Os sons da musicalidade preta

Autor: Natália Schultz Jucoski - Estagiária de Jornalismo

A música é um agente transformador que atravessa os séculos e que ocupa um espaço de transformação na humanidade. Para a população preta, ela também é um espaço de resistência.

O violonista e compositor Jean Gabriel é natural do Rio de Janeiro. Ele veio para Curitiba com o objetivo de estudar, mas acabou ficando pela capital paranaense. É formado em Filosofia e pós-graduado em Pedagogia e Performance de Violão Erudito e Popular. Seus trabalhos consistem em trilhas sonoras para cinema, rádio e TV. Ao longo dos anos, Jean ganhou prêmios pelas suas produções.

A música veio muito antes da formação acadêmica e tem um papel muito importante em sua vida desde cedo, inclusive em sua ancestralidade preta. “O povo preto é musical. Eu tenho como primeira experiência musical, de uma relação com as artes, pela minha mãe. Quando comecei a estudar música, entrei para o conservatório para estudar de maneira formal e já tinha muita cultura de apreciação musical”, conta.

Além de aprender, ele também ensina. Em ambos os cenários ele nunca se viu rodeado de colegas pretos. “Nesses lugares, tanto na música de concerto, como no cinema, como em aula, [a população preta] é sempre uma minoria”. Quando Jean atuou como professor e realizador de um curso de extensão sobre música e política, era a única pessoa negra do projeto. Apesar das dificuldades, elas não foram o suficiente para desmotivá-lo.

Um dos pontos que Jean traz na relação entre musicalidade, espaço e negritude é que, apesar de considerar que o meio artístico tem um caráter mais progressista com relação a outras áreas da sociedade, ainda é preciso discutir medidas efetivas de acesso fácil para a população negra. Os músicos pretos na cena instrumental existem. O compositor exemplifica Bola Sete, nome artístico de Djalma de Andrade, que foi um dos violonistas brasileiros mais importantes do país e que ficou mais conhecido fora do Brasil.

Música que transforma

Para o violonista, a música atua como um remédio direto para o sentimento de banzo. Segundo o Google, um dos significados da palavra banzo é: “processo psicológico causado pela desculturação, que levava os negros africanos escravizados, transportados para terras distantes, a um estado inicial de forte excitação seguido de ímpetos de destruição e depois uma nostalgia profunda que induzia à apatia, à inanição e, por vezes à loucura ou à morte”.

“A herança histórica que os pretos escravizados tiveram e o processo de liberdade foi um pouco velado. Então tem muita coisa tóxica, muito veneno que amarra as possibilidades de uma pessoa preta pode ter dentro de uma vida num sistema capitalista”, explica Jean.

O hip-hop um gênero que exemplifica o diálogo da música com a periferia, educação e transformação. As religiões de matriz africana são outro exemplo de como colocar a musicalidade como algo importante na sociedade e para trazer visibilidade a comunidade negra.

Atualmente Jean está no processo de produção de dois projetos: seu primeiro álbum como solista e um livro de composições originais para o violão. Você pode acompanhar o trabalho dele através do site jeangabriel.art.

Nova temporada, nova apresentação

O tema foi debatido no Papo Castiço, da Rádio Uninter. Em nova temporada, o programa agora é comandado pela professora e coordenadora de cursos de pós-graduação da Uninter Joice Diaz.

O Papo Castiço vai ao ar todas as quartas-feiras, às 10h. Para conferir o episódio em questão, clique aqui.

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Autor: Natália Schultz Jucoski - Estagiária de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Divulgação e reprodução


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