Pessoas surdas buscam espaço na sociedade
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismoSegundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5% da população brasileira é composta por pessoas surdas. São cerca de 10 milhões de cidadãos, dos quais 2,7 milhões possuem surdez profunda.
Mesmo em grande número, a população com deficiência auditiva ainda sente na pele o preconceito e a falta de estrutura em diversos ambientes da sociedade. Com certeza você já presenciou situações em que a comunicação foi um problema, tornando a situação desconfortável.
“Ainda existe um preconceito, um estigma. As pessoas olham de um jeito negativo e fazem um tratamento diferente”, afirma Rafaela Hoebel, intérprete de libras e professora no curso de Letras da Uninter.
Ela foi uma das convidadas da live promovida pela Escola de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter. Transmitida pelo Instagram do curso de Negócios Imobiliários em 7 de junho, a conversa teve como convidados Tania Lisboa e Mauro Hashimoto, professores da Uninter ligados à temática. A mediação foi feita pela professora Karen Sturzenegger.
Rafaela, assim como outros intérpretes, atua durante as transmissões de aulas e eventos da instituição para promover o acesso de pessoas com problemas auditivos através da língua de sinais. Durante a live, ela falou por meio de Libras e foi traduzida por Tania, que também é intérprete.
“Não tenham receio de se comunicar. Os surdos não são todos iguais, cada um tem seu perfil, sua identidade, assim como todos os ouvintes”, afirma Rafaela.
Na visão da intérprete, ainda falta muito no quesito acessibilidade. Do ponto de vista do mercado econômico, o consumidor surdo tem dificuldades para ter acesso a serviços e produtos, esbarrando sempre no idioma.
Comunicação sem barreiras
Instituída em 2002, a lei 10.436 reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Mas a história dessa língua começou muito tempo antes.
Nascida da miscigenação da antiga língua de sinais brasileira com a antiga língua de sinais francesa, a Libras começou a ser pensada no século 19, por meio da fundação do antigo Instituto dos Surdos, hoje Instituto Nacional da Educação. No século 20, movimentos se intensificaram pela oficialização da língua, entrando em batalha para a sua regulamentação desde 1993.
Mesmo após a instituição da lei de reconhecimento da língua, a comunicação entre pessoas com deficiência auditiva e ouvintes ainda simboliza uma barreira na sociedade. É pensando nisso que são desenvolvidas ferramentas tecnológicas para ajudar a superar os desafios.
Exemplos dessa iniciativa são equipamentos como o TDD (telefone para surdos), programas de computador e telefones ou celulares com vídeo conferência que facilitam a comunicação para fins pessoais ou profissionais.
Além das tecnologias, projetos e iniciativas são pensadas pelos atores sociais para melhorar essa comunicação. Um exemplo disso é o Projeto de Lei nº 3488 de 2021, que trata sobre a obrigatoriedade de empresas de call centers, serviços de atendimento ao consumidor e assemelhados disponibilizarem atendimento por meio de chamada de vídeo para pessoas surdas.
Liberdade, autonomia, dignidade e igualdade são o que as pessoas com deficiência auditiva requisitam para si. Essas demandas são representadas pela sigla Ladis, criada por Felipe Barro, CEO e idealizador da SignumWeb, empresa que tem como foco a acessibilidade comunicativa entre surdos e as empresas.
O objetivo de Felipe, que também é deficiente auditivo, é tornar essa parcela da população cada vez mais consciente dos seus direitos e deveres, como a escolaridade, o acesso ao mercado de trabalho e o direito ao livre trânsito.
Pedagogia que acolhe
A luta não é de hoje, mas mesmo assim ainda existem dificuldades em implementar iniciativas pedagógicas que permitam o acesso e a integração dessa população ao sistema regular de educação. “Nas escolas, é aplicada uma metodologia que não é eficiente para quem não escuta”, diz Rafaela.
Ela explica que a busca é por uma educação bilíngue, que oportunize a escrita e a língua de sinais. “Temos que respeitar a diversidade”, ressalta.
Para promover essa inclusão, a Uninter possui o Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Sianee).
O departamento presta apoio aos alunos, buscando tornar os eventos e materiais audiovisuais acessíveis para a comunidade através dos intérpretes de Libras.
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismoEdição: Larissa Drabeski