Os desafios e as perspectivas da pesquisa científica nas áreas da física
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoDiversas motivações levam profissionais a se dedicarem à pesquisa científica. Seja por interesses pessoais, devido ao desafio intelectual, a curiosidade e emoção da descoberta, seja por uma pretensão profissional, pela reputação científica, aperfeiçoamento e promoção na carreira, além de incentivos financeiros. Ou mesmo com uma intenção social, na busca por benefício às organizações, comunidades e sociedade em geral.
Fato é que as pesquisas aprofundadas, baseadas no conhecimento científico e caracterizadas por uma investigação rigorosa, colaboram para a quebra da disseminação de conceitos e ideias do senso comum, na maioria das vezes equivocados.
A professora Flavia Sucheck, que atua na área de Exatas da Escolas Superior de Educação (ESE) da Uninter, explica que, neste sentido, há objetos de estudo muito bem-definidos, com um objetivo e foco, para proporcionar discussões acerca do assunto de relevância social, livre de juízo de valor. “Nunca é para retratar a opinião do pesquisador, o que ele pensa”, salienta.
Jeferson Eliel, também professor da área, mostra que as pesquisas científicas correspondem a 3% da produção mundial. No Entanto, o Brasil ocupa a 23ª posição no ranking de países que mais as realizam. Em 2021, 879 produções brasileiras foram contabilizadas, sendo 474 delas na área de Física.
“Infelizmente, o nosso país não dá o devido reconhecimento aos pesquisadores. É a paixão que vai fazer a diferença para você, e depois você pode ter um retorno financeiro também. Acredito que a posição do Brasil se dê por uma enorme burocracia e pela verba destinada às pesquisas”, afirma Roberto Aguilar, professor da área de Exatas. Mesmo assim, o profissional acredita que é preciso focar nos benefícios que estes estudos proporcionam para todo o mundo.
Dinamara Machado, diretora da ESE, aponta que o primeiro desafio de um pesquisador de qualquer área é entender os clássicos, pois “é impossível falar da área se você não beber da fonte original”. Isso é importante devido à profundidade que uma pesquisa científica demanda.
“Profundidade quer dizer que, muitas vezes, você não vai conhecer os cinco dedos da mão, não vai mesmo. Mas vai conhecer um, muito bem conhecido. Talvez o desafio é desapegar de ser genérico, para falar com propriedade de um assunto. Mas para deixar de ser genérico, você precisa primeiro ler os clássicos. Sem leitura de clássico você não sabe para onde vai”, reforça a docente.
A diretora afirma que cinco conceitos caracterizam uma pesquisa: resiliência, tempo, colaboração, foco e sociedade. Neste último, é preciso analisar o contexto que se vive e no que o estudo pode colaborar para a evolução e transformação desta realidade. “A pesquisa, além do seu prazer pessoal, tem de dar contribuição social. Lembrando que uma transformação social também acontece com o tempo. Por isso, um pesquisador precisa ter resiliência. Para que veja os frutos da sua pesquisa, de fato, frutificar, começar a espalhar, precisam de vários e vários anos”.
Além disso, os estudantes e profissionais precisam ter conhecimento aprofundado sobre metodologia, que descreve os caminhos do pesquisador durante o estudo e “dá a grandiosidade da pesquisa”, além de ser também uma exigência do mercado de trabalho. “Metodologia é o reconhecimento e o respeito com quem vai ler o seu trabalho, garante que sala pesquisa seja respeitada, garante legitimidade”, completa Dinamara.
De acordo com a diretora, um ponto fundamental para os estudantes é estarem antenados no que vem sem sendo desenvolvido e publicado sobre a área. Para aqueles das Exatas, mais especificamente do curso de Física, diz que o primeiro passo é buscar pela Sociedade Brasileira de Física e perceber o que está sendo discutido. E também precisam estar ligados em espaços que possibilitam a publicação de pesquisas já na iniciação científica, o que é também um desafio.
