Orquestra Uninter completa duas primaveras e mostra que “música é para todo mundo”

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

Toda terça-feira, às 19h, os 30 músicos que compõem a Orquestra Uninter se reúnem no auditório do campus Divina Providência da Uninter. Um teatro quase escondido na Rua do Rosário, região central de Curitiba (PR). O espaço que já fez parte do terreno de José Hauer e também recebeu as estudantes do Colégio Divina Providência, agora ganha vida com as notas das melodias emitidas pelos instrumentos da formação musical.

Em dois anos de história, completos neste mês, a orquestra de sopro duplicou o número de integrantes, mas em sua origem havia apenas dois músicos, professores coordenadores de pós-graduação da Uninter, que carregavam consigo apenas uma ideia e a vontade de fazer acontecer.

A doutora em Música e regente da Orquestra Uninter, Valentina Daldegan, e o clarinetista Willian Sales se uniram para os momentos culturais de eventos do centro universitário, ainda no período de pandemia, quando as cerimônias aconteciam de forma virtual. Em meio ao desafio de realizarem tudo à distância, no vai-e-volta de arquivos, entre envios de MIDs (formato de arquivo de música), gravações e remixagens das músicas que eram apresentadas nas aberturas ou nos intervalos das apresentações, uma parceria foi construída e um sonho concebido.

“O que o professor acha de a gente montar um conjunto musical?”, a ideia foi lançada para o pró-reitor de Pós-graduação da Uninter, Nelson Castanheira, assim que as atividades presenciais foram retomadas. Castanheira lembra de ter escutado e respondido “Por que não uma Orquestra? Precisamos pensar grande, ‘fazer barulho’”, brincou. “O professor Castanheira é sensacional, sempre nos apoia em tudo e abraça a gente”, conta Willian. Por isso, a resposta final não poderia ser diferente: “Vai que eu dou suporte”, lembram os músicos.

Na sequência, uma conversa aconteceu com o reitor do centro universitário, Benhur Gaio, que não apenas apoiou o projeto, mas sugeriu propor uma parceria com a Fundação Wilson Picler (FWP). Dali, logo também veio a resposta positiva do presidente da FWP, Jorge Bernardi.

A ideia foi tomando corpo e ganhando fôlego a cada um que se juntava para fortalecer o projeto, como o atual pró-reitor de Graduação, Cursos Técnicos e Extensão, Rodrigo Berté, o presidente do conselho da TV Profissão, João Carlos Peters, o setor dos Estúdios, sob comando de Sérgio Demomi, e a própria Central de Notícias Uninter (CNU), coordenada pelo jornalista e professor Mauri König. “Todo mundo abraçou a ideia. Começamos do zero, não tínhamos nada”, relembra Valentina.

“Ter a Orquestra Uninter é um motivo de grande orgulho para todos nós. A relevância para a comunidade acadêmica é inegável. Além de promover a formação musical dos seus integrantes, o projeto contribui para a construção de um ambiente mais rico e completo, estimulando a criatividade, a colaboração e o desenvolvimento de habilidades sociais”, salienta Gaio.

Com apoio das autoridades e a parceria firmada com a Fundação, o primeiro edital para recrutamento dos integrantes foi aberto e, a princípio, contemplava apenas colaboradores e estudantes do grupo educacional. Eram três os principais requisitos: ter um instrumento, saber tocar e ter vontade e comprometimento para participar. Assim, foram selecionados os primeiros 15 músicos.

Como comenta Valentina, o grupo começou do zero e cada um dos instrumentistas levavam seus próprios equipamentos para os ensaios, mas alguns deles ainda nem existiam. Foi durante a transmissão do programa Negócios e Tendências de 2 de setembro de 2022, com a presença de Wilson Picler, que o chanceler da Uninter fez a doação de um piano. Até aquele momento, o mantenedor ainda não tinha conhecimento da semente do projeto que estava sendo semeada, ainda chamado de conjunto musical. Mas ali mesmo começou a nomeá-lo de Orquestra Uninter.

