O que a ciência diz sobre o Nascimento de Jesus? 

Autor: *Daniel Guimarães Tedesco 

A história é deliciosamente irônica: os primeiros que encontraram e reconheceram Jesus foram magos-astrônomos pagãos persas (basicamente a NASA da época). Enquanto os líderes religiosos judeus consultavam suas escrituras e tradições em Jerusalém, os magos do Oriente seguiam seus cálculos astronômicos rumo a Belém. O que poucos percebem é que esta narrativa bíblica apresenta uma harmonia entre investigação científica e experiências espirituais. Esses magos eram cientistas-sacerdotes que não viam contradição entre as suas observações astronômicas e a busca por significado transcendente. Para eles, estudar as estrelas e buscar revelação divina eram partes do mesmo empreendimento. 

A suposta guerra entre ciência e religião parece ser, em grande parte, uma fabricação histórica que ignora séculos de integração entre investigação científica e espiritualidade, como evidenciado por figuras como Kepler, que estudou a “estrela de Belém” com o mesmo rigor científico aplicado às suas leis do movimento planetário, Newton, que dedicou considerável tempo a estudos teológicos, e o padre Georges Lemaître, que propôs a teoria do Big Bang. Na verdade, o avanço da ciência moderna tem revelado uma realidade cada vez mais misteriosa e religiosa, seja por meio da mecânica quântica que coloca interrogações na visão da natureza da realidade, da cosmologia moderna que apresenta um universo surpreendentemente fino-ajustado, ou da neurociência que, ao investigar o funcionamento do cérebro, se depara com questões sobre consciência e livre-arbítrio. 

Assim como as leis da física são universais, manifestando-se igualmente em todo o universo, é possível que a verdade espiritual também se manifeste universalmente através de diferentes culturas e métodos de busca: os magos-astrônomos da Pérsia antiga combinavam observações celestes com interpretações espirituais, Sócrates alcançou a ideia de um princípio divino superior através da razão filosófica, desenvolvendo o conceito do “daimonion” (uma voz interior divina que o guiava, muito diferente dos deuses antropomórficos gregos), e as experiências místicas relatadas por diferentes tradições religiosas – do budismo ao sufismo islâmico e cristianismo – apresentam descrições notavelmente similares de suas experiências com o transcendente, sugerindo que diferentes caminhos culturais podem levar a compreensões convergentes sobre a realidade espiritual. 

O verdadeiro conflito não reside entre ciência e religião, mas entre uma mentalidade dogmática que insiste em compartimentalizar o conhecimento e uma perspectiva mais aberta que reconhece a interconexão da realidade – como demonstrado pelos magos, que não precisaram escolher entre rigor astronômico e busca espiritual, pois compreendiam que diferentes formas de conhecimento podem se complementar na investigação da verdade; assim, nosso desafio atual não seja escolher entre telescópio e Bíblia, entre laboratório e templo, mas aprender, como os magos há dois milênios, a integrar diferentes formas de compreensão, reconhecendo que o livro da natureza e o livro da revelação podem estar narrando diferentes capítulos da mesma história. 

Mas, nisso tudo, o que ainda me intriga é o fato de Jesus ter sido adorado logo após o seu nascimento por pagãos, e não pelos líderes religiosos da época. Curiosamente, quando a ciência encontrou Jesus pela primeira vez, ela não estava nos templos de Jerusalém, mas nos observatórios da Pérsia pagã.

 

*Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ, Professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias no Centro Universitário Internacional UNINTER. 

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