Os objetivos sustentáveis da ONU aplicados ao ensino superior

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Toda ação, seja individual ou coletiva, impacta em outras pessoas e, automaticamente, o planeta como um todo. Em 2015, a ONU consolidou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com 169 metas a serem cumpridas até o ano de 2030, um acordo entre 193 países. O apelo universal visa a proteger o planeta e garantir que todas as pessoas vivam com dignidade.

As relações internacionais muitas vezes são marcadas por desconfiança e conflitos. No entanto, ao observar iniciativas como a criação dos ODS é possível visualizar uma realidade de muito intercâmbio, cooperação e comunidade. Os objetivos passam por questões como a erradicação da pobreza e da fome, promoção da igualdade de gênero, educação e saneamento básico para todos, até a economia inclusiva, produção e consumo sustentável, medidas para combater os impactos da mudança climática e promover o desenvolvimento sustentável.

A partir disso, o governo brasileiro, em parceria como a ONU no Brasil, desenvolveu o Marco de parceria para o desenvolvimento sustentável (2017-2021). O documento é uma forma de simplificar os 17 eixos dos ODS, sendo trabalhados de forma integrada. Assim, se constituíram os 5 Ps:

  • Pessoas: erradicar a pobreza e a fome de todas as maneiras e garantir a dignidade e a igualdade.
  • Planeta: Proteger os recursos naturais e o clima do nosso planeta para as gerações futuras.
  • Prosperidade: Garantir vidas prósperas e plenas em harmonia com a natureza.
  • Paz: Promover sociedade pacíficas, justas e inclusivas.
  • Parcerias: Implementar a agenda por meio de uma parceria global sólida.

De acordo com a professora Francieli Castro, diretora da Escola de Polos da Uninter, as instituições possuem papel fundamental na consolidação da sustentabilidade e no cumprimento dos ODS. “Além de implementar inovações que tornem todo o processo produtivo e a cadeira de valor mais sustentáveis, devem garantir a diversidade e a inclusão, o emprego digno e a segurança. O bem-estar de todos os seus colaboradores”, salienta.

O professor André Frota, mestre em ciência política e especialista em análise ambiental, lembra ainda que todos os ODS devem ser pensados a partir dos 3 Is: indivisibilidade, integração e interdependência. Para o profissional, a humanização é essencial quando se pensa na gestão de uma instituição. “O que seria da humanização sem a nossa humanidade? O que nos une do ponto de vista internacional se não a nossa humanidade?”, indaga.

No âmbito das universidades, existem três índices globais de avaliação internacional que se destacam. O Times Higher Education, o Quacquarelli Symonds QS e o Academic Ranking of World Universities. Desde 2018, se tem também o The Impact Rankings, que avalia as instituições com base nas ações em direção aos ODS.

Neste último caso, a universidade é sempre avaliada pelo ODS 17, que diz respeito a “parcerias e meios de implementação”, além de mais três objetivos, que são escolhidos pela própria instituição a ser avaliada.

Em primeiro lugar se encontra a Universidade de Manchester, no Reino Unido, seguida da Universidade de Sydney, na Austrália. O Brasil aparece na 48º colocação, com a Universidade de São Paulo (USP). A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM) também aparecem na lista.

Como implementar os ODS no ensino superior

Para colaborar com a implementação dos objetivos nas universidades, existem alguns documentos instrumentais, como a metodologia australiana Getting Started With The SDGS in Universities.

O guia apresenta o que os ODS promovem para as instituições, como o aumento da demanda de formação sobre os objetivos, a definição globalmente aceita e compreendida do conceito de universidade responsável, a estrutura para demonstrar o impacto causado e a colaboração com novos sócios tanto internos como externos.

E também demonstra como as universidades podem somar para os ODS: com soluções, conhecimento e ideias inovadoras; formam os atuais e futuros executores e responsáveis por implementar mudanças; servem de modelo sobre como apoiar, adotar e implementar os objetivos na governança, nas políticas de gestão e na cultura; e desenvolvem lideranças intersetoriais que orientam os ODS.

