Os 4 passos da Ana Catadora para mudar o nosso comportamento em favor da sustentabilidade
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoO impacto ambiental com a produção de lixo tem se agravado por causa do crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. Medidas como a separação dos resíduos e serviço de coleta de recicláveis passaram a ser adotadas em muitas cidades, mas em outras não. Há uma década, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei nº 12.305/2010, passou a pautar o debate a partir da sustentabilidade e do comportamento das pessoas.
Muita gente até se interessa pelo assunto, mas não sabe como fazer e não tem acesso a informações que possam guiar essa mudança. “As informações boas, que dão gancho para o cidadão fazer alguma coisa, deveriam estar aparecendo mais. A gente tem que contar pra todo mundo aquilo que é de bom, porque tem muita gente fazendo muita coisa boa. A gente precisa fazer com que a informação circule”, afirma a professora Ana Zattar, empresária e criadora do perfil Ana Catadora, onde produz conteúdo com resoluções sustentáveis.
Apesar de atuar como docente na área de Educação Física em cursos de graduação e também no nível fundamental, Ana tem uma relação íntima com as questões do meio ambiente desde muito nova, quando observava os familiares agindo de maneira sustentável, fosse utilizando ecobags ou replantando. Em 2018, ela passou a transmitir os conhecimentos que adquiriu em voluntariados ou em projetos com os alunos nas escolas, através de perfis nas redes sociais, Facebook e Instagram, que hoje somam mais de 15 mil seguidores.
A empresária passou a dar visibilidade a muitas empresas e projetos que tinham grandes ideias, de nível nacional, mas que ninguém conhecia. “Eu faço de uma forma que seja acessível, eu quero contar para as pessoas como é que elas podem fazer. O que ela tem que fazer, onde elas têm que ir, e assim foi que o perfil ganhou espaço. A gente precisa conhecer propriedades técnicas, mas a comunidade quer saber como ela vai fazer”, explica.
Para debater sobre essas ideias e a reeducação de comportamento, Ana participou de uma live da página da Maratona de Sustentabilidade Uninter, junto com o professor Rodrigo Silva, coordenador do curso de Gestão Ambiental, que mediou o bate-papo entre a profissional e as pessoas que acompanhavam ao vivo e interagiam pelo chat. A transmissão teve como tema o comportamento sustentável em relação a resíduos sólidos.
Segundo a professora, ela sempre foi de levantar bandeira e puxar todo mundo junto para a mesma causa e, devido a isso, sempre participou de projetos que tinham a ver com o meio ambiente, mas que não estavam tão em evidência como hoje. Para ela, reciclar é algo para todos, não existe distinção nem mesmo de classe social, já que todos consomem e produzem resíduos.
“É uma questão de mudar o hábito, a gente ainda se dá ao luxo de não fazer, porque ainda há certa fartura, só que agora as coisas estão pegando. Estamos em Curitiba com racionamento de água, nós temos que fazer. Então antes que a gente tenha que fazer, por que a gente não se educa para aquilo ser indolor? Tem que começar”, incentiva.
Um passo de cada vez
Ana diz que ninguém consegue mudar totalmente da noite para o dia, é um processo gradativo, mas que precisa começar de alguma forma, mesmo que a passos lentos. Ela dá algumas dicas de como começar essa transformação no dia a dia, em quatro passos.
- Faça uma lista: É importante fazer uma relação de todas as coisas que são consumidas, pelo indivíduo e pela família, seja em casa, no carro, no trabalho ou qualquer outro ambiente que faça parte. Além de separar os lixos orgânicos dos recicláveis e cada tipo específico de reciclado. Após isso, coloque do lado de cada um para onde é que estão sendo destinados no descarte.
- Conheça projetos: O segundo passo é fazer uma pesquisa em busca de projetos que você possa dar um destino melhor àquele material. A profissional diz que há objetos como esponja de louça, instrumentos de escrita, meias, que as pessoas nem imaginam ser recicláveis, mas que são e existem projetos específicos para tais. Quase tudo é reciclável e todos esses têm um destino.
