Os possíveis cenários para a eleição presidencial de 2022
Autor: Arthur Salles - Estagiário de JornalismoÉ possível dizer que os principais polos políticos para a eleição presidencial de 2022 foram definidos em 8.mar.2021. Na data, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin decidiu que a 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba era incapaz de processar e julgar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O deferimento anulou as condenações do petista e reestabeleceu seus direitos políticos para concorrer ao pleito de 2022.
Se com Lula inelegível havia dúvidas sobre quem seria o principal opositor do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a movimentação no campo político após a decisão do tribunal indica o ex-presidente como o nome mais forte para a disputa. As especulações sobre candidaturas de centro-esquerda, com o pedetista Ciro Gomes, ou de centro-direita, entre os peessedebistas João Doria e Eduardo Leite, continuam, mas sem o peso imaginado num cenário sem Lula no páreo.
Pesquisas realizadas próximas à data trazem Lula na liderança nas intenções e no potencial de votos para a corrida presidencial. O levantamento do PoderData, entre 15 e 17 de março, mostra Lula com 34% das predileções ante os 30% de Bolsonaro. Num potencial segundo turno, o petista tem cinco pontos de vantagem (41%) frente ao atual presidente.
Antes mesmo da anulação das condenações, o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) apontava o ex-presidente como o líder em potencial de votos (50%). Bolsonaro vinha logo atrás, com 38%. A pesquisa mede a aceitação de nomes passíveis à candidatura, não se tratando de uma disputa direta. O levantamento foi colhido entre os dias 19 e 23 de fevereiro e divulgado pelo jornal O Estado de São Paulo.
Seguindo essas constatações, os professores de Ciência Política da Uninter André Ziegmann e Karolina Roeder apresentaram suas opiniões quanto às possibilidades para a próxima eleição. Ziegmann apontou seis possíveis cenários: em três deles, Lula mantém-se como principal opositor à reeleição de Bolsonaro; na outra metade, o petista sai de cena e dá lugar a outro candidato na sigla. É necessário lembrar que os processos relacionados a Lula foram enviados a Justiça Federal do Distrito Federal, que passa a ser responsável pela validação ou não dos atos processuais.
Com Lula e Bolsonaro na disputa, a situação de maior probabilidade seria a divisão dos outros presidenciáveis em dois núcleos: um de centro-direita (entre Doria, Leite e até mesmo Luciano Huck) e outro de centro-esquerda (protagonizado por Ciro). Outras considerações, como a união desses nomes de centro apoiando um único candidato contra Lula e Bolsonaro, são vistas com baixo potencial por Ziegmann.
“Eu não imagino, por exemplo, o Ciro candidato e todo mundo no palanque com ele, como o Doria, o Huck, o Amoêdo”, comenta o professor.
Caso o PT (Partido dos Trabalhadores) lance outro nome ao páreo e antagonize o pleito com Bolsonaro, a situação seria favorável a uma pulverização de presidenciáveis, como ocorrido em 2018. Lula tentaria transferir seu apelo e capital político a outro nome, como na última eleição, em que Fernando Haddad conquistou 44,8% dos votos no segundo turno apoiado pelo ex-presidente.
“O fato de não ter esse peso do Lula estimula candidaturas. Aí o mais provável é que se repita o cenário de 2018: um candidato apoiado pelo Lula contra o Bolsonaro”, diz Ziegmann.
Para Karolina, a postura do PT para 2022 é mais conciliadora, remetendo à Carta ao povo brasileiro, assinada por Lula na eleição de 2002, quando saiu vitorioso. Na publicação, o então candidato passava um discurso moderado, que mirava o alinhamento com o empresariado e a classe média brasileira no combate à crise financeira.
“Eu acho que o PT vai tentar, como já mostrou no discurso do dia 10, buscar o centro. Ali ele já sinalizou para todos os setores: empresários, Exército, Forças Armadas, mercado financeiro”, diz. “É diferente do PT depois de 2016, [que tinha] um discurso muito mais radicalizado.”
Bolsonaro, que enfrenta a maior desaprovação de governo em um primeiro mandato, atravessa seu segundo ano na presidência marcado por suspeitas de crimes e a pior gestão da pandemia de Covid-19 no mundo (como aponta o Instituto Lowy), em que o Brasil acumula quase 300 mil mortes pela doença. Na pesquisa do PoderData, a avaliação do trabalho do presidente marcou recorde como “ruim/péssimo” (52%), que coincidiu com a menor pontuação de “ótimo/bom” (24%) do governo segundo os registros do instituto.
Mesmo assim, Ziegmann avalia que a rejeição a Bolsonaro tem um peso equivalente ao antipetismo deflagrado desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. As tensões políticas acumuladas pela operação Lava Jato, que que ocasionaram na prisão de Lula em 2018, passam a ter menor poder de decisão com o julgamento de suspeição do ex-juiz Sergio Moro em 23.mar.2021. Na ocasião, o STF apontou para parcialidade do magistrado no processo de julgamento do petista, o que favorece a inocência apontada pela defesa de Lula (o caso ainda está em discussão no STF).
“O PT também enfrenta muita resistência. Nós podemos ter um segundo turno de resistência aos candidatos. […] Essa rejeição é ruim para qualquer candidato”, finaliza Ziegmann.
O bate-papo entre os professores ocorreu em 22.mar.2021, em transmissão realizada na página do curso de Ciência Política no Facebook. Para conferir a apresentação na íntegra, clique neste link.
Autor: Arthur Salles - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Ricardo Stuchert/PR/Agência Brasil