Pode a luz de um vagalume reescrever a história do universo inteiro?

Autor: Daniel Guimarães Tedesco

Uma das descobertas mais importantes da astronomia moderna acaba de ser anunciada (e não é clickbait): foi observada uma galáxia que existia quando o universo tinha apenas 600 milhões de anos de idade – um período extremamente inicial de sua história de 13,8 bilhões de anos –, usando o Telescópio Espacial James Webb. E o que torna isso ainda mais espantoso é que essa galáxia tem características que, segundo nossos modelos teóricos atuais, não deveriam existir tão cedo na história do universo.  

Primeiro, vamos entender o que significa observar objetos tão distantes no universo. Quando olhamos para o céu, estamos “olhando para o passado”. A luz das estrelas e galáxias demora um tempo para chegar até aqui; quanto mais distante o objeto, mais antiga é a luz que recebemos dele. No caso desta galáxia, com um nome bem ludifico Firefly Sparkle ou Brilho do Vagalume, a luz que captamos hoje iniciou sua viagem há mais de 13 bilhões de anos. Se comprimíssemos toda a história do universo em um único ano, esta observação corresponderia a eventos ocorridos por volta do dia 5 de janeiro. 

Este fato, publicado na revista Nature, já está “causando” na comunidade científica. Não gosto de simplificar demais, mas este é um fenômeno análogo a ver um “bebê-adulto” de 1 mês de idade tocando Mozart no piano, algo simplesmente não cabível na nossa compreensão atual do desenvolvimento humano. O brilho desse vagalume mostra sinais de organização e complexidade que teoricamente deveriam levar muito mais tempo para se desenvolver. 

E o que torna ainda mais significativo e chamativo é o fato desta galáxia se parecer com uma “foto de um bebê conhecido” e muito familiar para nós: a Via Láctea. As análises indicam que a massa do Firefly Sparkle é compatível com o que nossa galáxia teria apresentado naquela época, oferecendo uma janela para nosso próprio passado. 

Mas por que essa observação é tão importante assim? Sendo bem irônico, com esses dados nós precisamos “somente” rever e reescrever vários capítulos de nossos livros de física e astronomia. Veja os impactos. 

  • Formação de estrelas no universo primitivo– Verificamos que as primeiras estrelas do universo podem ter sido muito diferentes das que vemos hoje. A Firefly Sparkle está formando estrelas com mais massa do que o normal, algo que os cientistas chamam de “top-heavy”. É como se o universo jovem preferisse criar gigantes em vez de anões estelares. 
  • Química do universo primitivo – Esta galáxia bebê tem apenas 2% dos elementos pesados que encontramos em nosso Sol. Isso nos dá indícios sobre como os elementos químicos foram se formando ao longo do tempo no universo, algo fundamental para entender o universo e nossa existência. E isso pode gerar implicações até na área da biologia via astrobiologia. 
  • Velocidade da evolução do universo – Talvez seja um dos paradigmas mais importantes a ser quebrado que é a descoberta de que o universo primitivo era muito mais dinâmico e eficiente em criar estruturas complexas do que pensávamos. É como se tivéssemos descoberto que nossos ancestrais já tinham tecnologias avançadas muito antes do que imaginávamos. 

Tudo isso exige uma revisão dos modelos teóricos e computacionais utilizados para simular a evolução do universo primitivo. Os dados observacionais obtidos pelo telescópio James Webb indicam que as premissas sobre formação e evolução galática precisam ser reavaliadas, particularmente em relação à velocidade de formação de estruturas complexas e à distribuição inicial de massa estelar. 

Acho que esse vagalume ainda vai fazer algum barulho na Astronomia e Astrofísica… 

 

(*) Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ, Professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias no Centro Universitário Internacional UNINTER.

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Autor: Daniel Guimarães Tedesco
Créditos do Fotógrafo: Pexels


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