O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão, e assim se faz um deserto!

Autor: (*) Larissa Warnavin e Nicole Geraldine de Paula Marques Witt

Em um título de manchete se lê “Espécie de cacto pode ser primeira extinção local causada pelo aumento do nível do mar” relativa à espécie de cacto Pilosocereus millspaughi, extinto na Flórida, devido ao aumento do nível do mar. Dos tantos desdobramentos dos impactos das mudanças globais do clima, talvez a extinção de espécies seja a mais triste, ou, quem sabe, a mais triste seja a desertificação do sertão nordestino já preconizada por Euclides da Cunha, em 1902, na sua obra “Os Sertões”. Ou, a tristeza pode ser o sentimento que retrata as paisagens de extremos que se avizinham, como colocado na canção “Sobradinho” composta por Sá e Guarabyra em 1977, em que há uma alusão ao sertão virar mar e o mar virar sertão.   

O conceito de deserto, em sua essência, evoca a imagem de um lugar sem vida ou com pouca biodiversidade. No entanto, a desertificação não se trata apenas da ausência de água, mas de um processo complexo que envolve a degradação do solo, a perda de vegetação e, consequentemente, a extinção de espécies. Euclides da Cunha, aborda essa temática em sua obra nos capítulos “Como se faz um deserto” e “Como se extingue um deserto”, destacando o impacto do desmatamento em Pernambuco. Reler essas passagens pode nos proporcionar uma nova perspectiva sobre os desafios ambientais contemporâneos.  

A música de Sá e Guarabyra, também nos oferece uma visão poética dos extremos climáticos. E a represa de Sobradinho, construída no Rio São Francisco, transformou radicalmente a paisagem e a vida das comunidades locais, exemplificando como intervenções humanas podem alterar drasticamente o meio ambiente.  

A extinção do cacto na Flórida trata-se apenas da ponta do iceberg. Segundo um relatório da ONU, milhares de espécies estão ameaçadas de extinção devido às atividades humanas e às mudanças climáticas. As regiões semiáridas do Nordeste brasileiro, já vulneráveis, enfrentam um futuro ainda mais incerto com o avanço da desertificação. Estudos indicam que, com o aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas, áreas atualmente habitáveis podem se tornar inóspitas, impactando diretamente a agricultura e a vida das comunidades locais.  

Além da desertificação, o aumento do nível dos mares representa outra face alarmante das mudanças climáticas. O derretimento das calotas polares e das geleiras têm contribuído para a elevação dos oceanos, colocando em risco ecossistemas costeiros e espécies que dependem desses habitats. Espécies de plantas e animais que vivem em áreas litorâneas estão especialmente vulneráveis. A perda de habitats devido à inundação de zonas costeiras pode levar à extinção de espécies endêmicas.  

A elevação do nível do mar também ameaça a biodiversidade marinha ao alterar os ecossistemas de manguezais, recifes de coral e estuários, que são essenciais para muitas espécies aquáticas. A salinização de água doce e a erosão costeira são consequências diretas desse processo, que pode resultar em desequilíbrios ecológicos significativos exemplificando a menção ao mar virar sertão.  

Para mitigar esses efeitos, é essencial investir em propostas de adaptação que protejam a vida e a biodiversidade. A restauração de ecossistemas degradados, a implementação de práticas agrícolas sustentáveis e a preservação das áreas naturais são algumas das estratégias que podem ser adotadas. Além disso, políticas públicas voltadas para a educação ambiental e a conscientização sobre a importância da conservação são fundamentais para engajar a sociedade na luta contra a desertificação.  

Em suma, a transformação do sertão em deserto, o aumento do nível dos oceanos e a extinção de espécies são alertas claros sobre a urgência de agir contra as mudanças climáticas. Somente através de um esforço coletivo e consciente poderemos evitar que o sertão vire mar, e que o mar vire sertão. Que possamos ser a geração que extingue os desertos ao invés de cria-los.  

(*) Larissa Warnavin é geógrafa, mestra e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.  

(*) Nicole Geraldine de Paula Marques Witt é bióloga, mestra em Agronomia e doutoranda em Ecologia e Conservação. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter. 

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Autor: (*) Larissa Warnavin e Nicole Geraldine de Paula Marques Witt
Créditos do Fotógrafo: Agência de Notícias Santa Catarina


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