadas para memorização, pensamento lógico e ação efetiva”, conta.
Durante esse tempo, seu Lourenço, católico praticante, exercia muitas ações na comunidade, inclusive levando alimentos, roupas e cobertores aos mais necessitados. Ele fazia questão de que toda a família participasse desses momentos, alguns que ficaram marcados na memória de Luiz.
A paixão e facilidade com os estudos, aliados às experiências de vida do rapaz, foram fatores determinantes para que ele escolhesse sua profissão: professor. Alguns anos depois, através da escola Casa de Ensino Duque de Caxias, conheceu Rafael Vasconcellos Sanchez, gestor do polo da Uninter em Bauru.
Entre conversas sobre educação, o gestor mostrou para Luiz a importância de se preparar para a docência no ensino superior, o que o levou a fazer a pós graduação “Metodologia do Ensino na Educação Superior”.
Um professor que vai além
Apesar da incrível história de vida, Luiz Eduardo Conchineli ficou recentemente conhecido na cidade de Bauru por uma atitude extraordinária. Como professor de Sociologia na escola Maria Aparecida Maschietto Okazaki, onde trabalha há mais de 25 anos, ele se deparou com uma situação que até passaria despercebida, não fosse seu olhar dedicado.
Ele percebeu que um de seus alunos passava todos os dias observando os colegas jogarem pingue-pongue durante os intervalos. João Pedro dos Santos não podia jogar porque uma doença, a Epidermólise Bolhosa, atrofiou os membros superiores e inferiores. Sem mãos e com a pele extremamente frágil, não conseguia segurar a raquete.
Sem jamais imaginar, o garoto chamou a atenção do professor, que se comoveu com a vontade dele em participar da brincadeira. Ao chegar em casa, Luiz não conseguia parar de pensar em uma maneira de ajudar João, e em como poderia fazer com que ele fosse capaz de segurar a raquete de pingue-pongue.
Com recursos próprios e usando muita criatividade, ele conseguiu criar uma luva especial para João. “Eu tive o cuidado de buscar um material leve e forte, algo que pudesse ser revestido e que pudesse ser adaptado ao braço dele”, explica.
Com muita dedicação e cuidado, ele tomou as medidas do garoto até que, enfim, conseguiu produzir o presente e entrega-lo a João. Apesar da simplicidade, a façanha não poderia ter dado mais certo. Finalmente o garoto pôde realizar o sonho de jogar pingue-pongue, e a escola inteira presenciou, com muito entusiasmo, sua primeira partida.
A repercussão foi tão positiva que ele simplesmente não acreditou. O polo de Bauru ajudou a divulgar a criação de Luiz pela cidade e região, e surpreendeu o professor trazendo um repórter do jornal local para entrevistá-lo, o que gerou ainda mais impacto. A notícia já atingiu mais de 3 milhões de pessoas nas redes sociais.
“Muitos me disseram que foi a simplicidade do fato aliada ao olhar de pai, professor e educador. Se colocar no lugar do outro”, relata Luiz sobre o impacto da ação. Ele também ressalta que sua ação gerou um interesse maior em entender as necessidades de pessoas com algum tipo de deficiência.
Uma ação que poderia ter ficado escondida entre os muros de uma escola, mas que, para nossa feliz surpresa, repercutiu de forma grandiosa, ganhando destaque inclusive na Record TV Paulista. “Para mim foi muito importante. Tive contato com pessoas que participam de projetos sociais diversos e ajudam muitas pessoas. Isso me fez realmente perceber que existem pessoas humanas, vivendo a plenitude da palavra. Isso foi muito bom”, completa.
Assista neste link à reportagem da Record TV Paulista.
Autor: Jaqueline Deina - estagiária de jornalismoMauri König - Jeferson Ferro (revisão textual)
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Record TV Paulista