“Por causa desse conselho, vejo que não posso mais parar de pesquisar”
Autor: Nayara Rosolen - jornalista“Um baú de aprendizado”. É assim que Karen Matos, de 21 anos, define o processo de pesquisa que resultou em um trabalho publicado na obra Desenvolvimento de pesquisa na área de exatas nos tempos atuais.
O livro ficou disponível no site da editora Escolha Certa em julho de 2024, com 18 estudos produzidos por estudantes e docentes dos cursos de bacharelado e licenciatura em Matemática, Física e Química da Uninter. Apresentados também na 3ª Semana Acadêmica de Matemática (SAM), evento promovido anualmente pela área de Exatas da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL).
Estudante do último ano de licenciatura em Matemática, Karen participou do capítulo Metodologias contemporâneas na educação básica: revisão bibliográfica de trabalhos publicados no contexto internacional, em colaboração com o colega Lucas Almeida e a professora orientadora Ana Paula Elias.
“Tivemos todo um processo de escrita, revisão e correção dos artigos até ficarem da maneira como se apresenta no documento. Não foi simples em alguns casos, especialmente porque, para alguns alunos, foi o primeiro contato com escrita de trabalhos científicos e, com isso, o trabalho árduo com o qual se comprometeram veio a ser premiado com a publicação da obra em questão”, conta Ana Paula.
Karen está entre estes estudantes. A jovem participou de uma reunião do grupo de pesquisa do Programa de Iniciação Científica (PIC) intitulado Processos de ensino e aprendizagem na área de exatas por meio de metodologias contemporâneas, a convite da orientadora. Durante a conversa, o grupo buscava por uma definição do termo Metodologias Contemporâneas, por meio do estudo de revisão sistemática.
“Cada um estava pesquisando em uma base de dados e me senti muito motivada a entrar nessa aventura e pesquisar também. A professora Ana Paula perguntou se eu queria fazer parte do grupo e eu logo aceitei, embarquei nessa aventura de pesquisar e não quero parar mais”, relembra a estudante.
A maior contribuição do trabalho desenvolvido, de acordo com Karen, está em elucidar, de forma detalhada, o processo de busca pelo significado do termo Metodologias Contemporâneas em campo internacional. Além de trazer um arcabouço de trabalhos que seriam analisados em investigação posterior, para concluir, assim, se os trabalhos mostraram ou não o significado do termo.
Mas a construção da pesquisa também passou por momentos turbulentos e que fizeram Karen achar que “não levava jeito”. A análise de artigos na língua inglesa e o uso da ferramenta Excel foram alguns dos obstáculos encontrados pela jovem. “Até pensei em desistir, mas a professora Ana Paula me aconselhou a continuar. Por causa desse conselho, eu vejo que não posso mais parar de pesquisar”, declara.
“O processo foi bem difícil, pois, em primeiro lugar, eu estava começando a aprender tudo, desde o começo. Eu tinha uma compreensão de como fazer uma pesquisa, mas usando este tipo de metodologia, a revisão sistemática, foi a primeira vez. E eu fiz o estudo em uma base internacional. Tenho o nível básico em inglês, faço o curso U-best [disponibilizado gratuitamente pela Uninter], mas aqueles textos em linguagem culta, era muito difícil de entender”, explica Karen.
Com o auxílio de ferramentas de tradução, o estudo tomou forma, e até mesmo as “muitas correções necessárias” auxiliaram no aprendizado, que resultou na versão final do trabalho. Para a estudante, poder apresentar a pesquisa na 3ª SAM “foi algo emocionante”.
“Eu estava tão nervosa, mas tudo deu certo e eu senti, pela primeira vez, este sabor de satisfação de pesquisar, escrever e ver outras pessoas querendo ouvir sobre. Além da satisfação de ver a pesquisa publicada em um livro composto por outras pesquisas magníficas!”, garante.
A relevância do conhecimento de aplicação prática
A obra é uma organização da diretora da ESEHL da Uninter, Dinamara Machado, junto com a coordenadora da área de Exatas, Flavia Sucheck, e os professores do bacharelado e da licenciatura em Matemática, Guilherme Pianezzer e Ana Paula Elias. Flavia ressalta que ter um artigo publicado em um livro durante a graduação não é uma realidade comum para todos os estudantes. Por isso, parabeniza estes alunos protagonistas, que se dedicaram ao processo de descoberta da pesquisa e aceitaram o desafio dos professores.
“Gostaria de mencionar minha alegria em, mais uma vez, comprovar que nossos cursos pensam o ensino, a pesquisa e a extensão, sob uma perspectiva de excelência. Os professores do curso de Matemática e, principalmente, os estudantes que participaram da semana acadêmica e agora publicam seus artigos em uma obra, me orgulham muito e me fazem ter certeza de que a Uninter oferece educação a distância (EAD) de qualidade. Meus agradecimentos à instituição e à direção da ESEHL, por possibilitar que sejamos pesquisadores e incentivadores de futuros pesquisadores”, comenta a coordenadora.
Na apresentação da obra, os organizadores apontam que a leitura é relevante tanto para educadores quanto para pesquisadores e estudantes interessados em tendências educacionais e práticas, voltadas para as ciências exatas. Teorias, metodologias e aplicações práticas são oferecidas em busca de demonstrar a importância e as utilidades das pesquisas em diferentes contextos sociais.
Para Müller Santana, de 38 anos, é um “prestígio enorme sair de uma graduação com capítulo de livro publicado”. O monitor do curso está na fase final do bacharelado em Matemática da Uninter e também contribuiu para a obra com a pesquisa O trânsito de São Paulo sob a perspectiva da Teoria dos Jogos, junto ao professor orientador Guilherme. O estudo partiu de um trabalho da disciplina de Teoria dos Jogos, no qual deveria analisar um fenômeno local a partir da teoria. A temática foi uma consequência de morar na capital paulista.
“Precisava me dirigir de um extremo a outro [da cidade] e, no processo de escolha das rotas, percebi a possibilidade de elaborar uma situação que denominamos jogo. Para a teoria, um jogo é uma situação que consiste em interações estratégicas entre os entes envolvidos com objetivos conflitantes ou convergentes”, explica o acadêmico.
Segundo o orientador Guilherme, o bacharelado discute acerca de aplicações da matemática. Para o profissional, os campos que aparecem em alta são aqueles com aplicações práticas. Além da Teoria dos Jogos, apresentada por Müller, também a matemática financeira, a simulação computacional, teoria dos grafos e métodos numéricos. “Campos que resolvem problemas reais. Atualmente, a matemática também auxilia na resolução de problemas envolvendo Big Data, com técnicas estatísticas, dado o tamanho de crescimento da área”, salienta.
Para o desenvolvimento do trabalho, Müller realizou uma análise detalhada de rotas e mapas em horários variados e do transporte público entre as regiões de interesse. E, na sequência, uma modelagem de trajeto entre os bairros selecionados para verificar quais as melhores opções, entre a Marginal Tietê, Pinheiros ou ainda o uso de transporte público.
O uso crítico da Matemática é o que o pesquisador entrega como maior contribuição. “Usar o Ótimo Pareto [que busca pela alocação mais eficiente de recursos] e propiciar o bem-estar aos jogadores envolvidos me permitiu analisar a situação levando em consideração a ética e necessidade de todos, não só dos motoristas ou passageiros envolvidos no translato, mas também das comunidades no entorno do trajeto”.
O maior desafio neste processo, para o estudante, esteve em definir as variáveis consideradas: passageiros/motoristas, tempo ou distância. Enquanto, buscar na teoria um respaldo para uma definição na qual todos os envolvidos fossem beneficiados, neste caso o Ótimo de Pareto, foi justamente “o maior aprendizado”, garante.
“Gosto bastante de participar de eventos acadêmicos. A 3ª SAM foi uma maneira importante e interessante de divulgar a ciência e saber o que os colegas têm pesquisado. Fiquei muito surpreso e grato com a publicação. Considero um prestígio enorme, sair de uma graduação com capítulo de livro publicado”, finaliza Müller.
O professor Guilherme destaca que esses tipos de pesquisas são mais voltados a estudantes do mestrado, doutorado e que também trabalham com pesquisa. No entanto, os acadêmicos da graduação também podem, e devem, contribuir com a ciência.
“Saliento a importância [da publicação] para a nossa área, pela pluralidade que apresenta, por tratar de diferentes metodologias nos processos de ensino de matemática e por tratar de temáticas relevantes ao bacharel em matemática, como a teoria dos jogos, por exemplo”, conclui a professora Ana Paula.
A 4ª edição da SAM está prevista para acontecer ainda em agosto de 2024. A obra completa segue disponível para livre acesso, em formato digital, no site da editora Escolha Certa.
Autor: Nayara Rosolen - jornalistaEdição: Larissa Drabeski