Pandemia reforça necessidade do uso racional de medicamentos

Autor: Vinícius Bednarczuk de Oliveira e Patrícia Rondon Gallina

Desde que o coronavírus se tornou um problema emergencial de saúde pública mundial, muitos pesquisadores vêm buscando encontrar a possível “cura” para a doença. Muitos estudos sobre medicamentos e vacinas estão sendo desenvolvidos em diversos países a fim de conseguir controlar a pandemia, que infelizmente já fez milhares de vítimas em todo o mundo.

Correndo contra o tempo, os pesquisadores buscam solução em medicamentos já existentes no mercado, tentando assim reduzir os danos até que saiam os resultados das pesquisas, uma vez que os medicamentos que já se encontram à venda atualmente já passaram por diversos testes para garantir sua eficácia, toxicidade e possíveis efeitos colaterais.

Porém, recentemente noticiou-se sobre a compra e uso indiscriminado de determinados medicamentos, que estão sendo pesquisados como possível tratamento para a Covid-19, demonstrando o uso não racional destas drogas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, uso racional de medicamentos é quando “pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade”. Será que em tempos de pandemia devido ao coronavírus, tem-se promovido esta prática?

O que temos visto aumentar diariamente, em meio ao cenário em que estamos vivendo, é a busca incessante por informações sobre medicamentos na internet, resultando no aumento da errônea prática da automedicação.

Por sua vez, entende-se por automedicação o “ato de tomar medicamentos por conta própria sem uma orientação médica”. Este ato parece ser a solução nos momentos em que é preciso aliviar sintomas, como os de uma dor de cabeça ou uma dor muscular por exemplo. Mas, e quando a população começa a se automedicar com medicamentos destinados a doenças específicas, como é o caso do lúpus, artrite reumatoide e a malária?

Estamos falando da automedicação de hidroxicloroquina, popularizada em março, após ter sido divulgado o artigo intitulado Efficacy of hydroxychloroquine in patients with COVID-19: results of a randomized clinical trial, sobre o uso de hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, realizado no Hospital Universitário da Universidade de Wuhan, na China, onde os pesquisadores ainda discutiam as evidências científicas.

Após a divulgação deste trabalho nas mídias mundiais, viu-se a população fazendo filas nas farmácias para garantir acesso a este medicamento por conta própria, mesmo sem ter o diagnóstico de Covid-19. Porém, os pacientes que realmente precisam dessa medicação, como pessoas com artrite reumatoide, por exemplo, podem ver sua patologia se agravando pela falta do uso da medicação ou ainda identificar o retorno de sintomas, como a queda de cabelo, dores articulares e aumento do processo inflamatório.

Diante disso, a fim de conter o consumo indiscriminado do medicamento por pessoas que não possuem indicação de uso da hidroxicloroquina e da cloroquina e de modo a assegurar o tratamento de pacientes que fazem uso contínuo dessa medicação sem ameaça de desabastecimento, a Anvisa, por meio da RDC 351/2020 incluiu as duas drogas na Portaria 344/1998, que dispõe sobre medidas de controle para produção e venda de substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial.

Dessa forma, atualmente para comprar o medicamento e garantir o seu tratamento, o paciente deve apresentar uma receita de controle especial em duas vias com validade de 30 dias. Porém, a medida não é válida para programas públicos governamentais. Esta medida garantiu estoque para os pacientes que necessitam do medicamento, mas por outro lado aumentou o fluxo em clínicas e hospitais para que estes pacientes conseguissem a receita médica.

A venda descontrolada do medicamento gerou dois problemas: o primeiro foi o desabastecimento do produto nas farmácias, deixando pacientes que realmente precisam fazer uso contínuo do medicamento sem conseguir adquiri-lo. O segundo foi entender quem estava tomando este medicamento e tentar identificar quais efeitos poderiam aparecer.

Um dos efeitos colaterais que pode ser causado pelo uso inadequado da hidroxicloroquina são batimentos cardíacos irregulares, que podem evoluir para arritmia cardíaca e eventualmente levar à morte. Ou seja: este medicamento só deve ser utilizado com prescrição e indicação médica.

Houve ainda outro medicamento que, após ser anunciado como possível tratamento para a Covid-19, também foi adicionado à portaria de medicamentos controlados para evitar o desabastecimento e o uso irracional desta droga. A nitazoxanida, conhecida pelo nome comercial de “Anitta”, é um antiparasitário (popularmente conhecido como vermífugo) e que agora também precisa de receita médica para poder ser adquirido.

Por fim, ressalta-se que o uso de medicamentos deve sempre ser feito com orientação de um profissional de saúde, pois o seu uso indiscriminado pode trazer problemas graves à saúde. Use medicamentos apenas quando necessário, e não deixe quem realmente precisa sem poder utilizá-los. O dia 5 de maio é lembrado por ser o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento, data que tem como objetivo alertar a população quanto aos riscos à saúde causados pela automedicação.

* Vinícius Bednarczuk de Oliveira é farmacêutico, doutor em Ciências Farmacêuticas, coordenador do curso de Farmácia da Uninter. Patrícia Rondon Gallina é farmacêutica, MBA em Farmácia Estética, professora do curso de Farmácia da Uninter.

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Autor: Vinícius Bednarczuk de Oliveira e Patrícia Rondon Gallina
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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