Os desafios da reportagem em tempos de pandemia. Alguém precisa informar ao mundo
Autor: Jéssica Jorge Felipe de Souza - Estudante de JornalismoDiante do cenário de isolamento social e o pico da pandemia do novo coronavírus, a demanda por informação tem sido incalculável, e os esforços para produção de conteúdo jornalístico também. Para atender a essa necessidade, há um grupo de profissionais que desafia o autoisolamento para fazer com que a notícia chegue às pessoas. Equipes de rádio, de meios impresso, de site e TV trabalham sob nova rotina e se preocupam com a responsabilidade da informação, driblando a insegurança e os impactos psicológicos.
Para quem trabalha na televisão, a ferramenta virtual passou a ser uma aliada. Entrevistas por videoconferência têm sido o formato prioritário para profissionais como a Karen de Souza (foto ao lado), apresentadora do Programa Conexão, do Canal Futura, no Rio de Janeiro. Para ela, o novo formato trouxe o desafio de agregar funções.
“Eu tô gravando e editando o meu material, então, na verdade, a minha rotina de trabalho mudou de cabeça pra baixo, mudou tudo”, conta. A repórter Nathália Dielú, da TV Globo em Pernambuco, explica que em alguns casos os profissionais ainda enfrentam a necessidade de ir às ruas. “Infelizmente, a gente precisa estar na rua, precisa chegar a alguns lugares para denunciar algumas coisas e tentar ajudar as populações mais vulneráveis”, diz Nathália (na foto principal com sua equipe de trabalho).
“A pandemia do Covid realçou a importância de três instituições: os estados nacionais, a ciência e a imprensa”, pontua o editor-geral da Folha da Manhã, jornal do Norte Fluminense, Aluysio Abreu. Ele relaciona a demanda de comunicação com a demanda da saúde. “A saúde tem que se desdobrar para atender a Covid e as demais doenças, é a mesma coisa no paralelo ao jornal, os demais assuntos continuam acontecendo”.
Essa realidade extenuante de produção de conteúdo tem unido os comunicadores e evidenciado a importância da informação. “Se não fosse o jornalismo, se não fosse a informação, a gente não teria acesso à maioria das coisas que a gente tem hoje”, ressalta a repórter Fernanda Scholzer, da Bandnews Curitiba (foto ao lado), sobre o momento de pandemia.
Uma voz ecoa no meio da floresta
Responsável pela principal fonte de informação da Vila Céu do Mapía, comunidade localizada entre os estados do Amazonas e do Acre, a fundadora da Rádio Jagube, Fátima Santágata, tem encarado de dentro da sua casa, em home office, o desafio de lidar com o diagnóstico da Covid-19, informar as pessoas da comunidade e ainda captar recursos para a vila.
“A Rádio Jagube, situada no meio da floresta, é a grande catalizadora na dinâmica comunitária, nos recados, no desenvolvimento, e na introdução de novos conhecimentos. A primeira a alertar sobre o contágio, sobre separar os mais velhos, fui eu, já com os sintomas no corpo”. Fátima conta que mora em Manaus há 10 anos e trabalha de lá. Seus sintomas apareceram desde a segunda quinzena de março e ela segue medicada e tomando as devidas medidas restritivas.
“Essa ferramenta [comunicação] mantém a gente vivo. De uma forma ou de outra, muitos passaram pelo vírus, se recuperaram, voltaram a trabalhar e é como se fosse uma força geradora. Eu acho que o jornalismo, a produção multimídia, a comunicação em si, é apaixonante. Um bom comunicador, ele não está só pela grana ele está pelo ato em si de comunicar, de mudar, de tocar o coração das pessoas e de ter acima de tudo o compromisso com a verdade”, considera Fátima.
Compromisso esse que atravessa o medo. Todos os entrevistados para essa matéria registraram suas inseguranças em se contaminarem e transmitirem o vírus aos seus familiares e amigos de trabalho. No entanto, todas as respostas relataram o comprometimento social, como questão prioritária para enfrentar os desafios.