Alguns instrumentos de percussão que não estavam sendo utilizados, como um teclado, foram resgatados do acervo do Instituto IBGPEX. Mais recentemente, por intermédio de Peters, os músicos também conquistaram um aporte financeiro da Unimed, o que permitiu a aquisição de outros instrumentos, como a bateria e o glockenspiel (instrumento de percussão). Por meio deste patrocínio, foram adquiridas ainda as estantes de partituras, que antes os músicos precisavam levar em todos os ensaios. “Esses pequenos gestos mostram a grandiosidade da nossa Orquestra”, declara o pró-reitor Castanheira.

Como um “grande entusiasta”, Peters afirma que a Orquestra Uninter tem um impacto significativo na cultura e na sociedade, pois “é responsável por preservar obras clássicas, introduzir novas composições e proporcionar acesso à música orquestral para diversos públicos”. “Através da combinação de talento, técnica e paixão, os músicos são capazes de transmitir emoções e contar históricas através da música, cativando e inspirando o público em cada apresentação”, complementa o presidente do conselho da TV Profissão, afiliada da TV Cultura no Paraná.

Sucesso marcado pelo papel social

O professor Willian ressalta que muitas pessoas acreditam que basta querer e “monta-se uma Orquestra de uma hora para outra”, o que não é uma realidade. “Aqueles 40 minutos de apresentação que as pessoas assistem são fruto de umas 15 horas de ensaio ou mais. Isso em grupo, fora os ensaios individuais em casa. Porque quando vamos para o ensaio geral, que fazemos todas terça-feira, esse músico já tem que ter ensaiado sua parte em casa, já vai com sua parte pronta para chegarmos lá e fazermos os ajustes em grupo. As pessoas não têm ideia do quanto de demanda isso gera”, explica.

A pré-estreia da Orquestra Uninter aconteceu na abertura da premiação do 2º Top Inovação, em 26 de novembro de 2022. Na ocasião, os músicos tocaram canções de seriados, como “Bella Ciao”, de La Casa de Papel. A grande estreia aconteceu menos de um mês depois, em 13 de dezembro, na apresentação de Natal daquele ano, que foi embalada por canções de Chico Buarque, Chiquinha Gonzaga, Coldplay e mais, transmitida pela TV Profissão. Com poucos meses de formação, a pluralidade e diversidade presentes já se faziam destaque para quem assistia. Não só nas melodias apresentadas, mas entre os músicos que integravam.

Outro evento de destaque citado por Valentina e Willian é o Concerto de Primavera, que aconteceu em frente ao edifício Garcez, no dia 16 de setembro de 2023. Pela primeira vez ao ar livre, os músicos se apresentaram mesmo sem um palco, mas pararam a Rua XV de Novembro com o público que se posicionava ao redor e chamou a atenção da imprensa local, que realizou coberturas ao vivo para a televisão.

Em 11 dezembro de 2023, um ano depois, a Orquestra se apresentou no mesmo local de estreia, como parte da programação de Natal da capital paranaense, com o Concerto da Paz. Desta vez, em um palco, com telão e cadeiras para o público. Cerca de 30 instrumentistas já compunham a formação, o dobro do inicial.

“A Orquestra é um projeto de sucesso que demonstra a grandeza da Uninter que hoje está em todo o Brasil e mais seis países”, comenta o presidente da FWP, Jorge Bernardi.

Quando o Centro Universitário Internacional Uninter completou 12 anos, outro marco para o grupo. O Memorial de Curitiba foi preenchido pelo público, que ocupou até mesmo a escadaria do local para assistir ao especial de aniversário da instituição, no dia 25 de maio de 2024.