Dinamara lembra que a ESE promove publicações de estudantes e egressos da Uninter, além de estudantes, professores e pesquisadores de qualquer instituição de ensino, por meio do Caderno Intersaberes. Ano passado, foi lançado o primeiro volume da área de Exatas, intitulado Diferentes formas de ensinar e aprender Matemática, Física e Química. Já no dia 23 de agosto de 2021 saiu a edição sobre Resolução de problemas: metodologia de ensino ou resolução de problemas aplicados.
A professora ressalta que, independentemente da modalidade dos estudantes, é importante que participem dos grupos de pesquisa e realizem atividades de extensão. “Não é porque você faz um curso à distância que você não vai fazer, muito pelo contrário. O estudante de um curso na modalidade EAD faz pesquisa constantemente, se doutrina para isso. É autonomia, porque o que vai dizer quando chegar no mercado de trabalho são suas produções”, salienta.
Na Uninter, a ESE possui um grupo comandado por Dinamara, no qual estudantes da área de Exatas podem participar da linha de pesquisa Área de Exatas e Tecnologias: Recursos digitais para Matemática, Física e Química. Para participar, estudantes de todas as modalidades podem entrar em contato com os professores e solicitar o ingresso no grupo, que realiza encontros virtuais o ano todo.
Evolução da pesquisa científica no Brasil
A professora Flavia diz que, no Brasil, as pesquisas sempre tiveram influência do Exterior, principalmente da Europa. A partir da década de 1930, chegam professores estrangeiros que apresentam novas ideias e formas de fazer. Com isso, surge maior necessidade de se fazer pesquisa e o marco é a criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), fundado em 1937.
Na década de 1940, é criado o Conselho Nacional de Pesquisa (CNP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa e, na década seguinte, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). “Isso vai ampliando as nossas possibilidades de pesquisa, porque quando tem investimento, é muito mais fácil. Isso é um outro desafio, a falta de investimento”, comenta Flavia.
Já nos anos de 1960, se tem a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE). No entanto, o golpe militar de 1964 traz mudanças significativas na forma de fazer pesquisa, já que se perde parte do contato com o Exterior. “A gente percebe que os marcos políticos influenciaram totalmente as pesquisas educacionais”, aponta a docente.
Nos anos que se sucederam, houve um avanço relacionado a novas abordagens, com o conceito de pesquisa associado com a ideia de transformação. Até então, os estudos serviam apenas para mostrar como o aluno poderia aprender mais, com foco no conteúdo. Em 1978, então, se cria a Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).
A partir da década de 1970 também se inicia um enfoque metodológico qualitativo, com uma preocupação maior sobre o processo e análise de particularidades do problema, que podem ser estudos de caso, pesquisa etnográfica, de opinião ou documental, por exemplo.
Os desafios da pesquisa nas áreas de física
A regulamentação da profissão de físico só foi promulgada há 3 anos, por meio da Lei nº 13.691, de julho de 2018. O professor Guilherme Pianezzer afirma que esta é uma vitória da classe, que agora possui delimitadas as atribuições específicas destes profissionais. Guilherme também pontua que há um déficit de pesquisadores na área, já que “dos profissionais graduados no país, apenas 17% estão nas áreas de tecnologia, que envolvem ciências, engenharia, tecnologia”.
Por isso, o ingresso para o curso de Física pode ser uma vantagem, visto que “entrar nessas áreas que faltam profissionais, com tanta demanda de trabalho, com certeza faz com que seja valorizado”, diz Guilherme. “Pode ser que, com a regulamentação, tenhamos um avanço muito maior nessa área de pesquisas”, complementa o professor Jeferson Eliel.
No Brasil, as pesquisas estão concentradas em dois meios, principalmente. Nas universidades e nos grandes centros de pesquisa. Embora algumas empresas contratem pesquisadores, Guilherme afirma que a principal área de física hoje é desenvolvida nestes espaços. “Sempre que a gente escuta questionamentos sobre as verbas educacionais para a pesquisa, que foram reduzidas, pode ter certeza que isso impacta significantemente o avanço da física”, explica o docente.
