“O preconceito só acaba quando a educação entra”

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho foi o foco do curso Recrutamento Inclusivo para Profissionais de RH. Cerca de 20 profissionais da área de recursos humanos e inclusão, de 20 empresas diferentes, realizaram a capacitação promovida pelo IBGPEX, Instituto de responsabilidade socioambiental da Uninter, no dia 29 de outubro de 2024.  

Com abertura realizada pela gerente de projetos sociais do IBGPEX, Rosemary Suzuki, a programação foi conduzida pela assistente social do Instituto, Fernanda Milane. Os profissionais passaram todo o dia imersos na temática, das 9h às 17h, na sede do IBGPEX, localizada no polo de apoio presencial (PAP) Carlos Gomes, em Curitiba (PR).  

Fernanda conta que ao planejar a capacitação, buscava criar um espaço onde pudessem construir um futuro mais justo e equitativo. A assistente social acredita que, ao investir em um recrutamento inclusivo, as empresas fazem mais do que cumprir uma cota, “estão investindo em um futuro mais humano e justo para todos”.  

“O curso cumpriu seu objetivo de desmistificar mitos e fornecer ferramentas práticas para que os profissionais de RH pudessem identificar e eliminar as barreiras à inclusão de pessoas com deficiência, transformando assim o mercado de trabalho em um lugar mais justo e equitativo. Este era o sonho que nos motivou a criar este curso: formar profissionais capazes de olhar além das vagas e enxergar as pessoas por trás delas, especialmente aquelas com deficiência”, declara Fernanda.  

O treinamento foi patrocinado pelo polo Carlos Gomes. De acordo com o gerente de operações, Zeneido Leal, devido à própria cultura do grupo educacional, a equipe da unidade entende que a responsabilidade social existe para além da necessidade mercadológica.  

“Quando o IBGPEX veio para cá, nos aproximamos por causa do espaço físico, mas nos trouxe grandes ideias e demonstrando todas essas ações. Isso fomenta uma necessidade e a vontade de estarmos apoiando. Todo mundo tem alguma habilidade que pode ser aproveitada. Às vezes, as pessoas com deficiência são vistas como uma dificuldade. E não são, elas podem ser uma grande oportunidade para a empresa, desde que muito bem conduzido o processo de seleção, que é o que o Instituto mostrou hoje”, afirma Zeneido.  

A gerente de projetos sociais do IBGPEX, Rosemary Suzuki, lembra que a Uninter é pioneira na inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior, com mais de cinco mil estudantes ativos, que contam com todos os materiais adaptados e o suporte personalizado de um departamento exclusivo, o Serviço de Inclusão para Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Sianee). 

Por isso, o Instituto atua de forma ativa também para promover a inclusão entre os colaboradores do grupo educacional, através do recrutamento de pessoas com deficiência e por meio do Projeto Despertar, que capacita estas pessoas para o mercado de trabalho. Os 25 colaboradores do Despertar, inclusive, são acolhidos no polo Carlos Gomes. A gerente garante que existe uma conscientização e uma educação por parte dos profissionais da unidade para com a turma.  

Além disso, Rosemary destaca que o treinamento de recrutadores é uma oportunidade de apresentar para as empresas a formação que é realizada com os estudantes, que serão incorporados no mercado de trabalho e precisam ter empresas preparadas para recebê-los.  

“São empresas que têm um alcance nacional e internacional, muitas multinacionais, então a gente entende que, com isso, estamos, por um lado, trazendo essas empresas para entenderem a excelência que o polo Carlos Gomes realiza, e oportunizando aos alunos também a possibilida de, quem sabe, ocupar futuras vagas. Acreditamos que o preconceito só acaba quando a educação entra”, salienta a gerente de projetos sociais.  

Um olhar mais atento 

Da área jurídica à acessibilidade, a capacitação passou por temas como comunicação, adaptação, processo seletivo, técnicas e condução de entrevista, acessibilidade e inclusão. Todos voltados para um ambiente de trabalho mais acolhedor. 