“É justamente muito oportuno essa apresentação, porque é justamente uma expressão da participação da Uninter na sociedade. A Uninter cresceu, se tornou um centro universitário nacional e internacional. Esse momento dos 12 anos, a gente celebra com muita alegria e tranquilidade de que a Uninter está cumprindo seu papel social”, declarou o chanceler, Wilson Picler, presente na comemoração.

Ao longo da construção da formação, foram incluídos não apenas egressos da instituição, mas também a comunidade externa, com a aproximação da população local com a instituição acadêmica. De acordo com a regente Valentina, foi esta última apresentação, inclusive, que abriu as portas da Fundação Cultural de Curitiba para a Orquestra. “Isso de a gente conseguir abrir as portas de uma estrutura importante só mostrando o nosso trabalho, foi uma grande conquista”, celebra a regente.

O primeiro fruto desta parceria acontece com uma apresentação no espaço cultural da Capela Santa Maria, em Curitiba, onde a Orquestra Uninter se apresenta no dia 24 de setembro de 2024, às 20h. Os ingressos serão distribuídos na bilheteria do teatro, duas horas antes da apresentação, de forma gratuita. As cadeiras disponíveis serão preenchidas conforme a ordem de chegada do público. “Vai ser muito, muito especial”, garante Valentina.

A Orquestra pelo olhar de quem vivencia

A maestrina salienta que, embora a Orquestra soe profissional e muitos músicos já façam trabalhos com música, nenhum deles é profissional e todos atuam de forma voluntária, alguns como bolsistas. Muitos têm a história originada em igrejas, outros em grupos de rock e têm aqueles ainda que tocavam sozinhos em casa. “E que, quando se sentam um do lado do outro, conversam a mesma língua, todos na mesma vibração. Todo mundo se dá super bem, tem um entrosamento muito bacana”, destaca Willian.

O resultado dessa diversidade que se mescla também é encontrado no repertório apresentado e no perfil do público que acompanha as apresentações. “A gente acaba abrangendo o repertório desde o clássico. Claro, temos que fazer adaptações, porque por enquanto é uma orquestra de sopro, mas temos temas de filme, agora estamos incluindo bastante música brasileira, é uma Orquestra plural”, confirma Valentina.

Gabriel Rocha, de 29 anos, ingressou como músico da comunidade externa, mas hoje também é estudante do curso de pós-graduação em Treinamento e Desenvolvimento na Uninter. Uma das áreas que o “fascina” dentro da gestão de recursos humanos, área em que atua como coordenador na empresa de tecnologia Roost.

A relação do flautista com a música se deu ainda na infância, por incentivo do pai, que também é músico. Aos 12 anos, Gabriel aprendeu a tocar flauta e no Natal de 2008 ganhou o primeiro instrumento. A trajetória musical começou na igreja, mas pouco depois ingressou no Conservatório de Música Popular Brasileira (CMPB) em Curitiba.

O músico já atuou também em outras orquestras de instituições de ensino superior, como a da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas precisou de uma pausa em 2014, devido à graduação de Psicologia. Ao finalizar o curso, e com o declínio da pandemia, retomou à CMPB e, por meio da professora de flauta soube da vaga para a Orquestra Uninter, onde está desde maio de 2023 e toca flauta transversal.

O jovem acredita que a oportunidade tem impacto tanto a vida pessoal como profissional e que, compor esta formação representa a chance de se conectar com pessoas que compartilham a mesma paixão pela música. Para o músico, é a possibilidade de “nos expressarmos através da música de forma coletiva, o que é bem diferente de tocar sozinho. Tocar em grupo cria uma conexão especial entre os músicos onde cada um tem seu papel, mas todos trabalham juntos para criar algo bonito”.

“Tem sido uma experiência muito positiva, em grande parte graças à nossa maestrina Valentina Daldegan, que além de ser uma excelente regente, também é uma grande flautista. A expertise dela no instrumento e na música proporciona um aprendizado mais profundo e uma conexão especial para quem toca flauta, como eu. Isso tem feito toda a diferença na minha jornada musical”, destaca Gabriel.

