O trânsito é ruim quando tomamos medidas ruins, diz especialista

Autor: Sandy Lylia da Silva - Estagiária de Jornalismo

O trânsito é um espaço de convivência e de conflitos de interesses. O Brasil, por exemplo, tem um veículo para cada quatro habitantes e a disputa por espaço e a imprudência levam a maus resultados. Não à toa, 94% dos acidentes são causados por fatores humanos.

“Nós não estamos no trânsito, nós somos o trânsito. O trânsito é ruim na medida em que nós tomamos medidas ruins”, disse o professor universitário, psicólogo e especialista em planejamento e gestão do trânsito Luis Eduardo de Souza Cadore durante a 3ª Semana de Trânsito Uninter, em que se discutiu trânsito, mobilidade e perspectivas de futuro nesta área.

“O trânsito é o maior palco social que existe. Nele somos coadjuvantes e personagem principal alternadas e infinitas vezes, numa intensa e contundente rede de relacionamentos. Nele, a empatia, o respeito e o bom senso estão longe de ser apenas acessórios, são equipamentos obrigatórios”, complementou no evento realizado pelo curso de Gestão do Trânsito e Mobilidade Urbana da Uninter em comemoração à Semana Nacional de Trânsito, em setembro.

Segundo Cadore, que é diretor do Centro de Formação de Condutores Cadore, a Semana Nacional do Trânsito é um momento especial, quando há envolvimento da sociedade além da obrigatoriedade do estudo da legislação para a formação do condutor, universalizando o conhecimento. Ele acredita que o trânsito é um tema do cotidiano e deve-se criar uma cultura de segurança, um  senso de corresponsabilidade entre os cidadãos brasileiros.

“Somos muito ruins de cidadania, percebo uma imaturidade do perfil médio do brasileiro perante a mobilidade”, pontua Celso Mariano, especialista multidisciplinar em trânsito e diretor do Portal do Trânsito. “A natureza não nos fez para suportar uma desaceleração abrupta, temos que entender os limites da nossa própria anatomia, pensar nas leis da física, da inércia, e depois nas leis de trânsito. Perdemos a sensibilidade de fazer uma leitura sensorial efetiva de nossas capacidades físicas e não percebemos os riscos, por isso não é possível um trânsito sem regras”, diz.

Cadore lembra que, de acordo com o IBGE, 49,2% dos domicílios brasileiros possuem ao menos um automóvel para uso pessoal, 22,9% têm ao menos uma motocicleta e cerca de 11% têm os dois. A presença de um veículo automotor está diretamente ligada às nossas ações sociais e o Brasil se motorizou com rapidez, quadruplicando o número de motocicletas em duas décadas.

“Nosso país possui alto índice de acidentabilidade, e 94% dos sinistros são causas humanas, por  escolhas inadequadas dos condutores. Precisamos olhar para o trânsito como ação e reação, não podemos  ficar jogando pro azar ou outras questões que fogem do nosso entendimento para compreender o nexo causal”, declara Cadore.

Ele ressalta que o termo acidente é um evento que tem uma causa e uma razão, não restrita somente à responsabilização do indivíduo, do órgão de trânsito ou da sinalização falha. A partir daí, pode-se analisar os erros criando ações políticas, mudanças na legislação e na formação do condutor de maneira mais assertiva, pois em sua  maioria não são situações acidentais, e sim provocadas, passíveis de prevenção.

“O trânsito precisa sempre estar em evolução e amadurecimento e isto passa pelo cidadão, que deve entender que algumas regras podem não atender às suas necessidades diretas, mas favorecem o trânsito como um todo, a exemplo de ciclofaixas, que retiram ciclistas das calçadas e os colocam em locais apropriados de circulação”, diz.

Um evento para ampliar o debate

Neste ano, o slogan da Semana Nacional de Trânsito é “No trânsito, sua responsabilidade salva vidas”. Para ampliar os debates e reflexões sobre a responsabilidade de cada um dos atores no trânsito, o evento da Uninter abordou as temáticas trânsito e mobilidade, perspectivas para o futuro, e respeito e responsabilidade no trânsito brasileiro.

O encontro da Uninter reuniu especialistas da área de trânsito e docentes em um ambiente virtual. A diretora da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança da Uninter, Débora Veneral, destacou que a instituição tem  se empenhado em trazer grandes profissionais para pensar a educação no trânsito.

O vice-reitor, Jorge Bernardi, também presidente da Fundação Wilson Picler, salientou que o trânsito  é uma disciplina  complexa. Ele recordou que Curitiba foi a primeira cidade do Brasil a exigir o uso de cinto de segurança para todos os passageiros, resolução que gerou polêmica.

“Diziam que essa regra  municipal era inconstitucional, mas hoje em dia tornou-se uma exigência nacional”, comenta o vice-reitor. Bernardi era vereador e aprovou a medida quando estava em seu segundo mandato na Câmara Municipal.

Para debater o primeiro tema, o professor Valdilson Aparecido Lopes, do curso de Gestão do Trânsito e Mobilidade Urbana, recebeu Luis Eduardo de Souza Cadore e Celso Mariano, que também é fundador da Tecnodata Educacional e do Instituto Prevenir.

Respeito e responsabilidade no trânsito

O segundo dia de debates da 3ª Semana de Trânsito Uninter teve como tema o respeito e a responsabilidade no trânsito, em live comandada pelo professor Josimar Campos Amaral, sócio da Trânsito Brasil de A a Z.

A conversa contou com a presença da chefe de educação para o trânsito e formação de condutores do Detran de Alagoas, Edira Soares, e da professora Irene Rios, designer educacional no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação para o Trânsito do Laboratório de Transportes e Logística Labtrans, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Para Irene, precisamos fazer uma autoavaliação do nosso nível de permissividade no trânsito, pois negligenciamos de forma errônea situações corriqueiras que podem causar mortes, como estar de carona com alguém embriagado ao volante, acompanhar uma pessoa que atravessa fora da faixa de segurança, ou  dar carona a uma criança pequena sem portar o dispositivo adequado.

“É necessário que os usuários das vias tenham conhecimento e  conscientização sobre os fatores de risco e de proteção à vida”, destaca Irene.

Josimar lembra que os trabalhadores da fiscalização precisam ter vez e voz, além de um plano de carreira, pois esses profissionais  correm riscos ao tentar resguardar a paz e a integridade daqueles que utilizam o trânsito.

Para Edira, não importa o modal que se  escolha para nossa mobilidade, muitas vidas estão em jogo quando se toma uma atitude errada no trânsito. “Mesmo a fiscalização sendo um pilar importante, a educação vem primeiro”, reitera.

O evento foi ofertado entre os dias 21 e 22 de setembro, e você pode conferir a transmissão na íntegra neste link, ou neste link.

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Autor: Sandy Lylia da Silva - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pexels


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