Para pesquisadores da área de bacharelado, o profissional diz que “as áreas que são mais desenvolvidas são aquelas que têm aplicação direta”. Ainda que existam áreas mais filosóficas, de interpretação da realidade, atualmente estas são minoria. “Hoje as pesquisas são motivadas por aplicação prática. Uma coisa que mais vai ver, na maior parte dos programas de pós-graduação, é física de partículas, semicondutores, dispositivos eletrônicos, radiação e na área da saúde”, aponta.
Já nas áreas de licenciatura, a professora Flavia afirma que atualmente as pesquisas focam nos processos de ensino e aprendizagem, relações do professor com o estudante, no currículo, material didático e formação do profissional. A pesquisadora também ressalta que nem sempre existem respostas tão significativas em uma pesquisa, principalmente quando se estuda sujeitos e processos que são dinâmicos. Porém, “vai avançar um pouquinho no conhecimento, para que alguém use nossa pesquisa depois e dê continuidade”.
“Na área da educação não tem receitas prontas. O pesquisador tem um pouco mais de flexibilidade, até porque quando vai a campo, em uma escola, há pessoas. As pessoas têm seus sentimentos, a ação dessas pessoas não é totalmente esperada, pode ter algo inesperado no caminho. Mas, mesmo assim, existe uma necessidade de ter um determinado critério, um rigor científico”, conclui Flavia.
Semana Acadêmica de Física
Os desafios da pesquisa científica foi tema da 1ª Semana Acadêmica de Física, realizada pela área da Exatas da ESE. O evento virtual aconteceu entre os dias 23 e 26.ago.2021, com transmissão ao vivo, por meio da página do Facebook e canal do Youtube. Paulo Martinelli, coordenador de área, diz que o objetivo é buscar conhecimento e divulgar o que tem sido feito por professores e estudantes, além de provocar a reflexão dos alunos sobre a área e onde querem chegar.
A professora Dinamara afirma ainda que “o foco é aprender, discutir física, tirar o ‘monstro’ que existe sobre as exatas”. De acordo com a diretora, o papel de desmistificar os pré-conceitos sobre a área é dos profissionais que nela atuam. Além de participar da abertura com o coordenador Paulo e os professores Roberto Aguilar, Jeferson Eliel e Hugo Henrique, Dinamara também realizou uma palestra sobre Desafios da pesquisa científica para os cursos de graduação EAD, na primeira noite, que pode ser acessado neste link.
Os desafios da pesquisa nos cursos de bacharelados em física e Os desafios da pesquisa nos cursos de licenciaturas em física foram os temas debatidos na segunda noite, em apresentações realizadas pelos professores Guilherme Pianezzer e Flavia Sucheck, respectivamente. Os profissionais abordaram os temas de forma mais aprofundada na live, que segue disponível para livre acesso.
Na terceira noite de exposição, o professor Evaldo Ribeiro, doutor em Física que atua na Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizou uma palestra sobre o Centenário de Einstein, apresentando a carreira e as principais contribuições do físico. O bate-papo pode ser acessado por meio deste link.
Para encerrar a semana de apresentações, a última noite contou com um debate sobre Geogebra e Wolfran voltado para a física, realizado pelo professor Elzério Junior, e uma exposição de Simuladores e práticas, com o professor Jeferson Morais, ambos docentes da Uninter. Participação também do professor Roberto Lapa. A transmissão completa segue disponível neste link.
Com vista a inclusão de todos os estudantes e comunidade no evento, os intérpretes Tiago Saretto, Gabriela Schmitt, Marcelly Mesquita e Tânia Lisboa, do Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Sianee) da Uninter, realizaram a tradução de Libras durante todo o período das transmissões.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Gerd Altmann/Pixabay