“É um momento em que a gente tem muita consciência do nosso dever, do que a gente tem de fazer. A partir do momento que a gente pensa nas pautas, faz as denúncias, mostra as histórias, a gente sabe que papel é esse. As pessoas estão em casa e elas precisam consumir notícias fidedignas, notícias que ajudem elas a passarem por esse momento. Então, por mais que a gente se arrisque, que a gente tenha medo, o que a gente está fazendo é por um bem muito maior, para um bem coletivo”, frisa a repórter Nathália Dielú.
Para Fernanda Scholzer, receber o retorno do público tem feito todos os desafios valerem a pena. “Eu sinto muito reconhecimento pelo trabalho do jornalismo agora na rádio, principalmente agora, na verdade. Vindo dos ouvintes, dos familiares, amigos… por que eles reconhecem o quão importante é o jornalismo, o quão importante é o peso da notícia, seja ela boa ou ruim. Isso faz parte da sociedade e a sociedade precisa disso”.
Em relação à minimização desses impactos na classe jornalística, o coordenador do curso de Jornalismo da Uninter, Guilherme Carvalho, aponta para a necessidade de uma maior valorização dos profissionais. “Algo que poderia ajudar a reduzir estes problemas seria um investimento maior das empresas na contratação de jornalistas para aumentar a capacidade de cobertura, além de garantir tempo para os jornalistas poderem produzir com qualidade”.
Encarar os efeitos psicológicos para continuar produzindo
Além dos desafios logísticos, temporais e de exposição à própria doença, os profissionais da comunicação também têm encarado consequências psicológicas e emocionais. A repórter Karen de Souza cita a cobrança interna como uma delas. “O pior e maior impacto emocional é a cobrança interna, de produzir, produzir, produzir”.
Para aqueles que já tiveram episódios de ansiedade, o momento é de autoconhecimento. “Ter esse caráter de saber lidar melhor com a ansiedade faz a gente perceber o que a gente pode melhorar, o que a gente fez certo, o que a gente fez errado na apuração. Então, é você também se colocar no lugar do outro que está ali lendo a sua matéria”, considera Nickolas Abreu (foto), estagiário da Inter TV, afiliada da Rede Globo em Cabo Frio (RJ).
O psicólogo social André Santanna explica essa condição como um efeito duplo. “Não só o risco do adoecimento e obviamente o quanto isso exige de cuidado, mas também esse risco de ter que lidar com o medo e a insegurança”, diz. Santanna recorre ao filósofo Jean-Paul Sartre para analisar o contexto de exposição e auto cobrança dos profissionais.
“É quase que como não descansar, eu nunca escapo do olhar do outro, ao mesmo tempo eu não tenho como deixar de ver a situação que está diante de mim. E, às vezes, ter que lidar com essas notícias, com essas informações, é não descansar do mundo. É compreender que, por trás de quem dá a notícia, tem pessoas. Aí eu digo que, mais do que nunca, a gente precisa reforçar os nossos laços de humanidade”, diz Santanna.
* Esta matéria foi produzida dentro do Programa Voluntários Uninter Notícias, desenvolvido por este site junto com a coordenação do curso de Jornalismo da Uninter.
Autor: Jéssica Jorge Felipe de Souza - Estudante de JornalismoCréditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal dos entrevistados
Parabenizo a esses profissionais,por tudo q estão fazendo ,nesse momento tão difícil da Pandemia,vcs estão a frente da informação para passar p todos nós em casa,,,e correndo o risco a todo momento,,,,
Se não fossem vcs como saberíamos tudo q estar acontecendo,Então como telespectadora, mãe,me sinto MT grata a tds,tmbm MT orgulhosa de ter uma filha,q seu objetivo é de ser jornalista,desde pequena esse sonho, desenvoltura nas palavras e escritas!!hoje vejo essa matéria só orgulho de vc Filha( Jéssica Felipe)