O que as empresas devem fazer com os funcionários após a pandemia?

Autor: Elton Ivan Schneider*

Grandes transformações normalmente pedem grandes fatos geradores. É claro que não esperávamos por um evento tão catastrófico como uma pandemia para ser o fato gerador da mudança, nem mesmo que o custo em termos de vidas fosse tão grande.

Acredita-se que a grande mudança virá do comportamento das pessoas, mais preocupadas com a qualidade de vida, com cidades mais humanas e menos poluídas, com pessoas trabalhando mais próximas de suas famílias, dentro de suas próprias casas, para empresas em qualquer parte do mundo. E, principalmente, pessoas sendo contratadas pelo seu talento e por suas competências profissionais.

Muito se fala sobre um novo tipo de profissional a ser buscado pelas organizações, que domine tecnologias, que seja disciplinado, que saiba gerenciar equipes remotamente, que seja capaz de ensinar e aprender ao longo da vida. Acredita-se que não só as empresas terão dificuldades para encontrar estes profissionais, como terão dificuldades para desenvolvê-los e para mantê-los em seus empregos nas organizações pós-pandemia.

Neste novo contexto de profissões e empresas, atividades de treinamento e desenvolvimento, liderança e coaching, motivação, negociação e gerenciamento de conflitos serão ressaltadas e valorizadas. Se o profissional desejado ainda não foi formado em função de uma situação emergencial, está mais do que na hora de as empresas e seus departamentos de desenvolvimento humano criarem seus percursos formativos para a nova realidade pós-pandemia. Assistentes tradicionais necessitarão de novas habilidades que os tornem gerentes, coordenadores ou supervisores de equipes remotas.

Não serão apenas os processos a serem automatizados, o trabalho será automatizado, as empresas serão um misto de homens e mulheres, tecnologias digitais e processos automatizados, atendendo a clientes virtuais. Para que consigam competir neste cenário, as empresas necessitarão de estratégias de digitalização dos negócios, planos de desenvolvimento de novas habilidades, principalmente de automação, marketing digital, comunicação virtual e domínio de tecnologias para o atendimento de clientes mais conscientes do impacto social, ambiental e ecológico dos negócios.

O cliente passará a ser bombardeado por um conjunto de ofertas virtuais de produtos e serviços, portanto não se trata apenas de estabelecer uma vantagem competitiva, mas de defender o atual ou um novo posicionamento de mercado, com clientes mais conscientes e reflexivos sobre suas práticas de consumo.

A busca por profissionais bem-educados, com boa formação, fluência digital e domínio de novos conhecimentos sobre tecnologia já era uma prática de mercado. Daqui para frente, em um ambiente de escassez de talentos, as empresas vão buscar pessoas fora de suas regiões de atuação. O investimento em processos de recrutamento e seleção abandona as tradicionais receitas de currículos e entrevistas de perfis profissionais por áudio e vídeo, ou seja, procuram-se candidatos não convencionais em processos seletivos não convencionais.

Se você trabalha na área de recursos humanos ou tem uma empresa e está preocupado com isso, atente para os seguintes aspectos:

  • Para empresas que gerenciam ou buscam profissionais de Engenharia, Ciências, Matemática e Estatística: estabeleça a promoção de uma cultura de aprendizagem ao longo da vida; agilidade, inovação, renovação, reciclagem de conhecimentos já são determinantes da manutenção da empregabilidade;
  • Para empresas que gerenciam ou buscam profissionais da área de Tecnologia: criação de comunidades de práticas virtuais, plataformas que suportem trabalho remoto, trabalho temporário, trabalho por projetos, criação de projetos por área de interesse;
  • Para profissionais que ocupam cargos de média e alta gerência em organizações: treinamento e desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, relacionamento com os clientes, com as equipes de vendas, com as equipes de teletrabalho, desenvolvimento de altas habilidades em matemática, estatística e ciência de dados, para a análise e tomada de decisão com base em números;
  • Para profissionais especializados (contadores, secretários executivos, médicos do trabalho, psicólogos): treinamento e desenvolvimento de habilidades com uso da tecnologia, criação de empresas para a prestação de serviços virtuais para o atendimento a várias empresas ou clientes, gestão de fluxo de caixa e investimentos em função na nova realidade profissional;
  • Para profissionais com pouca especialização e baixo nível educacional: a criação de planos de desenvolvimento humano para a nova realidade funcional, para as novas profissões e funções baseadas no uso de tecnologias, a nova realidade pedirá funcionários especializados, independentes e aptos ao trabalho remoto;
  • Para profissionais do comércio: oficinas mecânicas, salões de beleza, restaurantes, hotéis, entre outros, ainda dependerão de atendimento altamente especializado de seus funcionários, porém serão impactados por aplicativos, atendimentos online, integração entre diversas plataformas de serviços. O atendimento presencial no espaço comercial deverá ser único, baseado em experiências, em profissionais altamente capacitados para vender, afinal de contas, vontade de comprar também passa;
  • Para construtoras, empresas de logística e outras empresas onde o trabalho físico impera: preparar a força de trabalho para o uso de novas tecnologias, treinar e recrutar pessoas com a capacidade de instalar, manter e usar novos recursos e sistemas de tecnologia; o agronegócio é um bom exemplo de atividades onde máquinas com GPS, computadores de bordo, integração entre plataformas de informação, tornam o campo mais produtivo e seus trabalhadores mais especializados.

Se é possível tirar algo de bom da pandemia que estamos vivendo, talvez seja o fato de que, com relativa facilidade, fomos capazes de realizar trabalho remoto, utilizar a tecnologia para vender, comprar, ensinar, aprender, muito além de nos relacionarmos nas redes sociais.

Percebemos que estar com a família é importante, que se preocupar com o outro e seu bem estar é possível, que mesmo estando distante fisicamente das pessoas é possível estar junto,  que precisamos menos de escritórios luxuosos para trabalhar e de mais espaço para criar e inovar, que a produtividade é derivada do bem-estar, do estar bem consigo próprio e com os outros, mesmo que remotamente, que o crescimento precisa estar em equilíbrio com a sociedade, com o outro e com nós mesmos.

* Elton Ivan Schneider é diretor da Escola Superior de Negócios da Uninter.

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Autor: Elton Ivan Schneider*
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Fauxels/Pexels


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