- Crie um ambiente favorável: A transformação para novos hábitos começa com pequenas mudanças no dia a dia, em comportamentos mais sustentáveis. Começa com o pensamento diferente, uma forma diferente de comprar, com escolhas mais sustentáveis dentro do possível. Substituindo alguns costumes, como o uso de canudo de silicone ou inox, ecobag, a caneca no lugar do copo plástico, escova de dente de bambu, entre outros. Ou mesmo curtindo, seguindo, compartilhando, indicando pessoas e páginas que desenvolvem esse trabalho.
- Pensar no ponto forte: A última dica diz respeito a fazer uma reflexão, sobre qual é o seu ponto forte, o que faz de bom. É importante definir isso e focar nesta qualidade para construir novas metas, colocar prazos, estabelecer onde quer chegar, sempre valorizando o seu ponto forte, que é o que vai ajudar a ter sucesso no objetivo.
“A gente não tem que se culpar por ser imperfeito na caminhada. Tem coisas que eu mesma não faço direito ainda, que eu tenho que melhorar, que eu tenho que observar, mas não culpar. Aceitar essa caminhada imperfeita, mas também se propor desafios que sejam atingíveis. Então vamos aos poucos, mas esse pouco acaba sendo muito, a diferença que a gente faz na vida da gente é enorme”, ressalta Ana.
A compensação e responsabilidade de cada um
O professor Rodrigo Silva conta um pouco de como tem sido esta época de pandemia em suas próprias experiências dentro de casa, relacionando com hábitos sustentáveis. A esposa de Rodrigo é asmática e caracteriza o grupo de risco do Covid-19, portanto eles precisam tomar o máximo de cuidado. Para não sair de casa, fazem todas as compras pela internet. Isso, apesar de tornar a rotina mais prática, também gera uma quantidade muito maior de plástico.
“Eu tento compensar com outras coisas. Já que eu não consigo reduzir o plástico, eu tento fazer uma compensação. De que maneira? Diminuindo o tempo de banho, utilizando menos água, consumindo menos luz, comendo mais dentro de casa, pedindo menos marmita”, explica.
Rodrigo também pontua a questão de as pessoas estarem mais em seus lares, muitos tendo a possibilidade de trabalhar em home office, o que impacta positivamente no meio ambiente. Para ele, esse modo de atuar nas mais diversas profissões é uma discussão que estará presente ao longo dos próximos anos.
“A gente está dirigindo menos, a gente está consumindo menos na rua, a gente está liberando menos carbono para a atmosfera. Então esse nosso impacto ambiental vem diminuindo aos poucos, mas a gente ainda tem essa questão do consumo que é bem importante”, evidencia.
Questionados por um espectador que acompanhava a transmissão ao vivo pela página do Facebook, os professores ainda debateram sobre a questão de em muitos momentos estarem discursando para “convertidos”, pessoas que muitas vezes já estão envolvidos e entendem sobre os assuntos abordados no campo da sustentabilidade. Para Ana, o papel dessas pessoas que já têm consciência sobre os assuntos é tão ou ainda mais importante do que aqueles que não entendem ou discutem sobre. E que essa temática está sempre em atualização, os assuntos ganham novos desdobramentos a cada dia.
“Qual é o nosso principal papel, já que a nossa responsabilidade é maior? É ser multiplicador disso. A gente tem um discurso, mas acima de tudo, a nossa prática tem que ser adequada com o discurso, porque quando as pessoas nos vêm fazendo, a gente vai arrastar muita gente. Eu acho que a gente vai talvez rezar para os convertidos, mas esses convertidos são as pessoas que vão multiplicar. Nós somos eternos multiplicadores e cada vez que eu converso, que eu troco, eu procuro buscar temas que não sejam tão óbvios”, finaliza a professora.
O bate-papo completo está disponível a página da Maratona de Sustentabilidade Uninter, mas devido a alguns problemas de conexão com a internet, o diálogo contou com algumas interferências. Segundo os professores, eles gravarão uma nova conversa e disponibilizarão na página com todas as informações mais completas a quem se interessar pelo assunto. Siga e acompanhe este e todos os outros debates que aconteceram nesta sexta-feira, 05.jun.2020, Dia Mundial do Meio Ambiente.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoCréditos do Fotógrafo: Zhang Kaiyv/Pexels e reprodução Youtube