O poeta que enxerga com o coração
Autor: Evandro Tosin - jornalistaLeandro Santos de Souza nasceu no ano de 1983, em Capão da Canoa, município do litoral do Rio Grande do Sul. Aquele era um período de desenvolvimento tecnológico, quando a internet começava a se consolidar como rede de comunicação de alcance global. Até então ele não sabia, mas seriam essas tecnologias digitais que mais tarde o trariam uma nova visão para o mundo.
Na década de 1980, o mundo digital estava em expansão, permitindo o acesso a uma infinidade de informações. Ao mesmo tempo, Leandro vivia uma experiência distinta. Com apenas cinco anos, sua visão começou a diminuir progressivamente, e ele foi diagnosticado com glaucoma – doença que provoca o aumento da pressão intraocular e que pode levar à cegueira. Aos 10 anos, apesar do tratamento, a doença se agravou, e o mundo se tornou escuro.
As dificuldades trazidas pela cegueira o fizeram ficar fora da escola. No entanto, o significado de esmorecer não existe no dicionário deste caponense.
Aos 17 anos, em 2000, Leandro iniciou o processo de alfabetização em braile (sistema de escrita tátil). Esse fato alterou a sua vida e o fez descobrir um novo mundo. O acesso à educação transformou a sua realidade, e com isso, os seus professores lhe apresentaram os versos, estrofes e rimas.
Nos primeiros livros a que teve acesso, ele conheceu a poesia. Então, passou a percorrer a linguagem subjetiva e a descobrir as emoções por meio das palavras. “Me despertou a paixão por este gênero literário, bem como a vontade de escrever meus próprios versos”, conta.
Em 1995, quando Leandro aprendia a conviver com a nova condição, era lançado o sistema operacional Windows. Assim, as tecnologias digitais que ainda engatinhavam durante a sua infância, passariam a lhe abrir as janelas do mundo. Hoje, ele utiliza o leitor de telas NVDA (NonVisual Desktop Access) para acessar as ferramentas do Windows – um leitor de tela livre, aberto e portátil, tais como editores de texto, navegadores de internet e programas de e-mails. Assim, ele pode trabalhar, estudar e escrever os poemas com plena acessibilidade.
“A tecnologia é fundamental no processo de escrita, pois utilizando o notebook ou o celular, consigo registrar minhas ideias mais rápido do que se estivesse escrevendo em braile, facilitando muito o processo de criação dos poemas”, relata.
Em 2002, nasceu o seu primeiro poema chamado “Madrugada”. Quatro anos mais tarde, lançava “Retrato Imaginário”, seu primeiro livro, com 53 poemas autorais. Entre os poetas preferidos ele cita Olavo Bilac, Cecília Meireles e Mário Quintana, que também é gaúcho, referências que contribuem com o processo criativo pelas madrugadas.
“A inspiração é algo incrível! Arrisco a dizer que é algo inexplicável. Às vezes, sou acordado nas madrugadas para escrever. Quando isso acontece, não posso deixar para outro dia, tenho que escrever naquele momento para não perder o poema, aquela ideia que está na mente”, relata.
Um amor que inspira novas poesias e mudança de ares
E não foi apenas por meio da poesia que a tecnologia transformou a sua vida. Em julho de 2008, foi pela internet que conheceu sua esposa, a maringaense Janaina, que também é pessoa com deficiência visual.
No mesmo ano, Leandro lançou o CD “Imaginário Pôr do Sol”, com 15 faixas. A obra musical tinha doze poemas inéditos, dois poemas do “Retrato Imaginário” – o seu primeiro livro – e mais uma faixa de apresentação. Tanto os poemas, quanto a faixa de apresentação foram gravados em sua voz. “Um trabalho caseiro, mas que, apesar da simplicidade, teve boa aceitação na época”, lembra.
Em 2009, Leandro trocou seu estado natal pela Paraná, para ficar perto de Janaina. Lá se vão já 15 anos de casamento e de vários poemas dedicados à companheira.
Em fevereiro de 2018, iniciou o curso de Licenciatura em Letras no polo da Uninter, em Maringá, concluindo em 2022. Atualmente, o egresso é funcionário público da prefeitura de Maringá na Agência do Trabalhador (SINE), na função de agente administrativo.
Novo livro de poesias “Os versos que o Pai me deu”
Em maio de 2023, Leandro lançou o seu segundo livro intitulado como “Os versos que o Pai me deu”. A obra contém mais de 70 poemas, escritos entre 2010 e 2022. O livro também está disponível em formato digital. Os temas são diversos, passando pelo romantismo, cristianismo, sociedade, natureza e homenagens às pessoas que fazem parte de sua jornada literária.
“Um projeto muito especial, pois com o auxílio da tecnologia e a parceria da editora acompanhei de perto cada processo de formação deste livro. É um período de amadurecimento como poeta, como pessoa e são resultados de experiências vividas durante a caminhada cristã”, afirma.
O poeta relata que gosta de falar sobre diferentes temáticas. “Tenho poema sobre a pandemia, homenagem à cidade de Maringá e poemas românticos escritos para minha esposa. Costumo dizer que os temas são diversos e para todos os públicos”, afirma.
Leandro é exemplo para que nenhum obstáculo nos faça parar. Ele já foi para mais um desafio que pode agregar na sua carreira pública, é estudante do curso de pós-graduação em Gestão Pública da Uninter. A área amplia seus conhecimentos no serviço público e a possibilidade de fazer novos concursos públicos. Além disto, o poeta continua escrevendo versos para livros inéditos que estão por vir.
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Autor: Evandro Tosin - jornalistaEdição: Larissa Drabeski
O poeta Leandro Santos de Souza é nosso amigo íntimo, para quem ainda não sabe , ele também criou e administra voluntariamente a web rádio maior amor , sem fins lucrativos em horário noturno e finais de semana, e conta com uma grande audiência a nível de Brasil , dado ao seu cuidado com a plástica da emissora