Poetas fazem a cultura correr fluida na rede e nas ruas de São Gonçalo
Autor: Julia Siqueira - Estagiária de JornalismoAs cidades de São Paulo e Rio de Janeiro dominam de tal forma as atenções da produção cultural no Brasil que muitas vezes as pessoas se esquecem de olhar o que está acontecendo ao lado. E há tanta coisa! A menos de 30 minutos da capital fluminense, por exemplo, Renato Cardoso cria espaços para que a arte e a cultura permaneçam vivas e pujantes na web e nas ruas de São Gonçalo (RJ).
Cardoso, 38 anos, é responsável por inúmeros projetos de incentivo cultural, incluindo a revista digital Entre Poetas&Poesias e o projeto “Aqui tem escritores”. Orientador pedagógico do polo do apoio presencial da Uninter em São Gonçalo e pós-graduando da instituição no curso de Formação Docente em EAD, Renato da Silva Cardoso nasceu e foi criado na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Em 2004, entrou na graduação em Letras Português-Inglês na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por influência de um professor do seu curso de idiomas à época. “Nesse período eu trabalhava em outra área, bem diferente. Trabalhava na área de engenharia civil. Eu era técnico de edificações, formado no ensino médio técnico”, relembra.
Apenas dois anos depois de ingressar na faculdade, Renato teve a oportunidade de começar a atuar dentro da sala de aula. Hoje, já são quase 15 anos de profissão atendendo turmas que vão desde o ensino infantil até o ensino superior.
Mas não apenas do magistério vive Cardoso. Em 2009, por exemplo, o professor publicou seu primeiro livro de poesias, chamado “Devaneios de um Poeta”. Foi nessa época também que, em conjunto com J. Sobrinho, Nereis Ribeiro, Carlos Galeno e Marcelo Motta, Renato criou um projeto que gera resultados até hoje.
Trata-se do grupo literário “Diário da Poesia”, que realizava mensalmente saraus de poesia em São Gonçalo. Como ele mesmo descreve, ao longo do tempo o projeto foi crescendo, e em 2015 ganhou um novo sentido.
“Nesse período, tive a ideia de irmos às escolas. E aí todo esse projeto que a gente fazia presencialmente e apenas em um local, passamos a fazer também nas escolas públicas e particulares, levando cultura, arte e palestras para os alunos de São Gonçalo e região”, rememora Renato.
A nova fase do Diário ficou conhecida como “Diário Itinerante”. As visitas aconteciam aos sábados de manhã e, ao todo, cerca de 40 instituições de ensino, de creches a universidades, receberam o projeto.
No ano seguinte, mais uma etapa foi iniciada. Com o mesmo nome do grupo literário, Renato e seus colegas desenvolveram um jornal impresso local. Ele era distribuído gratuitamente nas escolas, centros culturais, bibliotecas e em pequenas lojas do comércio local.
“No jornal, divulgávamos os nossos trabalhos, a literatura e os eventos literários da cidade e da região. Era bimestral e com uma tiragem de 3 mil exemplares”, explica.
Infelizmente, por ser um projeto independente e sem qualquer tipo de incentivo financeiro, assim como toda a atividade do grupo até então, o jornal parou de ser produzido depois de 20 edições. “Ele acabou onerando muito e a gente não conseguiu chegar naquilo que a gráfica pedia, né? E como a gente não tinha um patrocinador master, que bancasse toda a produção em troca da divulgação da marca ou outras coisas que poderiam acontecer, como levar ela para os itinerantes, para os festivais que a gente participava, tivemos que parar a produção”, relata.
Do diário à revista
De 2009 para cá, muita coisa aconteceu. Além do desenvolvimento do projeto “Diário Itinerante” e do jornal impresso, cinco livros coletivos, com trabalhos de Renato, J. Sobrinho, Mereis Ribeiro, Carlos Galeno e Marcelo Motta, foram publicados. Mas não para por aí.
Em 2019, o grupo de poetas deu mais um passo. Dessa vez, investiu no alcance que a internet tem e criou um portal online, também com a marca do grupo. O portal “Diário da Poesia”, segundo Renato, foi um trabalho experimental criado para dar continuidade ao serviço que o jornal impresso prestava.
