O que o termo “cringe” tem a ver com as competências do administrador?
Autor: Vanessa Estela Kotovicz Rolon*Sempre que há uma crítica é importante contextualizar. A polêmica entre a geração Z (nativos digitais nascidos entre a década de 1990 e o início da década de 2010) e a geração dos Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) que surgiu após a geração mais jovem usar o termo “cringe” para rotular a geração anterior está diretamente relacionada à necessidade que a geração mais nova tem de se auto afirmar.
Esse fenômeno de negação e autoafirmação é considerado cíclico entre gerações, sendo que a geração mais nova tem a necessidade de criar suas identidades, valores e, assim, por imaturidade, sente a necessidade de destruir os valores e a identidade da geração anterior. Neste caso, o agravante é de que os mais novos têm um poderoso instrumento de massificação à sua disposição: a internet.
Essa situação específica revelou uma geração que se julga superior, pois enquadra todos em um termo criado por eles mesmos. Então me pergunto: em relação ao uso de produtos de luxo, viagens para locais descolados, ou mesmo o hábito da alimentação vegana, esses jovens acham que tudo caiu do céu, como mágica? Será que não têm a real dimensão do esforço, trabalho e pesquisas para que produtos com tecnologia embarcada fossem ofertados no mercado? E o que observo é que grande parte desta geração Z vive com os pais, estuda e não trabalha, mas usufrui do trabalho e das tecnologias desenvolvidas pelas gerações anteriores. No contexto de sua imaturidade, aponta o dedo quando deveria estar aprendendo que análises devem ser feitas com base em um contexto histórico.
Então proponho fazer uma analogia entre os jovens massificados pela internet e os jovens administradores que estão vindo. Se para muitos usuários da internet, especialmente das redes sociais, “cringe” refere-se a algo que ficou “brega” (por exemplo, usar sapatilhas ou brincos de argola), será que os profissionais de Administração têm a mesma visão? Porque o profissional que adquire competências, habilidades e valores ao longo da sua formação com certeza deve estar preparado para lidar com situações e avaliar contextos, bem como já entendeu que não se julga ou classifica pessoas pelo que elas usam.
Sendo assim, administradores compreendem uma evolução histórica, afinal desenvolvem a visão sistêmica e sabem que os processos não são acabados e sim melhorados continuamente. Quem atua nessa área é preparado para analisar ciclo de vida e avaliar, por exemplo, quando produtos estão na fase de declínio. Portanto, desenvolvem estratégias assertivas para o perfil do público que os adota, revertendo produtos em lucro para uma organização. Obviamente acabam investindo em inovação com produtos que estão sendo introduzidos no mercado, até aqueles que estão em baixa. Profissionais qualificados desenvolvem soft skills, têm a sensibilidade de sentir gratidão, reconhecem e valorizam aqueles que continuam e continuarão construindo a nossa história, acreditando na humanidade.
Finalizo a reflexão sobre a palavrinha tão comentada nas redes sociais lembrando que muitos dos gestores atuais são os tais “cringes”. Me parece que os que criaram o termo não estão preparados para enfrentar esse mundo de incertezas, volatilidade, repleto de desentendimentos que é a vida adulta. No entanto, temos pessoas desta geração que estudam, se preparam, e que lutarão para um futuro próspero, compreensivo e respeitoso. Administradores: essa é a missão de vocês!
* Vanessa Estela Kotovicz Rolon é coordenadora do curso de Administração nas modalidades EAD, presencial, semipresencial e telepresencial da Uninter.
Autor: Vanessa Estela Kotovicz Rolon*Créditos do Fotógrafo: Reprodução internet