O samba além da avenida

Autor: Natália Schultz Jucoski - estagiária de jornalismo

Em clima de carnaval, o Papo Castiço recebeu dois convidados para celebrar o samba: a pesquisadora e doutora em samba Juliana Barbosa e o coreógrafo, dançarino e mestre-sala Felipe Barão Jr.

Felipe é mestre-sala da Enamorados do Samba, campeã do carnaval de Curitiba em 2020. O coreógrafo veio de Rondônia, mas acabou parando na capital paranaense. Começou como passista e, em 2019, recebeu o convite da escola para ser mestre-sala e segue por lá, com envolvimento crescente com a escola. “Ser passista não é só você ensaiar e sambar, você tem que ir no barracão ajudar. Ajudar a comunidade e mostrar a arte”, declara. Em época de pré-carnaval a sua rotina intensifica,  são ensaios de duas a três horas, de segunda a sexta. Mas, o samba está presente na sua vida em todos os meses do ano.

Um envolvimento que se repete com Juliana, que começou a trilhar sua história com o estilo musical desde pequena. Uma de suas memórias mais importante foi do samba enredo da Mangueira em 1988. “Tinha uma frase do samba que dizia ‘Livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela’, esse verso me ensinou muito mais do que os livros da época tinham para falar sobre a questão do negro”, relembra.

Outra memória marcante é de 1992, quando a Estácio de Sá, campeã naquele ano, trouxe como enredo os 70 anos da Semana de Arte Moderna, de tanto ouvir o disco aprendeu sobre o tema através do samba. Ao chegar na escola, a temática fazia parte do conteúdo programático, e muito do que sua professora falou, ela já tinha aprendido com o carnaval daquele ano. A partir dessa lembrança é possível perceber a relevância pedagógica nos enredos carnavalescos, e é nisso que se baseiam suas pesquisas.

O samba acabou virando trabalho e foi tema da sua tese de doutorado, na qual analisa como todas as linguagens (das fantasias, do enredo, do samba, entre outras) convergem no desfile na avenida, construindo uma narrativa que encanta o público. Além de pesquisar, ela também atua como propagadora do conhecimento. “Eu sistematizo e começo a fazer formação de professores e alunos, mostrando que sim, o samba enredo, o carnaval, tudo isso tem um conteúdo, uma riqueza muito grande, que deve ser explorada no ambiente escolar”, aponta.

Além do trabalho na área acadêmica, a professora é jurada do Estandarte de Ouro, premiação das escolas de samba cariocas que completou 50 anos e é conhecida como o “Óscar do Samba”. Para ela é uma honra muito grande estar entre grandes sambistas, como Haroldo Costa que aos seus 92 anos é uma história viva do samba.

A premiação é definida em uma votação coletiva, e para os jurados é sinônimo de imersão, pois acompanham as escolas desde quando elas definem os temas do samba enredo. Chegam ao Rio de Janeiro um dia antes do desfile e recebem livro com cerca de 500 páginas como todo o roteiro das escolas de samba. “A gente costuma dizer que assim, nosso principal critério é o arrepio. É aquilo que a escola traz e diferencia. A gente não pune o erro, a gente premia o acerto”, diz Juliana.

As histórias dos amantes do samba mostram que o carnaval não é apenas um evento. Ele faz parte da cultura brasileira e vai muito além de alguns dias de folia. Os enredos carnavalescos têm o poder de chamar a atenção tanto social quanto política. Na avenida, as escolas desfilam durante 70 minutos, mas o processo de preparação dura 11 meses de muito envolvimento e dedicação.

A cultura do samba e do carnaval foi abordada no Papo Castiço, transmitido pela Rádio Uninter todas as quartas-feiras às 10h, com apresentação de Sandy Lylia da Silva. O episódio completo pode ser acessado neste link.

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Autor: Natália Schultz Jucoski - estagiária de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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