O administrador e advogado Carlos Eduardo Garcia trabalha há 18 anos no Grupo Uninter e deu início ao curso com a palestra sobre Direitos e deveres: A Lei da Inclusão no Trabalho para Pessoa com Deficiência. De acordo com dados divulgados pelo IBGE e apresentados pelo profissional, em 2022, 29% de PcDs estavam empregadas e 55% estavam na informalidade. Durante a fala, o profissional abordou a Lei Brasileira de Inclusão e a Lei de Cotas, assim como a fiscalização e os mecanismos de proteção existentes. 

“O próprio poder público hoje está mais incisivo do que anteriormente na fiscalização e na cobrança, mas vejo que as empresas ainda precisam se comprometer mais para fazer a inclusão, isso é primordial. É importante se engajar e fazer a diferença. Eu acho que o papel do profissional de RH é de suma importância. Ele é a porta de entrada da pessoa com deficiência. Então, o que eu posso dizer é que tenham bastante engajamento e força de vontade, porque dá para fazer acontecer”, garante o advogado.  

A assistente social Fernanda e a terapeuta educacional Lilian Wellen, especializada em neurologia e integração sensorial, passaram a tarde com os participantes, que tiveram a oportunidade de realizar uma dinâmica de simulação de entrevistas inclusivas, realizando o processo entre si e avaliando o teor das perguntas feitas. Além disso, trocaram ideias, sanaram dúvidas e compartilharam experiências do dia a dia. 

Fernanda conta que, ao receber as avaliações dos participantes, no final do curso, sentiu “uma enorme alegria e gratidão”. “Ver que o curso despertou uma nova consciência sobre a importância da inclusão me encheu de esperança. Muitos me contaram sobre a vontade de transformar suas empresas em ambientes mais acolhedores e inclusivos”, conta a assistente social. 

Uma quebra de paradigmas  

O analista de recursos humanos do Grupo Positivo, Paulo Pedroso, faz parte de um comitê de inclusão da instituição e é uma pessoa dentro do espectro autista. Para além do conhecimento, o profissional conta que pôde contribuir com o lugar de fala, pois muitos dos temas trabalhados são coisas que fazem parte do dia a dia dele.  

“Houve realmente uma quebra de paradigmas, eu aprendi muita coisa […] Realmente foi didática, foi sensacional a forma como foi conduzida, muito leve. Eu me senti seguro para compartilhar e também ouvir. E percebi que todo mundo se sentiu seguro para falar abertamente das nossas dificuldades, assim como cases de sucesso. Tive muitos insights que tenho certeza que vou levar para a gestão em relação ao treinamento e ao processo de inclusão”, destaca Paulo.  

As questões relacionadas ao transtorno do espectro autista (TEA) foi um dos temas tratados que mais chamou a atenção da analista de Responsabilidade Social do Instituto Robert Bosch, Marineide Maia. Segundo a analista, há um alto índice de jovens que chegam com laudo e, como faz parte do processo seletivo, achou o conteúdo “bem esclarecedor”. Marineide acrescenta que, ao ouvir Paulo, acendeu o conhecimento para o que precisa ser repensado e adaptado.  

“Com essa demanda que está vindo agora, acho que é bem importante a gente sempre se atualizar. Foi bem bacana, trouxe bastante experiência, de forma prática, com bastante exemplos e trocas. A gente ia conversando e acho que isso é muito especial, porque tira alguns pensamentos fixos que já temos sobre alguma coisas, repensamos as estratégias. Foi uma experiência bem legal. Valeu muito a pena”, afirma a profissional. 

A analista de gente da Herbarium, Thalia Franco, está inserida em uma das frentes de diversidade e inclusão da empresa e entende que “quanto mais informação tiver, melhor para trabalhar com esse público”. Thalia comenta que o conhecimento sobre as diversas adaptações foi uma das coisas que mais agregou para ela durante o curso.  

“As profissionais [são] muito bem instruídas. Foi bem legal também para troca de networking. O conteúdo deu uma clareada nas informações, até me fez refletir em alguns pontos que posso adaptar, questões que parecem simples para nós, pessoas sem deficiência, mas para eles faz tanta diferença. É esse olhar que precisamos exercitar. Achei muito ricas, muito interessantes as dinâmicas. São dinâmicas que dá para a gente adaptar em um ambiente corporativo também para multiplicar esse conhecimento para os gestores”, conclui a analista. 

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Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen


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