Pelo fim dos trotes maliciosos nas universidades

Autor: Charline Costa Pinho (*)

Desde tempos imemoriais, as universidades ao redor do mundo têm sido berço de conhecimento, aprendizado e crescimento pessoal. No entanto, essa jornada educacional muitas vezes começa com uma tradição obscura e prejudicial: os trotes universitários maliciosos. Embora alguns defendam essa prática como uma forma de integração social, é inegável que muitos trotes ultrapassam os limites do bom senso e da dignidade humana.

Os trotes maliciosos, infelizmente, são uma realidade em muitas instituições de ensino superior, causando danos emocionais, físicos e psicológicos aos calouros. Eles variam desde humilhações públicas até situações perigosas que colocam a vida dos estudantes em risco.

Exemplo é o caso dos estudantes de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ocorrido em setembro de 2023, que realizaram um trote violento em que um grupo de pessoas deveria ficar de joelhos e com as mãos no chão, e os que permaneciam em pé passavam produtos não identificados nas costas do que estavam abaixados.

Outro fato ocorrido recentemente foi dos alunos de Medicina da Universidade de Santo Amaro (UNISA), onde veteranos da faculdade incentivaram os calouros a abaixarem as calças e desfilarem se masturbando durante uma partida de vôlei feminino válida por um torneio universitário em São Carlos, interior de São Paulo. Inúmeros casos poderiam ser relatados, porém é hora de questionarmos seriamente a validade dessas tradições arcaicas que perpetuam a cultura do abuso e da violência.

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que os trotes maliciosos não são apenas uma brincadeira inofensiva, como alguns podem argumentar. Eles têm consequências sérias, afetando a autoestima, a confiança e o bem-estar emocional dos calouros. Muitos estudantes ingressam na universidade com grandes expectativas e entusiasmo, apenas para serem recebidos por atos cruéis que deixam cicatrizes emocionais duradouras.

Além disso, os trotes maliciosos perpetuam uma cultura de bullying e normalizam o comportamento abusivo. Eles enviam a mensagem de que é aceitável ridicularizar e humilhar os outros, criando um ambiente tóxico que é prejudicial para o desenvolvimento saudável dos estudantes. Em uma época em que estamos cada vez mais conscientes da importância do respeito mútuo e da empatia, é contraditório permitir que tais práticas persistam.

Em segundo lugar, é fundamental entender que a integração dos calouros pode e deve ser feita de maneira positiva e construtiva. Em vez de focar em atividades que causam sofrimento, as universidades poderiam investir em iniciativas que promovam a amizade, o apoio mútuo e o senso de comunidade.

Além disso, as instituições têm a responsabilidade de educar os estudantes sobre o impacto negativo dos trotes maliciosos. Wokshops, palestras e campanhas de conscientização podem aumentar a compreensão sobre o problema e encorajar a denúncia de práticas abusivas. Ao criar um ambiente onde o respeito e a dignidade são valorizados, podemos transformar a cultura dos trotes em algo do passado, uma lembrança de uma era menos esclarecida.

É imperativo que as universidades tomem medidas sérias para erradicar os trotes maliciosos de seus campi. A tradição não deve ser uma desculpa para perpetuar o abuso e a crueldade. Em vez disso, devemos nos esforçar para criar ambientes de aprendizado que se baseiem no respeito, na compaixão e na empatia. Somente assim poderemos verdadeiramente afirmar que nossas instituições de ensino superior são lugares de crescimento intelectual e humano, livres de práticas prejudiciais e destrutivas.

Charline Costa Pinho é Graduada em Pedagogia, Especialista em Tutoria em EAD, Metodologias Ativas na Docência, Professora e Tutora no Centro Universitário Internacional Uninter.

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Autor: Charline Costa Pinho (*)
Créditos do Fotógrafo: hugovk/Flickr


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