Por que os brasileiros preferem ser representados por uma elite intelectual?
Autor: Karla Marcolin - estagiária de jornalismoUm país populoso, de grande extensão territorial e que apresenta inúmeros problemas estruturais e sociais desde o tempo colonial – este é o Brasil. As diferenças sociais vivenciadas no país refletem-se também na política brasileira. A maioria das cadeiras de representantes eleitos pelo povo são ocupadas por uma parcela da população privilegiada que, diferente da maioria da população brasileira, não vivencia diariamente os infortúnios da desigualdade social.
Exemplo da disparidade entre a realidade da população e a representação política pode ser observada nas últimas três eleições para o legislativo municipal da cidade de Santa Maria (RS). O tema foi investigado pelo cientista político formado pela Uninter Alan Kamphorst da Silva, em parceira com o doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná e professor da Uninter Carlos Alberto Simioni.
Para a investigação, foram analisados o grau de escolaridade dos vereadores e as profissões que os candidatos exerciam antes de se eleger. A partir desses dados, os autores buscam identificar quantos desses representantes eleitos pertencem ao que eles chamam de uma elite intelectual, que representa a minoria da população brasileira.
A pesquisa escancara, que em mais de uma legislatura, o alto nível de escolaridade é notável, como também, as profissões dos vereadores eleitos estão ligadas a ofícios de alto grau de conhecimento (médicos, engenheiros, empresários) e alto grau de eloquência (professores, radialistas, pastores). Com isso, conclui-se que a câmara legislativa do município, uma esfera de poder que está mais próxima do cidadão, também se tornou elitista.
Os dados foram apresentados no artigo Estudo sobre as profissões prévias dos vereadores de Santa Maria – RS nas eleições de 2008 – 2012 – 2016, publicado no Caderno de Gestão Pública, Política, Jurídica e de Segurança, em 2021, um dos oito cadernos da Uninter.
A pesquisa também discute as motivações que levam a esse elitismo. “Os membros das massas têm profundo desapego por assuntos rotineiros, por discussões teóricas e partidárias. Muito mais do que a política, as massas gostam daquilo que as impressiona, do jogo de cena, de uma boa oratória, das atitudes espetaculares”, destaca o professor Renato Perissinotto no livro As elites políticas: questões de teoria e método.
O panorama exposto em Santa Maria também está presente em outros municípios e em outras esferas políticas. A escolha por candidatos que representam um certo status, de acordo com os autores, é um fenômeno comum nas democracias.
Eles defendem ainda que, mais do que ter uma análise negativa sobre o resultado, o importante é conhecer o perfil dos políticos eleitos, fator que colabora para que a população possa cobrar melhor os seus representantes.
Autor: Karla Marcolin - estagiária de jornalismoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Luis Ferraz