“Selecionei 20 escritores e a gente ficava divulgando os trabalhos. Tinha um espaço também para quem não era colunista. As pessoas mandavam seus textos para a gente divulgar, assim como agenda cultural, tudo direitinho”, comenta.
Contudo, o portal não ficou muito tempo no ar. No fim do ano passado, vendo a necessidade de uma reformulação e novos desafios, todas as atividades ligadas ao “Diário da Poesia” foram suspensas e uma nova marca foi criada: a revista digital Entre Poetas&Poesias.
Trata-se de um portal literário com cerca de 30 colunistas amadores, entre jovens e adultos, com material escrito, em áudio e, em breve, também em vídeo. Ele foi criado em dezembro de 2019 e lançado oficialmente em janeiro deste ano.
Assim como foi com o grupo literário, lá em 2009, a revista tem aberto várias portas para o professor. Graças aos resultados da revista, Renato também desenvolveu um projeto chamado Suplemento Araçá, periódico mensal dedicado ao público acadêmico. Isso sem contar o espaço que, junto com J. Sobrinho, o poeta conseguiu em uma rádio local para apresentar seu próprio programa, o Arte, Cultura e Outras coisas.
A educação perde quando arte e cultura saem da escola
Em todos esses projetos, o objetivo sempre se manteve o mesmo: levar a cultura e a arte para a população, começando pelos mais jovens. Por este motivo, os trabalhos nas escolas não pararam, mas ganharam uma nova dinâmica.
Hoje, a iniciativa é conhecida pelo nome “Aqui tem Escritores”, que concede um certificado a todas as instituições de ensino que participam. Além disso, um concurso de poesia é organizado pela instituição, após a visita do projeto. Estes trabalhos são enviados para avaliação de Renato e seus colegas do Diário. Os vencedores são premiados com medalhas e certificados, tudo custeado pelos próprios idealizadores do projeto.
Outra maneira de incentivo que Renato leva às escolas são os exemplares compostos pelos trabalhos dos próprios alunos. Durante o ano, 5 ou 6 textos são escolhidos por segmento (ensino infantil, fundamental e médio), em cada uma das instituições que participaram do “Aqui tem Escritores”. No fim do ano, cada aluno que teve seu trabalho escolhido ganha um livro de poesias, com a publicação do seu poema e dos colegas selecionados.
Para Renato, esse tipo de impulso para colocar os jovens a par da cultura do próprio país é fundamental. E mais: não se trata apenas de introduzir esse universo a eles, e sim, de estimulá-los a continuar explorando.
“Hoje em dia essa galerinha não curte pegar um livro para ler, e nessa era da digitação, então, escrever menos ainda. Foi através dessas visitas nas escolas que a gente percebeu que, na verdade, eles até gostam. O que acontece é que eles não são estimulados a isso. Quando eles começaram a perceber que poderiam ser publicados, estar no jornal, no site ou até mesmo em um livro, a produção aumentou assustadoramente”, comenta Renato, complementando com alguns resultados que o projeto trouxe.
Nesse contexto, Renato também comenta sobre como a cultura, aliada à educação, pode ajudar no desenvolvimento do jovem como indivíduo e cidadão.
“Acho que a educação se perdeu no momento em que a cultura e a arte saíram de dentro das escolas. A escola ficou fria no momento em que o Ministério da Educação cede para escolas um ranking do Enem, dizendo em que posição ela está. Um ranking que vai dizer ‘ó, você é melhor’ ou ‘você está em 6º lugar, melhore’. E aí fica aquela coisa mecanizada, preparando o aluno apenas para o vestibular sem se lembrar da parte cultural, da parte artística, que também leva à formação de um ser pensante, de um ser crítico. Leva à formação de pessoas boas para a sociedade, que vão buscar melhorias para todo o contexto em que a gente vive”, desabafa.
Hoje a revista Entre Poetas&Poesias tem mais de 70 mil acessos, média de aproximadamente 25 mil por mês. “Para a gente é muito gratificante ter todo esse trabalho de divulgação ampliado e crescendo cada vez mais”, conclui.
Autor: Julia Siqueira - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal Renato Cardoso
Parabéns Professor Renato Cardoso pelo belíssimo trabalho de arte e cultura que fazem a diferença.