Conforme aponta o manual, é preciso seguir cinco passos:

  1. Mapeamento do que está sendo feito
  2. Desenvolver competências e liderança interna e dos ODS
  3. Identificar prioridades, oportunidades e deficiências
  4. Integrar, implementar e incorporar os ODS nas estratégias, políticas e planos da universidade
  5. Monitorar, avaliar e comunicar suas ações com respeito aos ODS

Reconhecimento

Ainda em 2018, foi criado o Prêmio ODS da Rede Brasil do Pacto Global, que reconhece práticas empresariais e de ensino que contribuam para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São escolhidos projetos dentro de três categorias: Empresas, Academia e SDG Pioneers – Jovem Profissional Brasil. Podem participar organizações governamentais e não-governamentais, instituições públicas e privadas de ensino, pesquisa e extensão.

Segundo a professora Renata Garbossa, doutora em geografia e coordenadora da área de Geociências da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, foram quase 730 projetos inscritos, analisados por uma comissão de profissionais que selecionaram os que tiveram maior êxito e aderência aos ODS.

A profissional cita três projetos de destaque. Primeiro, o Água, esgotamento sanitário e higiene para a qualidade de vida de populações ribeirinhas na Amazônia, desenvolvido em Tefé (AM), pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Em seguida, o Barragem subterrânea: promovento acesso e usos da água no semiárido brasileiro, realizado em Recife (PE), pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (EMBRAPA).

E por último, o Observatório de territórios sustentáveis e saudáveis da bocaina, no Rio de Janeiro (RJ), projeto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Iniciativas Uninter

Segundo Garbossa, a ESE, assim como todas as escolas superiores da Uninter, realiza ações voltadas para o ODS já há alguns anos. Um meio pelo qual isso acontece é o Grupo de Trabalho (GT) de sustentabilidade.

O GT busca a elaboração, o monitoramento, avaliação e revisão do Plano de Logística Sustentável em consonância com as regras estabelecidas na resolução 89/2014 (CEPE). Desde o ano passado, o plano está consolidado pela Portaria nº 47/2021, sob a liderança do pró-reitor de graduação Rodrigo Berté, com a participação de profissionais de todos os setores, áreas e escolas.

“Além disso, as aulas magnas, o global meeting e todas as demais atividades em escala institucional, para além das escolas, sempre trazem os ODS muito presentes. O que a gente quer colocar também é a importância de toda vez que formos discutir, debater a questão, deixar marcado a simbologia dos ODS para que os estudantes percebam o significado de tudo isso e consigam de fato entender esse processo a partir da própria imagem”, explica Garbossa.

A professora ainda lembra dos estudos de caso e portfólios realizados pelos estudantes, além dos projetos de extensão, todos pensados dentro dos ODS.

“Pensamos isso de forma coletiva, sob a gestão da professora Dinamara Machado [diretora da Escola Superior de Educação], sempre lembrando dos nossos fluxos e processos. Para o ano de 2022, tudo está desenhado. Todos os portfólios, estudos de caso do ano todo, já estão estruturados, elaborados e revisados. Os nossos estudantes trazem as propostas dentro do que colocamos como norteadoras sempre. Temos resultados excelentes em relação a isso”, garante a docente.

Um destes casos é o desenvolvimento do aplicativo para celular Ecolândia – Educação Ambiental, desenvolvido pelo estudante de bacharelado em Ciências Biológicas André Holtz, do polo de apoio presencial (PAP) de Canoinhas (SC). O app contém cinco jogos que ensinam de maneira divertida temas da área da ecologia e proteção ambiental, e está disponível para o sistema Android.

Além de diversos outros casos de estudantes, Garbossa e Frota ainda lembram do projeto transdisciplinar realizado pela ESE, intitulado O que mata o rio urbano? Já implementado nas modalidades presencial e semipresencial, agora será expandido para todo o Brasil, na educação à distância (EAD) – assista à reportagem do projeto realizada pela CNU neste link.

Garbossa e Frota apresentaram a palestra Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): motivos possíveis no último dia da Semana Pedagógica da Uninter, realizada pela Escola de Polos, no dia 4 de fevereiro. O evento contou com a apresentação da professora Thereza Cristina Lima e a mediação do chat feita por Desiree Monteiro. A transmissão da live aconteceu por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA).

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Reprodução


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