Há 14 anos como docente na Uninter, André Peixoto de Souza, com 47 anos, também é advogado criminalista e professor na UFPR. Desde o ano passado, por convite de Castanheira, compõe a Orquestra Uninter. Começou a toar piano ainda na infância e chegou a iniciar uma graduação de Composição e Regência na Belas Artes, que não foi concluída. Na bagagem musical, carrega a experiência de cantar no Coro Sinfônico do Paraná, reger coros e orquestras Brasil a fora e tocar piano em terras estrangeiras.

Para André, participar do grupo “representa dar vazão àquilo que me trouxe nesse mundo”. “O magistério e a advocacia são vocações e profissões que lido com muita dedicação e amor, mas a música transcende qualquer possibilidade material. É através da música que eu me comunico com o sobrenatural”, acrescenta.

O pianista afirma ainda que, para ele, “a música não é apenas um ‘hobby’”. “Verdadeiramente faz parte da minha vida, como renomado significante. Ter a oportunidade de participar mais uma vez de um grupo artístico é vital, pelo que agradeço sobremaneira à Uninter e à maestrina Valentina”, conclui André.

Música para todos

Um entardecer no Parque Barigui, com o público sentado no gramado assistindo a Orquestra Uninter ao ar livre, junto ao pôr do sol. A ambientação que mais parece um cenário de filme é o sonho de Willian e um próximo passo que está na mira do clarinetista com a formação musical. Um desejo que se torna cada vez mais real, dado os saltos largos que a Orquestra dá.

Para além das apresentações, os profissionais também visam o crescimento do número de músicos que compõem o grupo, inclusive com bolsistas, que dediquem mais tempo e compromisso nas atividades, ampliando o alcance da Orquestra. Willian afirma ser muito importante proporcionar música de qualidade para um público que, muitas vezes, não teria condições. Assim, mostrar que “música é para todo mundo”.

Valentia destaca a oportunidade de “chegar no coração das pessoas”, por meio das emoções e sensações que as melodias causam. “Quando a gente tem mesmo que seja uma pessoa na plateia que vem falar ‘poxa, fiquei tão feliz’, a gente já conseguiu cumprir alguma coisa. Se estamos aqui, conseguimos fazer música e trazer esse conforto, já estamos cumprindo nosso papel”, afirma a maestrina.

Ambos dizem que o mesmo vale para os músicos, que conquistam essa oportunidade de se desenvolver, mesmo quando acham que não são capazes. Valentina conta que muitas pessoas assistem às apresentações e pensam ser impossível participar, por parecer um resultado profissional. No entanto, a regente garante que é consequência de um trabalho árduo de muita prática.

“Muitos pensam ‘não, isso não é para mim’. Mas pode ser que seja né? Não custa tentar, mesmo que comece no nível em que não consiga tocar tudo”, explica a maestrina. “[Quando dizem] ‘Ah, mas não tem nenhum instrumento que eu toco lá’… você pode ser o primeiro!”, salienta Willian.

O docente ainda destaca o crescimento pessoal que o grupo desenvolve com as atividades. “No começo, tinham músicos que não conseguiam conversar com a gente, não faziam contato visual, tinham vergonha. Hoje, super interagem com os colegas e conversam. Você vê a evolução da pessoa tanto no instrumento quanto na desenvoltura própria, enquanto pessoa. Isso é muito bacana”, conta.

Por isso, os profissionais acreditam no poder da união e na evolução de cada um, que fortalece o grupo como um todo. De acordo com os professores, algo que só é possível graças ao apoio de todos e suporte da equipe de infraestrutura da Uninter.

 

Apresentação na Capela Santa Maria

Data e horário: 24 de setembro, terça-feira, às 20h.

Ingressos GRATUITOS: na bilheteria do teatro, duas horas antes do concerto.

Endereço: Rua Conselheiro Laurindo, 273, Centro, Curitiba (PR).

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Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski


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