Os desafios ao ordenamento territorial na zona cárstica da Grande Curitiba
Autor: Otacílio Lopes de Souza da Paz e Renata Adriana Garbossa Silva (*)Carste é o nome atribuído a paisagens compostas por rochas calcárias onde encontramos feições como grutas e cavernas, dolinas e uvalas e rios sumidouros, como veremos a seguir. O processo de formação dessa paisagem é pautado na dissolução dessas rochas pela ação da água. O termo carste, por vezes apresentado com a grafia Kasrt (e), vem da região do Carso, situada na Europa central, entre a Eslovênia e Itália.
Parte da porção norte/nordeste da Região Metropolitana de Curitiba está inserida na chamada Província Geológica Vale do Ribeira, área composta por rochas calcárias que exibe diversas formas do relevo cárstico, abrangendo parcialmente os municípios de Almirante Tamandaré, Bocaiúva do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Curitiba, Itaperuçu e Rio Branco do Sul.
Além das grutas e cavernas, o relevo cárstico é marcado pelas dolinas e uvalas. As dolinas são depressões geradas por subsidências do terreno, de formas circulares ou ovais, de dimensões variadas. A junção de duas ou mais dolinas chamamos de uvalas. Também é comum encontrar, nas paisagens cársticas, rios que desaparecem em um ponto e surgem em outro, os rios sumidouros, que possuem parte de seu trecho em ambiente subterrâneo.
Como em toda paisagem, as zonas cársticas vão apresentar potencialidades e fragilidades devido a suas particularidades ambientais. Como potencialidades, a beleza cênica das cavernas e grutas é algo importante em atividades turísticas, sendo item motivador para a criação de unidades de conservação. Em Colombo, existe o Parque Municipal Gruta do Bacaetava. Em Tunas do Paraná, foi criado o Parque Estadual de Campinhos, que abrange a Gruta dos Jesuítas. Tais espaços compõem o circuito turístico desses municípios, além de contribuírem para arrecadação no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Ecológico.
Quanto às fragilidades, o processo de subsidência do terreno pode oferecer uma série de impactos negativos quando ocorre em um centro urbano, gerando riscos à população. Além de danificar eixos viários, tal processo pode afetar edificações. No meio rural, a ocorrência de “buracos” na paisagem afeta plantações, reduzindo a produtividade e dificultando o uso de maquinários, ou mesmo colocando os animais em risco. Durante os processos de subsidência do terreno, também podem ser registrados tremores, que danificam estruturas, gerando medo e sensação de insegurança na população.
Outras características podem se apresentar ora como potencialidades e ora como fragilidades. As paisagens cársticas são conhecidas por conter aquíferos, formação geológicas com capacidade de armazenamento de água. Esses aquíferos são importantes fontes de água para as populações locais, ainda mais em momentos de estiagem como que enfrentamos nos últimos anos. No entanto, a captação desordenada, sem respeitar o limite desse ambiente, pode acelerar processos de subsidência do terreno.
Desse modo, o geógrafo, considerando sua formação pautada em temas do meio físico e da socioeconômica, é um profissional de destaque na elaboração de ações para a preservação, acompanhamento, monitoramento e o gerenciamento das áreas cársticas. A elaboração de produtos cartográficos, algo comum na atuação do geógrafo, é fundamental no ordenamento territorial de áreas ambientalmente sensíveis como as zonas cársticas. A produção desses mapeamentos contribui para que o poder público municipal ou estadual possa tomar decisões em curto, médio e longo prazo, além de aferir com maior precisão quais as condições de risco de uso e ocupação do solo, evitando danos ambientais e humanos.
Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e doutor em Geografia. Professor da área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
Renata Adriana Garbossa Silva, é geógrafa, pedagoga e doutora em Geografia. Coordenadora da área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
Créditos do Fotógrafo: Wikipedia