O que nos torna homem ou mulher? Para entender a construção de gênero
Pense nestes objetos: bola, ferramenta, carrinho. Qual a imagem que lhe vem à cabeça, de uma figura masculina ou feminina? E boneca, casinha ou utensílios domésticos. É mais fácil associar essas imagens a de uma menina ou de um menino? A noção de gênero é um assunto que vem sendo amplamente discutido nos últimos anos, principalmente devido à grande especulação nas mídias sociais e veículos de comunicação.
O tema chamou a atenção do professor-doutor em Educação Rui Valese, que o abordou na Jornada Acadêmica da Uninter, realizada no início deste mês no campus Garcez da instituição, em Curitiba. A oficina “Construindo o conceito de gênero” gerou bastante debate. Segundo Rui Valese, a atividade se propôs a pensar em como se dá o processo de construção de gênero na sociedade.
O conceito de gênero surgiu dentro da antropologia pela primeira vez em 1975, utilizado pela antropóloga americana Gayle Rubin. Os estudos sobre gênero no Brasil começaram a se distinguir junto com os de outros países, em meados da década de 1960 na Europa e nos Estados Unidos. Esses estudos começaram a desconstruir a noção de gênero/sexo, do chamado sexo biológico, da identidade de gênero e outros construídos ao longo de muitos anos.
De acordo com o professor, o interesse em coordenar a oficina surgiu depois que discussões sobre o Plano Nacional de Educação e da Base Nacional Comum Curricular vieram a público, após as dúvidas que foram criadas ao redor do tema e principalmente para poder tratar de forma acadêmica e científica a questão da construção da ideia de gênero. “Tais discussões, infelizmente, foram capitaneados por movimentos reacionários e conservadores, seguidos por pessoas que sequer compreendem do que o conceito gênero trata (principalmente nas redes sociais) ”, diz Valese.
A oficina foi desenvolvida de maneira que participantes puderam interagir ativamente das discussões, expondo suas ideias e opiniões. Desenvolvida na perspectiva de metodologias ativas, iniciaram com uma atividade prática, em que foram colocadas imagens no chão, e o professor pediu para associarem aos símbolos de masculino e feminino. Para finalizar, realizaram um momento científico de elaboração de conceitos.
Porque discutir o tema
Afinal, o que é gênero? De acordo com o antropólogo Miguel Vale de Almeida, masculinidades e feminilidades “não são mais do que metáforas de poder e de capacidade de ação”. Nesse sentido, o que constrói a figura da mulher e do homem é a sociedade em que o indivíduo vive. Isso constrói o que é masculino e o que é feminino, onde ambos podem ou não receber o mesmo espaço.
Fagner Tito Ferreira de Deus, funcionário da Uninter, participou da oficina e fala um pouco sobre a importância do tema que foi posto em debate. “O tema, além de atual, é algo que deve ser discutido em várias vertentes. Seja na escola, na empresa. Ou seja, em sociedade é que há o diálogo e ele deve ser mediado e incentivado para construir meios para todos os seres viverem em harmonia”. Fagner relata ainda que para ele a discussão sobre essa construção de gênero é fundamental. “A construção de gênero é algo que me interessa. Sou gay, casado e tive algumas experiências na vida que me levaram a hoje me manifestar”.
No meio acadêmico, a conversa sobre a construção do gênero é necessária. Para o professor Rui Valese, as discussões de gênero nos espaços escolares são mais do que urgentes, para poder tratarem mais ativamente sobre temas como violência e ensinar um maior respeito as diferenças. A oficina se propôs a tentar esclarecer e refletir sobre a questão. “Para isso, os professores precisam estar preparados para formar quem vai formar nossas crianças para uma outra cultura de relação mulher/homem, sem desconsiderar, inclusive, as questões relativas à diversidade de gênero e sexo”, explica Valese.
Autor: Barbara Carvalho – Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Barbara Carvalho – Estagiária de Jornalismo