O que temos a comemorar neste Dia da Mulher?
Hoje, 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, essa data pode servir não apenas para comemoração, mas também para refletir sobre o papel da mulher e seu lugar na sociedade. Segundo dados do Atlas da Violência, 4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil em 2015, o que corresponde a uma taxa de 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres. Mais de 60% destas mulheres eram negras.
Em 2016, a pesquisa ‘’Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil’’ demonstrou que 29% das mulheres brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência, sendo que apenas 11% delas procuraram a Delegacia da Mulher. Esses números são apenas alguns dos dados apontados no artigo científico desenvolvido pela professora-doutora Dinamara Machado em parceria com a professora Marcia Mocelin, da Escola Superior de Educação da Uninter, intitulado “Mulheres, ensino superior e direitos humanos: existe discurso além da obrigatoriedade legal?”
Dada a importância do tema, o artigo foi selecionado para ser apresentado durante o seminário internacional “Mujeres, artes plásticas, literatura y derechos humanos”, evento que acontece nos dias 8 e 9 de março na Universidade de Salamanca, na Espanha, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Serão apresentados trabalhos do mundo todo, e a participação das professoras da Uninter será realizada via teleconferência.
Além dos números, a pesquisa teve o âmbito de retratar a importância da educação no desenvolvimento das mulheres. Dinamara explica que o interesse pelo tema surgiu da convivência com as alunas, suas experiências de vida, quando começou a se questionar se seu papel como diretora estava tendo importância além do título representado. “Essa é a minha grande pergunta enquanto diretora e gestora. Estou cumprindo a lei e de fato fazendo ações com essas meninas, com essas mulheres, para que elas de fato tenham um empoderamento, reflitam sobre o que é ser uma mulher dentro de uma sociedade que ainda é excludente?”, diz a diretora.
De acordo com o estudo realizado pelas professoras, quando o Brasil fez a opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), acreditou-se que esses direitos seriam para a formação de uma sociedade mais justa. Mas, apesar de uma população composta por maioria de mulheres, as questões relacionadas a elas ainda são feitas de forma genérica, não aprofundando ao caso dos seus devidos direitos. Ainda de acordo com Dinamara, em torno de 23% de suas alunas acabam desistindo do curso superior.
O ponto chave do artigo consiste em mostrar que muito além desse estereótipo feminino imposto através dos anos, todos somos seres humanos em busca de igualdade e respeito. “Somente conseguimos fazer prevalecer os demais princípios se retomamos a máxima de ser definidos como humanos. É preocupante e um afronta aos direitos humanos quando nos deparamos com os discursos populistas de governantes, dos índices de violência contra as mulheres, das guerras travadas no Oriente Médio, de demagogos que assumem postos de liderança”, relatam as professoras.
Sobre a data, Dinamara fala da importância de comemorarmos o dia. “É necessário comemorar para que pelo menos nesse dia haja essa dialética, haja essa discussão, para recordar para as meninas mais novas quem somos nós, quem é essa mulher que foi para a batalha, que carrega essa carga muito grande”.
O artigo traz uma frase que sintetiza essa busca por respeito e igualdade: “Quiçá as mulheres possam ser compreendidas como SER HUMANO, que tenham seus direitos preservados, e a que a violência ora imputada à sua condição do feminino faça apenas parte da História”.
Autor: Barbara Carvalho – Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal